Há quem diga que casar está fora de moda. Mas os números mostram que não é bem assim. No Brasil, todos os anos aproximadamente 1 milhão de casais dizem “sim” a uma vida a dois – o último dado disponível é de 2022, quando aconteceram 970.041 casamentos, segundo o IBGE. E estima-se que, desse universo, quase metade escolha fazer o pacote completo: cerimônia, festa, buquê, bem-casado, lua de mel…e o que mais o cartão de crédito conseguir bancar.

Tem gente que cresce sonhando com esse evento, para muitos é apenas uma espécie de compromisso social ou religioso. E pra tantos outros, uma decisão meio inesperada, daquelas que surpreendem os amigos mais chegados. Mas para qualquer um que resolva fazer uma celebração do casamento, uma coisa é certa: não basta ter amor, é preciso ter dinheiro. E, preferencialmente, em caixa.

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Em torno da ideia do amor romântico, se organizou uma indústria bilionária, capaz de atender aos desejos de qualquer casal: desde uma cerimônia discreta, até uma festa cheia de glamour. E, claro, com grande capacidade de convencer o cliente que sempre tem como  “melhorar” o projeto, mediante um cheque um pouco mais gordo. Por isso, antes de se aventurar nesse universo cheio de possibilidades, é preciso ter clareza do quanto se quer empenhar nesse projeto.

Mas, afinal, quanto custa casar?

Esse valor é você quem vai definir, a partir de algumas escolhas: número de convidados, tipo de recepção, local da cerimônia etc. Mas pense que ele pode corresponder ao preço de um carro popular. E aí, o céu é o limite. “Olhando para o casamento de alguns amigos, a gente entendeu que iríamos gastar o valor de um apartamento. A dúvida é se seria um imóvel popular ou um mais luxuoso”, conta Fabiane Barroso (nome fictício).

Fabiane e o noivo Gabriel talvez sejam um desses casos em que a decisão surpreendeu os amigos mais próximos. Afinal, eles namoram há seis anos e moram juntos desde a pandemia. Nesse período, compraram um apartamento na região da Vila Olímpia, na zona Sul da capital paulista. Mas, seguindo o caminho mais tradicional, decidiram ficar noivos, com direito a anel de noivado e jantar com as famílias. E a primeira medida que a contadora e o engenheiro tomaram, antes mesmo de marcar a data do casamento, foi colocar em uma planilha qual valor eles estavam dispostos e poupar para realizar o evento.

A conta levou em consideração aquilo que, afinal, eles estavam dispostos a abrir mão no dia a dia até o grande dia – restaurante, viagem, roupas etc, sem precisar usar o que eles já haviam investido até aqui. Com essa informação em mãos (ou no Excel), eles concluíram que o casamento poderia acontecer dentro de dois anos e meio: precisamente em julho de 2026. “Justamente porque a gente já mora juntos, não temos pressa. O que a gente não queria era começar o casamento com dívidas, porque eu acho que nada quebra mais um casal do que problema de grana”, diz Fabiane. É aquela história: se a ideia é que o casal viva feliz para sempre, é melhor que o casamento seja pago o mais rápido possível…

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Na prática, Fabiane e Gabriel definiram um valor mensal que cada um tem de guardar na “caixinha” do casamento, embora esse dinheiro tenha um peso diferente para cada um. Para fechar um contrato com algum fornecedor, a estratégia tem sido “engordar” a caixinha primeiro para, então, negociar os valores. E aqui, Fabiane tem uma dica de ouro: quanto mais distante a data do casamento, mais salgada fica a tabela (ela chegou a cotar um local que cobraria R$ 30 mil para o início de 2024, R$ 45 mil para o fim de 2024 e R$ 60 mil se o casamento fosse em 2025). Por outro lado, mais disposto o fornecedor estará para negociar.

“A inflação e os juros no mundo dos casamentos são muito mais altos do que os de mercado, então é preciso fazer as contas sempre. Mas se você tiver dinheiro na mão, dá pra evitar a flutuação futura de preço”, diz.

Foi assim que Fabiane conseguiu fechar o local da festa – em São Sebastião, litoral Norte de São Paulo – com 20% de desconto. O casal pagou R$ 50 mil e ainda conseguiu incluir nesse preço o DJ, a iluminação e o palco. Assim, junto com o buffet (R$ 30 mil) e a decoração (R$ 40 mil), já deu para fechar a chamada “trinca de ouro” do casamento, que responde por cerca de 70% do orçamento total do evento. “Se bem que eu devo diminuir um pouco o orçamento das flores para investir em um bar mais bacana”, conta Fabiane. E o grande risco desse tipo de evento é que, depois de pagar pela tríade, tudo parece um custo menor – mas capaz de fazer o orçamento geral crescer muito. “Meu desafio agora é resistir ao buffet de temaki…é que depois que você faz um pix de R$ 50 mil, tudo parece irrisório”, brinca.

