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Claudia Kodja

Quando empreender não é uma opção, mas sim uma necessidade

Melhores alternativas para o empreendedorismo por falta de oportunidade no mercado de trabalho.

Claudia Kodja

O termo empreendedorismo é substantivo masculino usado para designar o processo de criação de um valor, seja este de mercado, como o desenvolvimento de um negócio com objetivo de dar lucro, ou social, envolvendo criação para implementar soluções para questões sociais, culturais ou ambientais. 

Neste sentido amplo, o empreendedorismo pode se referir a pequenos ou grandes negócios, a um autônomo, as startups escaláveis, a uma atividade inovadora ou estabelecida no mercado, àqueles dedicados a desenvolvimentos sociais ou sem fins lucrativos, aos sócios capitalistas e investidores de risco.

Nesta matéria, irei me dedicar, exclusivamente, ao empreendedorismo por necessidade, onde estão os que tomam o risco de desenvolver um negócio por falta de oportunidade no mercado de trabalho.

Bilhões de cidadãos em países desenvolvidos e em desenvolvimento podem ser classificados como empreendedores por necessidade. Um nicho com enorme potencial econômico, formado por indivíduos que não têm outra opção viável e lícita de renda, a não ser iniciar uma atividade por conta própria.

O desenvolvimento de políticas e conteúdos educacionais voltados à sobrevivência e manutenção daqueles que optam pelo empreendedorismo involuntariamente, representa uma oportunidade de estabilização do desenvolvimento e de sustentação do crescimento econômico.

As melhores estratégias para o empreendedorismo de necessidade

Conforme a Global Entrepreneurship Monitor 2021/2022, empresários de 27 das 28 economias pesquisadas, com PIB per capita inferior a US$ 40.000, afirmam que empreenderam para “ganhar a vida, porque os empregos são escassos”. Entre os empresários das 19 economias com PIB per capita superior a US$ 40.000, mais da metade confirmou a mesma motivação para iniciar um negócio próprio.

A motivação para iniciar um negócio (% do total de Empreendedorismo em estágio inicial).


“Para ganhar a vida porque empregossão escassos”

18 – 34 anos35 – 64 anos
Índia90,9%92,1%
Colômbia80%77,8%
Brasil75,8%77,7%
Chile71,4%76%
França55,3%48,3%
Israel50,7%49,2%
Estados Unidos48,2%44%
Alemanha34,5%45,9%

As condições sob as quais o empreendedorismo por necessidade é estabelecido são determinantes para escolha da estratégia de implementação e área de atuação.

O empreendedorismo por necessidade é motivado por circunstâncias externas, normalmente relacionadas à precariedade do mercado de trabalho. Contam com menos recursos e menor tempo de planejamento, estão limitadas às estratégias de custo e não de diferenciação, o sucesso está relacionado à subsistência de si e da sua família, as contratações priorizam os baixos salários e sua operação é voltada a atrair clientes com preços baixos.  

A consideração destes fatores explica a brevidade com que esta categoria de empreendimento permanece ativa no mercado. A inviabilidade financeira e a submissão a longas jornadas de trabalho, por pouco dinheiro, levam estes empreendedores à maior pobreza ou de volta ao mercado de trabalho formal, na primeira oportunidade disponível.

Entre as formas de apoio ao empreendedorismo por necessidade estão políticas estáveis de acesso desburocratizado ao microcrédito, mas, sobretudo, a compreensão de que objetivo inicial do empreendedorismo por necessidade é a subsistência pessoal e familiar.

Ondas de acesso ao microcrédito, normalmente impulsionadas nos períodos eleitorais, não são a principal solução para o empreendedorismo por necessidade, mas sim uma estrutura ativa de apoio educacional, que considera a subsistência financeira como objetivo primeiro e as estratégias de diferenciação básicas, como instrumentos para manutenção dos negócios.

Do empreendedorismo por necessidade aos empresários de sucesso 

Conheça três  brasileiros que iniciaram seus empreendimentos por necessidade de subsistência financeira e, graças a alguns diferenciais no processo de vendas, se tornaram empresários de sucesso.

1. Os irmãos Leandro e Leonardo Castelo fabricavam produtos de limpeza no período da noite e vendiam em duas kombis durante o dia. Graças à estratégia de varejo via franquias, hoje eles têm 90 marcas, 7 mil unidades e devem faturar R$ 5,5 bilhões ao longo de 2022.

2. Larissa Sousa produziu e vendeu caixas de presentes, trabalhou como ambulante, vendeu trufas e produtos de beleza. Em 2016, decidiu criar um negócio que montasse uma lancheira saudável para alunos, em troca de uma mensalidade escolar. Hoje, o negócio possui 54 unidades em operação e o faturamento ultrapassa R$1 milhão.

3. Salézio Martins trabalhou como professor de português. Para complementar a renda da família, comprou alguns teares usados e passou a produzir tecidos de malha de algodão para as pequenas confecções. Sua empresa se expandiu e hoje conta com 56 confecções e um faturamento superior a R$ 400 milhões anuais.

*Claudia Kodja, mentora da Liga dos Empreendedores da FGV, membro da Copenhagen Institute for Futures Studies e gestora executiva da Kodja Escola de Negócios.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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