Agora que 2021 chega ao fim, podemos extrair três lições. A primeira é reconhecer que precisamos de uma bússola para navegar pelo ambiente único de reinício da atividade econômica. Na BlackRock, a nossa bússola foi o “novo normal”. A segunda é que a jornada para alcançar zero emissões líquidas até 2050 está apenas no começo. A terceira, e talvez mais importante, é ter coragem nas convicções.
1. Inflação e os novos marcos de atuação dos bancos centrais
O ano de 2021 foi marcado por uma convergência de eventos inéditos na história. Um aumento único de crescimento, uma elevação importante na inflação e novos marcos de atuação dos bancos centrais em relação ao indicador. O “novo normal” reconhece que a lógica do ciclo econômico normal não é mais válida. O impacto da covid-19 assemelha-se mais ao de um desastre natural, seguido de um reinício poderoso. Não se compara em nada com a ampla recuperação que ocorreu após a crise financeira de 2008.
A inflação voltou para ficar, impulsionada pelas restrições nas cadeias de suprimento, junto com gastos atipicamente altos com bens em comparação aos serviços. Os preços se estabilizaram em níveis mais altos aos anteriores à pandemia, inclusive, mesmo na resolução referente às pressões de suprimentos.
Nessa situação, no passado, os bancos centrais já teriam começado a aumentar as taxas de juros, e o mercado teria empurrado o valor dos títulos a níveis mais baixos do que os observados atualmente. Não é o caso agora. Mesmo que o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos tenha reconhecido recentemente os maiores riscos de inflação e o início da subida das taxas antes do que foi previsto anteriormente, elas não subiram quanto demonstram os dados históricos.
2. Transição para um mundo mais sustentável
A segunda lição é que a transição para um mundo mais sustentável está ocorrendo agora, e não em algum ponto distante do futuro. Por exemplo, o aumento dos preços dos combustíveis fósseis expôs uma transição climática que não ocorrerá de forma linear. Mesmo que vejamos uma transição ordenada em médio prazo, há obstáculos no caminho que levam a uma maior volatilidade, tanto na inflação, quanto no crescimento.
As pressões inflacionárias poderiam ser mais agudas e o crescimento menor, no caso de uma transição desordenada ou um cenário sem ação climática. Já está acontecendo uma mudança tectônica em direção ao investimento sustentável, dando aos ativos sustentáveis uma vantagem de maior rentabilidade nos próximos anos. Empresas de setores eficientes em carbono são capazes de reduzir seu custo de capital. As empresas não estão esperando novas políticas públicas para mudanças climáticas, mas estão ajustando seus modelos de negócio agora, abrindo oportunidades de investimento.
3. Coragem nas convicções
A terceira lição de 2021 é mostrar mais coragem nas convicções. O “novo normal” nos manteve em uma posição positiva no que tange a renda variável e subexpostos a títulos de governo desenvolvidos durante todo o ano. Porém, ao fazer uma retrospectiva, não estávamos suficientemente convictos de nossos posicionamentos.
O que essas lições nos ensinam para 2022? Que ainda manteremos nossa preferência pela renda variável, mesmo com a nova cepa do vírus e a visão de inflação do Fed prejudicando o apetite por ativos de risco mais altos. Esperamos que as novas variantes do vírus atrasem, mas não interrompam a retomada e que os bancos centrais aumentem as taxas com moderação.
*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.