Quando vamos analisar e entender as perspectivas de uma ação, um determinado ativo ou até a bolsa brasileira, existe um fator em comum em todas essas questões: a incerteza.
De acordo com o dicionário, ela significa: qualidade ou caráter do que suscita dúvida ou do que é incerto; que revela falta de certeza; dúvida, hesitação e indecisão.
Ela parece ser algo mítico, que paira sobre a nossa cabeça. Ninguém gosta de tomar uma decisão sem, no mínimo, ter uma certa previsibilidade do que pode acontecer.
Nosso cérebro evoluiu durante milhares de anos para focar na sobrevivência de curto prazo em um mundo perigoso e cheio de incertezas. Isso acabou nos tornando avessos ao risco.
Até a palavra investimento tem por trás esse conceito. O investimento pode ser explicado como uma aplicação de recursos, tempo e esforço a fim de se obter algo no futuro. Mas será que ele é garantido? Normalmente, usamos a balança entre risco e retorno para tomar essa decisão.
Portanto, como fazemos para medir algo que não é observável?
Pensando em grandes acontecimentos, é possível imaginar qual era o nível de incerteza pós atentado de 11 de setembro, a crise de 2008, o início da pandemia e a guerra na Ucrânia?
Economistas e estatísticos vêm desenvolvendo formas de mensurar a incerteza. Temos, por exemplo, o Índice de Incerteza Econômico baseado em mensagens do Twitter (TEU-ENG).
Eles extraíram todos os tweets do mundo, em inglês, desde 2011. Separaram os que continham palavras relacionadas à “incerteza” e “economia” (uncertain, uncertainly, economic, economical, economies, economist, economy). Em seguida, construíram o índice.
A FGV criou o Indicador de Incerteza da Economia – Brasil (IIE-Br). Ele busca quantificar por meio de informações coletadas dos principais jornais do país – aproximadamente 30 mil notícias – e pelas expectativas do mercado financeiro acerca de variáveis macroeconômicas, o nível de incerteza da economia brasileira.
O ponto é que quanto maior a interrogação e a insegurança, pior o desempenho da economia. Se as pessoas têm medo de perder o emprego, postergam ou diminuem o consumo. As empresas adiam investimentos.
Em artigo, Costa Filho, mostra que tais choques deprimem a economia e geram uma série de efeitos negativos sobre a produção industrial, confiança do consumidor, e, em menor magnitude, aumentam a taxa de desemprego.
A principal questão desses indicadores é que eles tentam medir o sentimento das pessoas em um determinado período no tempo. Cada indivíduo reage de uma forma diferente dado o contexto socioeconômico em que vive. Os níveis passados de incerteza não refletem o futuro, mas podem trazer indicativos do que esperar do consumo e investimentos.
Uma das formas para lidar com um ambiente de incerteza é atribuir probabilidades para certos eventos que podem ocorrer. Dado que não temos certeza do amanhã, podemos dar um maior peso para um cenário e menor para outro.
Mas como fazer isso? As suas competências, informações, análises, tempo de estudo e conversas com outras pessoas te sinalizarão o cenário mais provável e os porquês. Com o máximo de informação que tenho hoje, qual será o mais provável amanhã?
Portanto, uma forma de organizar essa quantidade de informações é construir diferentes cenários – otimista, pessimista e neutro – com probabilidades diferentes. Ou, então, podemos dividir entre cenário base, aquele que acreditamos ter mais chances de acontecer, e alternativo. Por exemplo, o cenário base tem 70% de chance de ocorrer e 30% o cenário alternativo.
Ter essa ferramenta, que reflita a conjuntura, pode ser importante para a nossa tomada de decisões, pois estaremos mais preparados para aquilo que pode vir. Além de identificarmos momentos de oportunidades.
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