Mas os investidores de varejo não são a maioria nesse segmento. Os qualificados – aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações – representam mais de 72% das contas totais. São 239,7 mil qualificados ante um universo de 333 mil investidores.
E o chamado perfil profissional, ou seja, de quem tem mais de R$ 10 milhões em patrimônio financeiro quase empatam com o varejo. São 31,5 mil contas dessa faixa que aplicam em FIDCs, conforme dados de novembro.
O patrimônio líquido dos fundos de direitos creditórios caminha para chegar perto da barreira do trilhão em 2026, se mantiver o ritmo de crescimento deste ano. De novembro de 2024 até o mesmo mês de 2025, o volume aumentou em R$ 168 bilhões ou 22% de crescimento para R$ 741 bilhões.
O forte crescimento do varejo na base dos Fidcs é uma consequência direta da mudança de regulação. Em 2023, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mudou as regras para permitir que os produtos sejam oferecidos ao investidor em geral. Até dois anos atrás, só ps perfis qualificado e profissional podiam acessar esses fundos.
“A tendência é de crescimento consistente dessa classe, impulsionada pela ampliação do uso de instrumentos de crédito estruturado e pelo interesse crescente do varejo”, afirma Julya Wellisch, diretora da Anbima.
O número de gestoras de FIDCs cresceu 14,5% no mesmo período, saindo de 372 para 426 casas. Já o volume captado em ofertas de fundos do gênero também foi expressivo. De dezembro de 2024 a novembro de 2025, houve R$ 90,1 bilhões em emissões, com outros fundos de investimento sendo os principais compradores.
E como funciona o FIDC? Esse tipo de fundo negocia um direito de crédito, o recebível. Por serem operações montadas caso a caso para as empresas, é comum chamarem os FIDC dívida estruturada.
O FIDC compra esses recebíveis, por exemplo, de um estabelecimento comercial, como uma loja ou um supermercado. Na prática, pode adquirir esses direitos creditórios de qualquer tipo de empresa que tenha um recebível.
Depois, a gestora passa para a parte de disponibilizar as cotas para os investidores. O dinheiro aplicado é usado para financiar a empresa na outra ponta. Nessa estrutura, o fundo, na prática, oferece um crédito para quem precisa de caixa, que cede os recebíveis com desconto em troca de recursos imediatos, ou seja, uma operação de antecipação de recebíveis.
Os cotistas, por sua vez, participam dos lucros dessa antecipação. O investidor passa a lucrar com os juros e retornos embutidos na operação. O risco é de haver inadimplência de quem precisa pagar o recebível.
Os riscos dos FIDCs, em geral, são diferentes de acordo com o tipo de cota que os investidores têm na carteira. Na oferta, esses fundos trazem diferentes perfis de participação, que diferem ente si, entre outras condições, sobre quem recebe primeiro e quem absorve as perdas antes caso algo dê errado.
Há, basicamente, três tipos: a subordinada (júnior), a mezzanino e a sênior. A primeira absorve primeiro as perdas por inadimplência nos créditos do fundo, mas tem um potencial de ganho maior.
A mezzanino é um tipo de subordinada, mas com um risco menor. Também precisa arcar com os prejuízos, caso as subordinadas principais não sejam suficientes. Com isso, também tem um potencial de retorno superior ao das seniores, mas menor do que as juniores.
Já o terceiro tipo, as seniores, continua recebendo normalmente, mesmo com um certo grau de inadimplência. Devido a essa proteção, a CVM permitiu o acesso de investidores de varejo apenas a esse tipo de cota.
Qual o risco? É o de que o nível de inadimplência seja tão alto que esgote a proteção oferecida pelas subordinadas e isso afete o retorno. A cota sênior recebe penas o que foi acordado na aplicação, enquanto as subordinadas repartem o ganho restante sem limitações.