O Balcão Agrícola do Brasil (BAB), novo ambiente organizado para negociações de derivativos de soja e milho, deverá começar a operar ainda em 2024 e poderá movimentar contratos equivalentes a 24 milhões de toneladas quando chegar no terceiro ano completo de funcionamento, projetou seu diretor-presidente, Eric Cardoni, ao anunciar o empreendimento.
O volume estimado, que representa quase metade da safra de soja prevista para 2024/25 em Mato Grosso, deve ser crescente no BAB, que prevê negócios de 4,8 milhões de toneladas já no ano que vem.
Recém-aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BAB tem como principal investidor a empresa de logística Rumo e foi idealizado para permitir que as operações de hedge reflitam melhor os preços do mercado brasileiro.
O novo instrumento para apoiar as negociações de commodities vem ainda em momento em que a safra de soja do Brasil, maior produtor e exportador global, tem crescido mais do que a dos Estados Unidos, onde está a bolsa de Chicago, referência global para cotações.
Esse é um dos fatores que acabam elevando riscos para negociantes do Brasil, já que muitas vezes os fundamentos do mercado local diferem do que acontece nos EUA, onde está o “benchmark”, notou Cardoni, ex-diretor de trading de grãos e oleaginosas da multinacional Louis Dreyfus Company, citando os desafios da precificação.
Já no ambiente do BAB, que permitirá entregas físicas e negociações bilaterais entre comprador e vendedor, a ideia é que os participantes fiquem livres do chamado “risco de basis”, que é o diferencial (prêmio ou desconto) de preços do mercado local em relação ao contrato futuro da bolsa de Chicago.
“A gente precisava de um instrumento que refletisse a realidade do campo (no país). Hoje o agro brasileiro tem maturidade para isso”, afirmou Cardoni a jornalistas, ao comentar os crescentes desafios de precificação.
Ainda que as negociações de soja e milho no mercado físico direcionadas para exportação devam continuar exigindo que o negociador ainda “trave” os diferenciais ante Chicago, para aquele participante que atua somente no mercado interno pode ser mais interessante usar o ambiente do BAB, que oferece um preço livre do “risco de basis” na realização do hedge.
Segundo o executivo, o BAB deve minimizar riscos financeiros, que podem ser milionários ao envolver apenas uma carga. Assim, utilizando a experiência de quem trabalhou no setor nos EUA e está no Brasil há cerca de 15 anos, Cardoni elaborou o projeto para “tropicalizar” o hedge.
“A produção de soja do Brasil cresceu 400% desde 2000, mas os instrumentos de hedge continuam os mesmos”, afirmou.
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Ele destacou que o BAB terá pontos de entrega física de mercadorias em Rondonópolis (MT) e Rio Verde (GO), e será utilizado o real, e não o dólar, como a moeda das transações, o que também diminui o risco cambial que os negociantes nesse setor enfrentam no dia a dia.
Para se ter uma ideia do “risco de basis”, o impacto financeiro de uma variação de 600 centavos de dólar por bushel nos diferenciais ante a bolsa de Chicago pode gerar um prejuízo de US$ 14 milhões para uma trading que negociou uma carga em volume suficiente para encher apenas um navio, exemplificou o executivo.
Ele lembrou que tais riscos acontecem porque, além da diferença no período de safras do Brasil e Estados Unidos, fatores como o custo de transporte e armazenamento e o câmbio podem impactar, sem falar de problemas climáticos. Políticas públicas como a de biodiesel, que criam uma demanda local, também interferem nos diferenciais.
Apoio da Rumo
O BAB recebeu aporte de US$ 1 milhão da Rumo e outros US$ 700 mil de investidores menores, e pelo modelo de negócio avalia como “interessante” a manutenção exclusiva dos terminais da empresa de logística do grupo Cosan como pontos de entrega das mercadorias negociadas no balcão, segundo Cardoni.
A entrega física “torna o hedge mais confiável porque a soja comprada no Mato Grosso terá um derivativo que representa o preço da soja no Mato Grosso. O risco desses dois preços descasarem é muito baixo”, afirmou o executivo, acrescentando que a companhia já negocia a ampliação para um terceiro ponto de entrega, no norte do Paraná.
Ele revelou ainda que a companhia está em conversas para ter pontos de entregas físicas de farelo de soja e óleo de soja, quando esses produtos eventualmente começarem a ser negociados no BAB — mas, neste caso, a entrega seria nas fábricas.
Cardoni revelou ainda que está em processo a autorização de 15 empresas para operar no BAB, a maioria tradings, ainda que este ambiente também esteja aberto a especuladores e fundos, que geralmente ajudam a dar liquidez aos mercados.
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Embora o BAB contemple entregas físicas, o balcão permitirá que os participantes encerrem suas posições ou passem para outros agentes as obrigações de comprar ou vender o produto. Cardoni estima que é “razoável” imaginar que apenas cerca 10% dos contratos transacionados acabem culminando com entregas físicas.
Os emolumentos do BAB serão de 1 real por tonelada negociada, sendo metade paga pelo comprador e a outra parte pelo agente vendedor.
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