A sexta-feira (24) foi um show de horrores. Após a saída do ministro Sergio Moro do Ministério da Justiça, a crise política veio à tona e com esta a Bolsa despencou.
O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em queda de 5,45%, aos 75.330 pontos. Quando Moro anunciou a sua demissão, alegando possível interferência do governo na Polícia Federal, os mercados desestabilizaram, chegando a cair 9%, quase um circuit breaker. No acumulado semanal, a Bolsa recuou 4,63%.
Como em toda crise política, o real desvalorizou e o dólar disparou. O dólar comercial fechou o dia cotado a R$ 5,6681, subindo 2,83%. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,74.
As mais afetadas
O destaque negativo foi da IRB Brasil (IRBR3) que caiu 23,91% no acumulado da semana. Entre as cinco maiores quedas também estavam: CVC (CVCB3), Banco do Brasil (BBAS3), Eletrobras (ELET3) e Bradesco (BBDC4).
Para Fernando de Almeida Prado, analista de investimentos da Mirae Asset, a queda da IRB Brasil (IRBR3) continua refletindo o péssimo cenário interno da empresa, que passou por problemas de balanço e governança, confirmados com a divulgação do resultado no 4TRI. E que após a troca do Conselho de Administração, a resseguradora ficou ainda mais fragilizada. “A IRB não está bem desde o segundo semestre de 2019, ninguém quer investir seu dinheiro em uma empresa instável”, afirma.
A CVC (CVCB3), segundo Prado, ainda sente os efeitos da pandemia com o turismo afetado. O analista define a história da companhia como uma série de incertezas que iniciou com a alta do dólar em 2019, até problemas de vazamento de óleo no Nordeste, que atrapalharam as viagens, e por último o coronavírus onde não há lugar para o turismo. “A única saída pode vir no segundo semestre de 2020, se descobrirem alguma vacina”, aponta e acrescenta que a companhia anunciou que procurará um empréstimo com o Itaú BBA para poder suportar a crise.
Com o Moro Day, o Banco do Brasil (BBAS3) caiu impactado pelo cenário político, por ter como controlador o governo federal. Prado defende que outro fator que impulsionou a queda foi a fragilidade da economia, onde bancos privados estão prontos para oferecer linhas de crédito, mas o Banco do Brasil não possui valor patrimonial suficiente para encarar a empreitada.
Outra empresa estatal que se viu prejudicada pela crise política foi a Eletrobras (ELET3), que apesar de tentativas de se capitalizar durante o governo Bolsonaro, ainda tem um cenário complexo para privatização.
Já o Bradesco (BBDC4), sofreu um efeito conhecido como realização de ganhos. Prado explica que até ontem seu principal concorrente o Itaú, tinha um valor patrimonial de 1,6 e recuava 4,5%. O Bradesco, no entanto, com valor patrimonial de 1,2 subia 2,6%. “As pessoas venderam porque estavam ganhando, foi um efeito do mercado”, conclui o analista.
Confira as maiores quedas da semana:
Ação | Queda |
IRB Brasil Resseguros (IRBR3) | -23.91% |
CVC BRASIL (CVCB3) | -18.34% |
BRASIL ON (BBAS3) | -18.12% |
ELETROBRAS (ELET3) | -16.07% |
BRADESCO (BBDC4) | -15.58% |
As maiores altas
A maior alta da semana foi da Marfrig (MRFG3) que no acumulado avançou 11,41%. Entre os destaques positivos semanais também estavam: B2W Digital (BTOW3) , Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN4) e Magazine Luiza (MGLU3).
Para Igor Ghellardi Cruvinel, sócio diretor de Investimentos da DOC Concierge, a alta da Marfrig (MRFG3) não é um efeito pontual da empresa e sim do setor de frigoríficos em geral. Com bons desempenhos também para empresas como JBS e Minerva. A alta do dólar teria contribuído para a alta das ações “Ajudou muito a notícia do presidente da Marfrig de que o coronavírus não afetou a receita da companhia e que uma planta que estava parada nos EUA foi reativada”, comenta.
Já as varejistas B2W (BTOW3) e Magazine Luiza (MGLU3) , que possuem receita atrelada à internet teriam se beneficiado na pandemia, mostrando crescimento, segundo Ghellardi que defende que todo comércio digital deve se fortalecer. Para George Sales, professor de finanças do Ibmec, o anúncio da retomada gradual das atividades econômicas em alguns estados nesta semana permitiu que as varejistas disparassem.
Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN4), empresas com receita dolarizada, pegaram carona na crise política brasileira para incrementar seus ganhos. “Suzano é quase 100% dependente de exportação, a Klabin é um misto de dólar e real. Este tipo de empresa é a que os investidores buscam em momentos de crise interna como o que ocorreu hoje”, afirma Ghellardi e acrescenta que sempre que uma crise política ocorrer, o dólar valoriza, e empresas exportadoras ficam na frente.
Sales enxerga uma oportunidade além da crise política, é o caso da matéria prima destas empresas que é o papel, muitas vezes utilizado na produção de máscaras durante a pandemia. “Com a retomada da economia muitas pessoas devem voltar às ruas, e a demanda de produção destas empresas vai aumentar”, diz.
Confira as cinco maiores altas da semana:
Ação | Alta |
MARFRIG (MRFG3) | 11.41% |
B2W DIGITAL (BTOW3) | 11.13% |
Suzano Papel Celulose (SUZB3) | 9.18% |
KLABIN (KLBN4) | 8.83% |
MAGAZINE LUIZA (MGLU3) | 6.26% |
Moro Day
A renúncia de Sergio Moro ao cargo de ministro da Justiça teve um forte impacto nos mercados. Até o momento, o coronavírus era o protagonista das oscilações, contudo uma crise política pode influenciar ainda mais a desestabilização.
Para Prado, assim que o embate político ficar mais claro, a bolsa deve retomar ao seu normal, lidando apenas com os efeitos do Covid-19. Mas, se a crise política continuar instável, o futuro dos mercados pode ser difícil.
Ghellardi avalia que a curto prazo o impacto é grande, provocando volatilidade nas ações. “Tudo vai depender de quem Bolsonaro vai indicar para o cargo, se Guedes sai ou fica, somado aos efeitos da pandemia”, comenta. Contudo, acredita que a crise política é uma oportunidade para investir na renda variável e que nenhuma empresa com bons fundamentos deve perder valor por causa de problemas políticos.
Sales conclui que o embate político deve continuar nos próximos dias, entre Moro e Bolsonaro, aumentando a oscilação dos mercados pelo divórcio político.