O Bitcoin (BTC) atingiu o marco histórico de US$ 100 mil pela primeira vez em 2024, impulsionado por uma série de fatores técnicos, políticos e econômicos. Um deles foi a entrada de capital via ETFs (fundos negociados em bolsa) de criptomoedas. Esses produtos facilitaram o acesso de investidores tradicionais ao mercado de ativos digitais, até então dominado por exchanges, ampliando a demanda por criptos no Brasil e no mundo todo.
Neste guia, o InvestNews explica o que são os ETFs de criptomoedas, como funcionam, quais os tipos disponíveis no mercado, como investir com cuidado e quais as vantagens e riscos. Além disso, revela as regras de tributação desses produtos e as taxas cobradas pelas gestoras e explica se vale mais a pena investir em criptoativos por meio desses veículos de investimento ou se é preferível comprar criptomoedas nas famosas corretoras de criptoativos.
O que são ETFs de criptomoedas?
ETF, sigla em inglês para Exchange Traded Fund, é um fundo negociado em bolsa de valores. É um produto que tem tanto características de uma ação, já que pode ser negociado na B3, como de um fundo tradicional, pois reúne o capital de diversos investidores, em uma espécie de condomínio. Além disso, ele segue um índice — indicador de desempenho que acompanha um grupo de investimentos pré-selecionados. Por isso, também é chamado de fundo de índice.
Um ETF de criptomoedas tem a mesma regra, com a diferença de seguir algum índice específico do setor cripto. Um exemplo é o Nasdaq Crypto Index (NCI), desenvolvido pela Nasdaq em colaboração com a gestora brasileira de criptomoedas Hashdex. O indicador tem uma cesta de criptos, como Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Solana (SOL) e Ripple (XRP).
Outro exemplo de índice é o CME CF Bitcoin Reference Rate (BRR), um índice calculado com base nos dados de negociação de várias exchanges globais de criptomoedas, como Coinbase, Kraken e Gemini. Ele foi desenvolvido pelo CME Group, principal bolsa de derivativos do mundo, e pela plataforma de negociação de moedas digitais Crypto Facilities, uma subsidiária da Kraken.
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Quais os tipos de ETFs de criptomoedas?
Há dois principais tipos de ETFs de criptomoedas: à vista e de futuros. Os ETFs à vista, também chamados de ETFs spot, rastreiam diretamente o preço do ativo digital. Os produtos de futuros, por outro lado, acompanham os contratos futuros de ativos digitais, que são acordos financeiros para comprar ou vender o token em uma data definida. Como no Brasil os produtos à vista são os mais comuns, este guia é focado neles. Dentro da categoria de ETFs à vista, há diferentes tipos de fundos, com estratégias variadas.
ETFs de Bitcoin: São fundos que rastreiam exclusivamente o preço do Bitcoin, a maior criptomoeda do mundo. Eles permitem que os investidores possam ficar expostos ao BTC sem precisar comprar diretamente a cripto.
ETFs de Ethereum: Eles têm exposição direta à segunda maior criptomoeda do mundo. Assim como no caso dos ETFs de Bitcoin, esses produtos acompanham apenas o token.
ETFs de Solana: São ETFs que acompanham exclusivamente o preço da SOL, considerada uma das principais concorrentes do Ethereum. Dois dos primeiros ETFs de Solana do mundo foram lançados no Brasil.
ETFs de criptomoedas: São ETFs que seguem diferentes tipos de altcoins (termo usado para identificar qualquer cripto diferente do BTC). Há produtos focados em tokens do metaverso, criptos de aplicações de finanças descentralizadas (DeFi), entre outros.
Lista de ETFs de criptomoedas da B3
Até o final de 2024, a bolsa de valores brasileira tinha 17 ETFs de criptomoedas, tanto com exposição ao Bitcoin como a altcoins. Há opções tanto lançadas por gestoras locais como por gestoras internacionais de investimentos.
O primeiro ETF de criptomoedas criado no Brasil foi o HASH11, da gestora brasileira de criptomoedas Hashdex. O fundo, liberado para negociação em abril de 2021, segue o índice Nasdaq Crypto Index, que acompanha o desempenho de uma cesta ativos digitais em dólar, como BTC, ETH e XRP. A composição do índice é revisada trimestralmente, permitindo entrada ou saída de criptoativos, conforme as dinâmicas do mercado. Até o final de 2024, o produto tinha R$ 4,2 bilhões em patrimônio líquido.
Já o primeiro ETF de Bitcoin do Brasil foi o QBTC11, da gestora brasileira QR Capital, disponibilizado para negociação na bolsa de valores brasileira em junho de 2021. O fundo segue o índice CME CF Bitcoin Reference Rate, calculado com base nos dados de negociação de várias corretoras globais de ativos digitais, como a Coinbase e a Kraken. Seu patrimônio líquido até dezembro de 2024 era de R$ 899 milhões.
