Quando as pessoas não entendem o que se passa no mercado, muitas vezes recorrem à psicologia. É quando entram em cena termos como “aversão ao risco” e “exuberância irracional”. Já não é novidade, afinal, que truques mentais e o humor de investidores muitas vezes confundem decisões aparentemente racionais.
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Ao contrário daquele humano dos livros clássicos de economia que toma decisões calculadas entre risco e ganhos, as pessoas muitas vezes agem contra os próprios interesses. Investidores, por exemplo, seguram as ações que estão caindo, vendendo as que sobem, buscam mais as informações que confirmam suas suposições, ignorando as que negam, e, para evitar uma perda, se arriscam mais do que para obter ganhos.
O conceito do ‘nudge’
Não é raro que tudo acabe em prejuízo. Mas apostar na irracionalidade também dá dinheiro. Que o diga a Fuller & Thaler, gestora de ativos criada por Richard Thaler, ganhador do Nobel de Economia. Um dos principais nomes da psiconomia, ciência que une os estudos de psicologia e economia – também chamada de economia comportamental –, ele e seus sócios gerem US$ 12,7 bilhões em ativos, a maior parte para o JP Morgan.
Thaler é uma lenda da economia contemporânea. Professor da Universidade de Chicago, é responsável, junto com Cass Sunstein, pela ideia do nudge (empurrão). Pessoas podem ser irracionais, mas, enquadradas em certo contexto, como a poupança da aposentadoria ser descontada em folha e guardada em um fundo até o dia de ser usada, também podem ser ajudadas a decidir em benefício próprio. E fala bastante sobre investimentos.
Os seis fundos da gestora exploram as emoções do mercado. Investidores, como qualquer pessoa, confiam demais nas próprias decisões. São apáticos diante de boas notícias e dados que acham desinteressantes – um relatório, por exemplo, mas reagem de maneira mais intensa às notícias negativas e a histórias vívidas e emocionais. E, se tratando de investimentos, não há nada mais negativo, vívido e emocional do que perder dinheiro.
Ancoragem de Daniel Kahneman
O mercado, assim, tende a exagerar nas quedas, com as pessoas muitas vezes vendendo bons papéis para não repetir um prejuízo de memória dolorosa. Da outra parte, subestimam dados positivos devido ao que Daniel Kahneman, outro ganhador do Nobel, chama de ancoragem. Mesmo se uma empresa aumenta a produção ou adquire um concorrente, a referência para os compradores é o preço recente da ação, não o lucro futuro .
Os fundos mútuos da Fuller & Thaler operam principalmente com small caps e microcaps, buscando ações que ainda não reagiram como deviam a uma novidade positiva, como um aumento-surpresa dos lucros no último balanço. Se desconfia que é o caso, a gestora, fundada em 1993 e a primeira a operar focada na psicologia do investidor, tenta entender nos números da empresa se o efeito é passageiro ou a mudança é definitiva.
De certo modo, não funciona muito diferente de estratégias de stock picking, buscando ações fora do radar e com grande potencial de crescimento. Aproveitar as oportunidades contidas nos exageros ou na miopia do mercado, a bem da verdade, também não é uma ideia nova. “Compre ao som de bombas e venda ao som de violinos”, diz aquele antigo ditado do mercado. Onde está a vantagem de apostar na psicologia do mercado?
A rentabilidade do principal fundo da gestora, de 50% em 2020, bate 75% do mercado e supera o S&P 500 há 28 anos. Com um retorno de 32% desde janeiro, outro fundo, de microcaps, é o mais rentável dos Estados Unidos em sua categoria este ano. A Fuller & Thaler opera basicamente comprando ações. Mas pode reduzir posições numa alta forte se constatar que a subida de preços é irracional, escapando da queda forte de preços depois.
Quando Richard Thaler recebeu o Prêmio Nobel, em 2017, analistas e gestores concorrentes resistiam a atribuir os ganhos a seus estudos. O segredo estaria na escolha cuidadosa de ativos, baseada em fundamentos. Para eles, a estratégia da Fuller & Thaler seria como outra qualquer. Mas os números sugerem o contrário. E que entender os mecanismos da irracionalidade do mercado hoje é um diferencial para investir.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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