Decisões básicas (ou que deveriam ser) sobre dinheiro, como economizar, gastar e investir, não são simples para todo mundo. Na verdade, não são para a imensa maioria das pessoas. Dois anos atrás, 9 em cada 10 brasileiros não guardavam dinheiro para a aposentadoria, segundo um relatório global da seguradora Allianz.
Em um país desigual como o Brasil, este tipo de resultado pode ser simplesmente mais uma constatação da nossa miséria social. Para uma parcela da população, é impossível poupar sem ter ao menos dinheiro para as necessidades mais básicas. No entanto, nos Estados Unidos, com pleno emprego, uma em cada cinco pessoas termina o mês sem guardar um centavo. Muita gente também tem menos dinheiro do que poderia devido às decisões financeiras infelizes.
É a realidade, geralmente presente no noticiário de economia, que inspira o filme “A arte de economizar”, recém-lançado na Netflix (NFLX34).
Nos Estados Unidos, ensinar a gerir o próprio dinheiro é um filão que atrai autores de best sellers de educação financeira e consultores-celebridade às pessoas desesperadas por ajuda. O filme, que usa a fórmula dos reality shows, acompanhou por um ano representantes de dois grupos, o programador Peter Adeney, que se aposentou aos 30 anos por ser bom em economizar, e Tiffany “The Budgetnista” Aliche, especialista em orçamento pessoal, além das pessoas que eles ajudaram, todas com problemas financeiros – não necessariamente por falta de dinheiro.
Em uma hora e meia, lá estão a ex-estudante que se endividou para pagar a faculdade e, numa jornada niilista, também gasta demais, a artista e garçonete que não sabe como economizar, o jogador de futebol americano que ganhou o bastante para um futuro seguro, mas não só gastou quase tudo como não tem ideia de como investir o que sobrou, e um casal que, mesmo em boa situação financeira, não consegue guardar dinheiro, pois tem despesas demais.
Como em qualquer produto do gênero, não há milagre a ser ensinado. Ross McDonald, aliás, Ro$$ Mac, especialista em investimentos, dá a dica ao jogador para colocar seu dinheiro em um fundo que acompanha o S&P 500. Já Adeney apela para um conselho óbvio ao comprar algo: perguntar “será que eu preciso disso?”. Paula Pant, que deixou um emprego aos 21 anos para enriquecer investindo em imóveis, aconselha a jovem artista que não poupa a aumentar a renda com um trabalho extra e cortar a tele-entrega.
Mas se a maioria das pessoas guardasse dinheiro quando tem oportunidade em vez de ceder a mais uma compra por impulso ou investisse com sabedoria, não existiriam conselheiros financeiros. Os participantes em busca de ajuda não são muito diferentes da maioria das pessoas, para quem diz para si mesmo “eu mereço isso” antes de um gasto, é normal ou tem dificuldades em pensar no longo prazo ao decidir um investimento.
Como é dito no começo de “A arte de economizar,” a maneira como administramos o dinheiro influencia cada aspecto das nossas vidas. Daí a necessidade de bom senso ao cuidarmos das finanças, já que administrar mal costuma ter como preço a infelicidade mais tarde.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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