Além dos ETFs locais, há também BDRs (títulos emitidos no Brasil, mas ligados a empresas no exterior) de ETFs negociados nos Estados Unidos. Um deles é o IBIT39, que replica as cotas do iShares Bitcoin Trust (IBIT), o maior ETF de Bitcoin do mundo, da gestora BlackRock, lançado em janeiro de 2024. Até dezembro desse mesmo ano, o fundo tinha US$ 55 bilhões de ativos sob gestão, montante alcançado em menos de 12 meses. O ETF de ouro da empresa, para efeito de comparação, ultrapassou a marca dos US$ 50 bilhões somente no 19º ano de negociações.
Outro BDR da bolsa é o ETHA39, também BlackRock. Ele espelha o ETHA, o fundo de índice de Ethereum da empresa, em junho de 2024. Confira abaixo a lista de todos os ETFs e BDRs de ETFs da bolsa de valores brasileira, os índices que cada um acompanha, os criptoativos em suas cestas e as gestoras responsáveis:
ETFs | Índice | Criptoativos | Gestora |
HASH11 | Nasdaq Crypto Index | Bitcoin e altcoins | Hashdex |
QBTC11 | CME CF Bitcoin Reference Rate | Bitcoin | QR Capital |
BITH11 | Nasdaq Bitcoin Reference Price | Bitcoin | Hashdex |
NFTS11 | MarketVector™ Media & Entertainment Leaders Brazil Index | Tokens do metaverso | Investo |
CRPT11 | Teva Criptomoedas Top20 | Bitcoin e altcoins | Empiricus |
SOLH11 | Nasdaq Solana Reference Price Index | Solana | Hashdex |
QDFI11 | Bloomberg Galaxy DeFi Index | Tokens de DeFi | QR Capital |
BLOK11 | MarketVector™ Smart Contract Leaders Brazil Index | Tokens de smart contracts | Investo |
QETH11 | CME CF Ether Reference Rate | Ethereum | QR Capital |
ETHE11 | Hashdex Nasdaq Ethereum Reference Price | Ethereum | Hashdex |
META11 | CF Digital Culture Index | Tokens do metaverso | Hashdex |
WEB311 | CF Smart Contract Platforms Index | Tokens da web3 | Hashdex |
DEFI11 | CF DeFi Index | Token de DeFi | Hashdex |
BITI11 | Bloomberg Galaxy Bitcoin Index | Bitcoin | Itaú Unibanco |
QSOL11 | CME CF Solana Dollar Reference Rate | Solana | QR Capital |
IBIT39 | CME CF Bitcoin Reference Rate | Bitcoin | BlackRock |
ETHA39 | CME CF Ether-Dollar Reference | Ethereum | BlackRock |
Quanto custa a cota de um ETF de criptomoeda?
As cotas dos ETFs de criptomoedas variam constantemente, assim como as ações e as criptomoedas. Isso ocorre porque seus preços são baseados nos ativos digitais que o acompanham. Portanto, se o Bitcoin ou alguma altcoin sobe ou desce, os valores desses produtos financeiros também sofrem alteração. Oferta e demanda dos fundos, liquidez, taxa de câmbio (no caso de o ETF ser negociado em moeda diferente do real) e custos operacionais também afetam o valor das cotas. Até o final de dezembro, as cotas dos ETFs negociados na bolsa de valores variavam entre R$ 10 e R$ 303.
Como investir em ETFs de criptomoedas?
Os ETFs são negociados na bolsa. Portanto, para investir em um deles, é preciso abrir conta em alguma corretora de valores. No site da B3, é possível verificar a lista de instituições financeiras autorizadas a mediar a negociação de investimentos com investidores.
O processo de abertura de contas é relativamente simples: basta entrar no site da corretora desejada e realizar o cadastro. Normalmente, elas pedem nome completo, CPF ou RG, data de nascimento, e-mail e telefone. Ao longo do processo, outros dados podem ser pedidos.
Com a conta aberta, basta transferir o dinheiro para a empresa escolhida, via Pix ou TED, por exemplo, e investir no fundo de índice desejado. Importante informar que não são todas as corretoras que oferecem todos os ETFs. Vale verificar nos sites (tanto das empresas como da B3) quais delas disponibilizam os produtos financeiros.
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Quais as taxas dos ETFs de criptomoedas?
Os cotistas de ETFs pagam anualmente uma taxa de administração, usada para cobrir os custos relacionados à gestão e operação dos fundos negociados em bolsa. Esses valores variam entre 0,25% e 1,3% ao ano, conforme informações divulgadas nos sites das próprias gestoras.
Além disso, como as cotas dos ETFs são negociadas na B3, de modo semelhante às ações, os investidores também devem considerar outros custos. Entre eles estão a taxa de corretagem e de custódia cobradas pelas corretoras, bem como os emolumentos e a taxa de custódia da bolsa de valores.
Qual o imposto dos ETFs de criptomoedas?
A aplicação em fundos negociados em bolsa de criptomoedas está sujeita à incidência de Imposto de Renda (IR), com alíquota de 15% sobre o ganho de capital — ou seja, a diferença entre o valor pago pela cota e a sua venda. Não há isenção para vendas mensais de até R$ 35 mil, como no caso da negociação de criptomoedas diretamente via exchanges nacionais.
