O cardápio dos ETFs está cada vez mais vasto. Já são 104 de renda variável e 19 de renda fixa. E agora começa a chegar um animal diferente, mais complexo, na fauna dos fundos negociads em bolsa. São os ETFs híbridos, que misturam renda fixa e variável na mesma cesta.
Bom, o primeiro ETF híbrido do país chegou agora há pouco. É o GOAT11, lançado em maio pelo Itaú. O fundo tem 80% de exposição à renda fixa, via títulos públicos, e 20% à renda variável, com as 500 ações mais negociadas do mercado americano (as que fazem parte do índice S&P 500).
Como o novo ETF funciona
O índice de renda fixa que compõe 80% da carteira ali é o IMA-B. A primeira coisa que vale notar é o seguinte: apesar do nome, a renda ali não é fixa. O IMAB-B dá a variação de preço dos títulos do tipo IPCA+.
Os IPCA+ flutuam de acordo com as expectativas para a Selic. Se o mercado aposta que a taxa básica de juros vai cair (ou se as taxas simplesmente estiverem caindo no mundo real), o preço desses títulos sobe. E vice-versa: perspectiva de alta para a Selic, o preço deles cai. E o seu saldo acompanha esse sobe e desce.
Exemplo prático. Em 2019, a Selic passou por uma redução sólida e a perspectiva do mercado era a de que ela seguisse por muito tempo num patamar minúsculo. Isso é céu de brigadeiro para o IMA-B. E não deu outra: alta de 23% naquele ano.
Para dar uma ideia do que isso significa. Quem investe sabe que um retorno de 120% do CDI, por exemplo, é excelente. Sabe quanto esses 23% significaram em 2019, por essa métrica? 385% do CDI.
Pois é.
Mas também há as épocas de vacas magras. 2024 foi uma delas. O IMA-B caiu 2,44% no ano passado, numa prova de que mesmo a renda fixa pode gerar perdas. Em 2025, a situação é mais alentadora: foram 7,5% até 17 de junho. 143% do CDI.
Mas o IMA-B é só 80% do GOAT11, certo? Os 20% restantes então em S&P 500. Esse varia de acordo com a bolsa americana e o câmbio. Neste ano, o S&P 500 sobe 2%. Mas o dólar cai 12%. No fim das contas, temos que o S&P 500 em reais cai 10%.
Ou seja: se o GOAT11 existisse desde o início do ano ele ganharia de um lado (o do IMA-B) e perderia no outro (o do S&P). O cômputo final seria de uma alta de 4%. 67% do CDI – exatamente o mesmo da caderneta de poupança.
Por outro lado, se as perspectivas para a Selic melhorarem, indicando uma queda sólida no futuro, o IMA-B sobe, puxando o rendimento dos ETFs que seguem o índice. Quem viver verá.
Custos: ETF X fundo ativo
O GOAT11 é classificado como um ETF de renda fixa, já que a maior fatia dele é composta por títulos públicos. O recolhimento de imposto aí é direto na fonte, com uma alíquota de 15%. A partir de 2026, esse imposto vai mudar para 17,5%, caso a MP do imposto de renda passe pelo Congresso. Mas vamos nos ater à realidade atual.
Importante salientar: um ETF é chamado de fundo passivo, já que ele apenas replica um índice já pronto (S&P 500, Ibovespa, IMA-B…), ou seja, não existe a figura de um gestor profissional escolhendo para onde vai o dinheiro, como acontece nos fundos ativos. Eles são mais caros.
Bom, as únicas cobranças do GOAT11 são 0,50% ao ano (sobre o montante total) mais o imposto de renda, de 15%.
Num fundo ativo, o normal são 2% ao ano de taxa de administração mais 20% de taxa de performance, calculada sobre aquilo que o fundo superar de um indicador de mercado (no geral, o CDI). E o imposto só chega a 15% depois de dois anos (antes, é a escadinha: 22,5% nos primeiros seis meses, 20% ao fim do primeiro ano e 17,5% daí até completar 720 dias).
Ou seja: mesmo que você deixe por mais de dois anos, até a alíquota mínima, o fundo ativo precisa necessariamente render mais do que fundo passivo para valer a pena, e não há garantia de que isso vá acontecer.