O jornalista Jaime Spitzcovsky me fez refletir que há uma saída estratégica para o Brasil conseguir criar um Mercado de créditos de carbono pujante e com liquidez que possibilite nos tornar protagonistas na nova economia climática e verde mundial.
Tudo isso, ao explicar como o mundo passou de uma bipolaridade geopolítica e militar do período da Guerra Fria, em que os protagonistas eram os Estados Unidos e a Rússia, no período que compreende o fim da 2ª Guerra Mundial e o final da década de 80, com a queda do muro de Berlim. Passando pela unipolaridade americana que vai até a crise financeira mundial em 2008.
Posteriormente, chegamos na multipolaridade mundial, que vivemos hoje, com 3 blocos de países nas mesas de negociação diplomáticas, o primeiro formado por representantes da doutrina do “capitalismo de stakeholders”, como os Estados Unidos e a Europa liderada pela Inglaterra, França e Alemanha, além do Japão e outros países satélites como Austrália, Canadá ou Coréia do Sul.
O segundo bloco, formado pelos países sob doutrina econômica e política de um capitalismo de Estado, representados pela China, Rússia e países do Oriente Médio, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Por fim, a Coréia do Norte com uma modelagem mais radical de relacionamento externo bem restrito.
O terceiro bloco tem a Índia como grande estrela, em seguida vem o Brasil e a África do Sul. Além de Singapura, Vietnã e outros países latino-americanos como Chile, Colômbia e Uruguai.
O primeiro bloco, no que tange às regulações e negócios econômicos verdes e de transição climática para uma energia mais limpa, vem liderando com alto investimento e já começa a ter o seu retorno centralizando as decisões mundiais sobre o assunto ambiental e climático. Além disso, a Europa já está faturando alto com sua taxa de carbono, segundo estudo recente da UNCTAD, e o Brasil é o 8º país mais afetado pelas suas restrições.
Porém, o segundo bloco, começou a reagir, liderado pela China (como falado na coluna passada) e Oriente Médio, que começa a diversificar sua economia baseada em petrodólares para serviços e a descarbonização entrou em pauta com a criação de uma metodologia e certificação próprias para geração de créditos de carbono. A Rússia está até o momento completamente fora da corrida pela economia verde e de transição energética.
A multipolaridade de poderes permitiu que a Rússia em um momento vulnerável americano com a retirada anterior de suas tropas militares da Síria e do Afeganistão, por exemplo, invadisse a Ucrânia. No vocabulário do poker, Vladimir Putin pagou para ver se os Estados Unidos se atreveriam a retaliar militarmente a invasão russa e ainda apostou que conseguiria descarregar todo o seu comércio, principalmente, de petróleo e gás para ser consumido pela China e a Índia em alternativa ao boicote americano e europeu.
A multipolaridade de poderes mundiais permitiu que Putin invadisse à Ucrânia, em outros tempos isso não seria permitido pelo primeiro bloco, só houve boicote econômico sem ações militares diretas, só apoio de armamento.
Diante dessa multipolaridade e do protecionismo regulatório e de mercado de carbono americano e europeu, vale a pena o Brasil direcionar sua política climática para os países do segundo e terceiro bloco, como a China e a Índia.
Sei que é controverso e polêmico, mas conseguiríamos colocar por exemplo a Rússia no caminho da descarbonização ao comprar nossos milhares de créditos de carbono de preservação da Amazônia brasileira.
Em um mundo multipolar, o Brasil pode-se aproveitar dessa margem de manobra e direcionar seus esforços de criação de um mercado de créditos de carbono direcionando suas políticas e negociações verdes para um mercado que precisa mais de nossas práticas de ESG do que os americanos ou europeus, que no fim das contas preferem nos ignorar ou somente eles serem os protagonistas.
* As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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