Em tempos polarizados, é grande a possibilidade de misturar a avaliação sobre o futuro da economia e, consequentemente, do mercado com a torcida por algum candidato nas eleições presidenciais. Eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tendem a achar que se ele for eleito, será bom para a economia. O mesmo para quem vota no presidente Jair Bolsonaro (PL), em Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e nos demais candidatos.
Também ocorre o contrário. Eleitores de Bolsonaro certamente acham que a economia irá de mal a pior se o vencedor for seu principal adversário. E os eleitores de Lula com toda certeza acham que ocorrerá o mesmo caso o presidente seja reeleito. É natural: quem vai votar em alguém esperando que dê errado ou que o adversário fará um governo melhor?
Há um risco para o bolso: as percepções para o futuro da economia também podem influenciar decisões de investimento. Foi um fenômeno notado por gestores americanos em 2020 durante a polarizada eleição entre o ex-presidente americano Donald Trump e Joe Biden, que acabou sendo o vencedor. Havia uma grande incerteza sobre o vencedor, o que levou muitos investidores a esperar o resultado final, perdendo a chance de entrar em papéis quando estavam baratos.
Mas a verdade, ensinada por tantas votações, é que a torcida eleitoral quase nunca se confirma como sucesso econômico absoluto nas vitórias ou em fracasso econômico absoluto quando o candidato é derrotado e seus eleitores preveem o caos. É claro, pode acontecer, mas dificilmente na medida que calculamos, já que a economia é influenciada muito mais por fatores imprevisíveis.
Logo no primeiro mês do atual governo, a tragédia de Brumadinho (MG) retirou 0,9% do crescimento de 2019 – o Produto Interno Bruto acabou ficando em 1,2% no ano. Em 2020, foi a vez da pandemia derrubar o PIB em 4,1%. Ambos eventos que ninguém, obviamente, foi capaz de prever na época da última eleição presidencial.
A vitória ou a derrota de um candidato são capazes de causar euforia ou stress, que podem ser exacerbados devido ao que estudiosos que juntam economia e psicologia chamam de efeito-disponibilidade. Quanto mais vemos uma informação, mais tendemos a acreditar que se tornará verdadeira. Cabe, no entanto, lembrar que governos não influenciam a economia tanto assim.
Empresas exportadoras, para ficar em um caso, dependem pouco do ocupante ou da ocupante do Palácio do Planalto para fazer negócios. Com o Banco Central Independente, também estão fora do alcance presidencial as taxas de juros. Vale ainda lembrar que, ganhe quem ganhar, os preços de muitas ações na Bolsa estão descontados e já incorporaram a volatilidade da eleição.
Outra alternativa é examinar se uma perda súbita, caso seus piores prognósticos se confirmarem, altera sua estratégia. E também como você acha que seus investimentos vão se comportar em um prazo mais longo, independente não só da próxima eleição como das outras. Produtos como BDRs e ETFs também permitem investir em outros países, reduzindo o risco local.
É praticamente impossível ficar imune à polarização. Mas não é preciso, como investidor, se deixar levar pela política.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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