Quais as vantagens de investir em ETFs de criptomoedas?
Os ETFs de criptomoedas oferecem uma solução estruturada e regulada para acessar o mercado de criptomoedas, segundo o analista-chefe da Levante Inside Corp, Eduardo Rahal. “Eles simplificam a exposição a um conjunto de criptoativos sem que o investidor precise lidar com a complexidade operacional de custodiar diretamente seus próprios ativos digitais, reduzindo o risco de perdas por falha humana ou problemas de segurança”, explica.
Além disso, segundo o especialista, os fundos negociados em bolsa asseguram uma diversificação instantânea, visto que replicam um índice composto por múltiplas criptomoedas, diluindo o impacto da volatilidade de um único ativo. “O fato de serem negociados em bolsas tradicionais também confere maior transparência, governança e robustez regulatória, contribuindo para a segurança do investidor”, afirma.
Por fim, a eficiência de custos desses instrumentos, a praticidade na negociação de suas cotas e a liquidez proporcionada tornam os ETFs uma alternativa atrativa, especialmente para aqueles investidores que desejam exposição ao segmento de criptomoedas sem abrir mão de uma infraestrutura financeira consolidada.
Quais são os riscos de investir em ETFs de criptomoedas?
Assim como as criptomoedas, ações e outros produtos de renda variável, os ETFs de criptomoedas também têm riscos. Antes de investir nesse tipo de produto, é importante que o investidor esteja ciente deles. Veja três deles:
Volatilidade: O mercado de criptomoedas é bastante volátil. Nos primeiros anos, por exemplo, era comum o Bitcoin descer ou subir 15% ou 20% no mesmo dia. Se os preços dos ativos digitais caem, o patrimônio líquido dos ETFs pode ser afetado de forma negativa. Se, por outro lado, os preços sobem, as cotas do fundo também tendem a se valorizar.
Liquidez: Ocorre quando há pouca ou nenhuma procura pelas cotas do fundo ou pelas criptoativos que compõem o índice seguido. Isso pode impedir o ETF de realizar os pagamentos de resgates solicitados pelo investidores no prazo previsto. Esse problema pode acontecer por causa da falta de liquidez nos mercados onde esses fundos são negociados, por exemplo.
Custódia: Os fundos de índice seguidos pelos ETFs mantêm criptomoedas em custodiantes. Esses, por sua vez, deixam as criptos em carteiras, que só podem ser acessadas por meio de chaves privadas. Se por algum motivo essas chaves forem perdidas, seja por meio de ataques virtuais ou por problemas em softwares, por exemplo, os ativos digitais podem ser comprometidos. Como consequência, os fundos de índice também são afetados.
Horário: Diferente das exchanges, que permitem a negociação de criptomoedas 24 horas por dia e sete dias por semana, as cotas dos ETFs só podem ser compradas ou vendidas durante o pregão da bolsa. Por causa disso, os investidores não conseguem aproveitar, por exemplo, momentos de baixa no final de semana para investir em novos ativos digitais.
Vale mais a pena investir em criptomoedas via ETFs ou por meio de exchanges?
As pessoas interessadas em investir em criptomoedas podem ficar com a seguinte dúvida: vale mais a pena comprar moedas digitais via exchanges ou é melhor adquirir cotas de ETFs de criptoativos? Segundo especialistas, a escolha depende muito do perfil do investidor e do nível de experiência no mercado de criptomoedas.
“O ETF é ideal para quem busca praticidade, segurança regulatória e não deseja lidar com a responsabilidade da custódia, evitando riscos operacionais e a complexidade técnica. Por outro lado, investidores mais experientes, que dominam as melhores práticas de segurança, podem preferir a compra direta”, diz Rahal, da Levante Inside Corp.
Valter Rebelo, head de ativos digitais da Empiricus Research, aponta que os ETFs prezam mais pela comodidade do que pela especificidade na escolha de criptoativos, sendo recomendado para traders mais tradicionais que estão em ambiente de bolsa, gostam de ações e não têm vontade de se aprofundar em cripto. “Eu gosto mais de investir em exchanges, porque eu consigo ter acesso a uma variedade maior de ativos e a uma variedade maior de teses do que os ETFs”.
O que fazer antes de investir em ETF de criptomoedas?
Antes de escolher um ETF de criptomoedas, o investidor deve examinar a composição e a metodologia do índice de referência do fundo, garantindo que a estratégia esteja alinhada a seus objetivos, diz Rahal. Segundo o especialista, é importante também avaliar as taxas de administração, eventuais spreads e demais custos, além de observar a liquidez e o volume de negociação, assegurando a facilidade de entrada e saída.
Vale a pena ainda monitorar o tracking error, indicador que mostra o quão bem o ETF replica seu benchmark, bem como o histórico do fundo, a solidez do gestor e o montante sob gestão, de acordo com o Rahal. Por fim, é recomendável avaliar riscos específicos, sejam cambiais, setoriais ou geográficos, para garantir que a alocação seja coerente com o perfil e as expectativas do investidor.