Se você não investe em ações, talvez pense que a B3 não tem nada a ver com a sua vida financeira. Certo? É compreensível que muitas pessoas pensem desta maneira, já que a empresa é conhecida principalmente pela sua atividade como bolsa de valores.
A realidade, no entanto, é que a atuação da bolsa é bastante diversificada e faz diferença na vida financeira de milhões de pessoas, inclusive gente que jamais investiu no mercado de capitais.
Há várias maneiras de ilustrar a participação direta e indireta da B3 na vida do brasileiro. Uma delas é a história da criação e da operação de uma iniciativa que tem um nome complicado, mas pode estar mais perto do seu dia a dia do que você imagina: o Sistema Nacional de Gravames (SNG).
A história do SNG
No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, os bancos e outras instituições credoras perceberam que um dos maiores obstáculos para destravar a oferta de crédito voltada ao mercado de veículos era o risco de fraude.
Embora o crédito já estivesse crescendo no país, esta modalidade, especificamente, não contava com um sistema de proteção eficiente – e, portanto, estava sendo oferecida abaixo do seu potencial.
O que deveria tornar o financiamento de veículos mais barato do que os créditos pessoais é justamente a segurança para as instituições credoras, a partir do sistema de garantias.
Neste modelo, quando um banco empresta dinheiro a um cliente para comprar um automóvel, o bem financiado passa a ser a garantia da transação em caso de inadimplência.
Em outras palavras: o cliente se torna dono provisório do veículo e desfruta dele como bem entender, mas pode perder essa condição se não pagar as parcelas do financiamento, já que neste caso o automóvel pode ser tomado pelo banco.
Além de criar um incentivo para o pagamento em dia, a garantia tem a vantagem de compensar a instituição financeira pelas perdas em caso de não pagamento. Como a oferta e o preço do crédito são altamente sensíveis ao risco de inadimplência, a existência de uma garantia com alta liquidez (facilidade de transformar o bem em dinheiro) permite que o sistema financeiro amplie a oferta de financiamentos e melhore suas condições comerciais.
Para esse modelo funcionar adequadamente, contudo, era necessário que as instituições credoras tivessem a segurança de que, ao realizar um financiamento, o proprietário não poderia vender o veículo sem antes quitar a dívida nem usar o bem como garantia em outra operação de crédito. Caso contrário, a segurança jurídica da transação estaria comprometida.
Com o intuito de preencher esta lacuna, instituições do setor financeiro (inclusive a Cetip, que posteriormente se fundiu à BM&FBovespa e se tornou a B3) se uniram para criar o Sistema Nacional de Gravames: um banco de dados centralizado que permite consultar se qualquer veículo do país estava vinculado, em determinado momento, a um contrato de financiamento em vigência ou se tinha algum outro tipo de restrição legal e financeira.
Desde então, a transferência de propriedade de um veículo financiado só pode ser realizada se o contrato for quitado e a instituição financeira informar ao SNG que o gravame não está mais ativo (é o que se chama comumente de “dar baixa no gravame”).
A criação do SNG trouxe segurança jurídica para o setor financeiro e contribuiu para um crescimento acelerado do crédito e do mercado de veículos no Brasil – o que é especialmente importante para a economia, uma vez que a indústria automotiva é uma das que mais gera empregos diretos e indiretos.
Os dados falam alto: desde 2007, quando todos os Detrans do país passaram a integrar a plataforma, o saldo da carteira de crédito para aquisição de veículos 1 passou de R$ 74 bilhões para R$ 397 bilhões em 2023. Portanto, um crescimento de 435% ou 5 vezes.
Com o passar do tempo, o SNG só ganha importância. Atualmente, um em cada três carros novos comercializados no Brasil, por exemplo, é financiado.
Já são mais de 19 milhões de gravames ativos e mais de 5,5 mil instituições credoras cadastradas na plataforma que podem realizar o apontamento do gravame.
Para termos ideia do quanto isso significa: se cada gravame ativo correspondesse a um carro médio, de cerca de 4,5 metros de comprimento, a frota reunida poderia formar uma fila de 85 mil quilômetros, o suficiente para dar duas voltas completas na Terra!
O que a bolsa do Brasil tem a ver com isso tudo?
O SNG precisa ser operado por uma instituição segura, imparcial e transparente, que conte com a confiança do setor financeiro. E é aqui que entra em cena a B3, uma infraestrutura de mercado que fornece condições (tecnologia, regras, canais de atendimento etc) para que o mercado de capitais e o mercado financeiro se desenvolvam de diversas maneiras.
Isso inclui as atividades como bolsa, mercado de balcão organizado (onde são negociados ativos de renda fixa, como CDBs e LCIs, debêntures) e também a nossa Unidade de Infraestrutura para Financiamento (UIF), que opera o SNG.
O time da UIF também realiza diversas atividades semelhantes nos setores imobiliário e de seguros, com o mesmo propósito de dar segurança aos agentes envolvidos e facilitar o desenvolvimento do mercado.
Participando da vida dos brasileiros
A B3 é uma empresa com mais de 100 anos de história e que tem o compromisso de contribuir com o desenvolvimento econômico e social do país. Por isso, está entrelaçada na vida dos brasileiros, inclusive de maneiras que a maioria das pessoas nem sequer imagina – como mostra a história do SNG.
Para quem quer investir, a empresa oferece uma plataforma completa, com oportunidades nos mais variados tipos de ativos; para as empresas que buscam recursos para crescer e gerar empregos e renda, que beneficia toda a população, disponibiliza no mercado de capitais fontes de financiamento eficientes; e para o mercado financeiro, dá o apoio necessário para tornar a concessão de crédito mais segura, escalável e acessível a mais pessoas.
A B3 também busca compartilhar conhecimento para contribuir com a educação financeira dos brasileiros e ajudar a aprimorar sua relação com as finanças pessoais. Para se aprofundar no tema, deixo um convite: fique atento ao nosso canal aqui no InvestNews e visite o nosso Hub de Educação, que contém cursos, palestras e outros materiais gratuitos. Conhecer o mercado só vai ajudar a melhorar a sua relação com as finanças pessoais!
* Gustavo de Oliveira Ferro, Gerente de Planejamento e Inteligência de
Mercado na B3
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