Passo a passo para investir em um casamento

1. Comece com um planejamento realista
Antes de falar sobre investimentos, é essencial definir claramente o objetivo. Defina quanto você pretende gastar e quanto tempo você tem para alcançar essa meta.
2. Faça um orçamento mensal
Com o custo total estimado em mente, divida o valor pelo número de meses disponíveis. Por exemplo, se o orçamento do casamento é de R$ 50.000 e você tem 24 meses, precisará poupar aproximadamente R$ 2.100 por mês. Aqui, a consistência é o segredo do sucesso.
3. Escolha o investimento certo para o horizonte de tempo
Para um objetivo de médio prazo como este, a segurança e a liquidez são fundamentais. Entre as boas opções do momento, estão Tesouro Selic, CDBs com Liquidez Diária, fundos de renda fixa simples com taxas de administração baixas.
4. Automatize e crie disciplina
Configure uma transferência automática mensal para a sua conta de investimento assim que o salário cair. Isso evita esquecimentos e ajuda a manter o foco no objetivo.
5. Proteja-se contra imprevistos
Além de investir para o casamento, reserve uma parte do orçamento para uma reserva de emergência. Isso garante que você não precise mexer nos recursos do casamento em caso de imprevistos.
6. Reavalie periodicamente
Acompanhe o desempenho dos seus investimentos e ajuste, se necessário. Caso a inflação aumente ou as condições do mercado mudem, você poderá precisar recalibrar suas contribuições mensais ou buscar alternativas mais rentáveis.
Fonte: Ville Capital

As boas práticas

A história de Fabiane e Gabriel ilustra o que pode se chamar de “boas práticas para planos de médio prazo”, na visão dos especialistas. “Esse é um projeto que deve levar cerca de dois anos, porque é o tempo de montar uma reserva e criar um fluxo que caiba no bolso”, define Katya Treiger, assessora de investimentos da Ville Capital. O ideal, explica, é ter uma reserva montada de pelo menos seis meses para, então, começar a negociar com os fornecedores. “A partir de seis meses, você consegue poder de barganha”, diz.

Nem sempre dá para respeitar esse prazo, é verdade. Tanto é que Mateus Janisella, sócio fundador da RTS Partners, e sua noiva, Giulia Gatti, decidiram marcar a data do casamento com um prazo de pouco menos de um ano, para julho do ano que vem. “Eu já tinha um caixa e liquidez suficientes para o evento, e decidimos marcar logo”, diz.

Como especialista, Janisella recomenda que, antes de tudo, é fundamental definir qual será o orçamento. “E é preciso levar em conta que sempre vai ter extra!”, diz. É o tal do “já que…”. A partir daí, é possível definir qual valor é preciso reservar mensalmente. O ideal é que essa caixinha não se misture à reserva de emergência – individual ou do casal – , que precisa continuar sendo alimentada para situações de emergência, alerta Janisella.

Mas onde eu invisto?

Por ser um projeto de médio prazo e com data marcada, o ideal é colocar o dinheiro em produtos de renda fixa. “Nada de renda variável, porque não dá para correr riscos com recursos que já estão comprometidos para um projeto”, diz Katya, da Ville. Como o próprio nome diz, a renda variável, categoria onde estão as ações, tem oscilação de preço, e não tem como saber se, na data de resgate, você terá perdido ou ganhado dinheiro.

Para Felipe Tizzano, sócio de Janisella na RTS, entre as boas opções do momento, então a NTN-B com vencimento em 2027 – papel do Tesouro Direto que vai render IPCA mais cerca de 7% ao ano caso não seja resgatada antes do vencimento – ou um LCI de prazo equivalente – título bancário isento de Imposto de Renda e que tem cobertura pelo FGC.

Outra boa opção são papéis que garantam a variação do CDI como CDBs pós-fixados ou o Tesouro Selic. E fundos de renda fixa com liquidez (que permitam resgate a qualquer momento) e que tenham taxa de administração baixa. “Mas tem também a possibilidade de aplicar em papéis prefixados de curto prazo, que garantem mais previsibilidade para o fluxo de pagamento”, diz Tizzano.

Mas o mais importante, segundo especialistas, é que a fase de preparação para o casamento seja entendida como uma espécie de treino para o que será a vida financeira a dois. “É tipo um teste: se vocês conseguem ter disciplina financeira nessa fase, vai conseguir ter depois para qualquer outro projeto, como comprar uma casa, viajar”, diz Katya, da Ville. “É uma excelente oportunidade para equilbrar expectativa e realidade, e conseguir começar a vida financeira juntos.”

Tem uma frase atribuída ao cineasta Woody Allen que diz: ” O casamento é a tentativa de resolver juntos problemas que você não teria se estivesse sozinho.” E a festa do casamento é só o primeiro deles.

Leia mais na série Investir para Viver – Edição 2025

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