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Novo carro popular poderia alavancar vendas, mas ideia pode nem sair do papel

Projeto de vender modelos por até R$ 50 mil parece não despertar interesse de importantes agentes do setor automotivo.

Fiat Mobi. Imagem de divulgação.

Faz tempo que o carro popular deixou de ser popular. Hoje apenas dois modelos novos (Fiat Mobi e Renault Kwid) custam menos de R$ 70 mil. Isso explica em parte as baixas vendas de automóveis no país.

Números divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que os emplacamentos ainda estão longe dos resultados obtidos há alguns anos. A projeção, inclusive, é de não haver crescimento nos licenciamentos de automóveis de passeio e comerciais leves em 2023.

“Apesar do aumento percentual no primeiro trimestre, ainda não vimos a recuperação do setor para os níveis obtidos até 2019, antes da pandemia”, disse José Andreta Jr., presidente da Fenabrave.

O novo popular

É por isso que uma ideia proposta pela Stellantis ganhou força entre algumas figuras importantes da indústria automotiva. Antonio Filosa, presidente da empresa na América do Sul, sugeriu a venda de um carro de entrada que custasse, no máximo, R$ 50 mil.

“A demanda por mobilidade no Brasil não mudará por questões demográficas. Se conseguirmos emplacar um projeto de carro popular ou de baixo custo haveria uma migração das motocicletas ou dos veículos usados, o que beneficiaria a indústria e os consumidores. Mas é um projeto estratégico para a indústria e deve ter a participação igual de cada um dos interlocutores”, afirmou o executivo, em entrevista à “Autodata”.

Por “interlocutores”, Filosa se refere a entidades da indústria automotiva, outras montadoras e, claro, ao governo brasileiro. Só falta combinar com todos eles.

Ideia encontra resistência dentro do setor

A Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) disse que a medida poderia alavancar o volume atual de vendas de automóveis em até 300 mil unidades. Porém, quando questionada sobre possíveis incentivos ao plano, a associação disse que prefere a isenção por ser assunto de interesse de apenas algumas associadas.

Se marcas como Fiat e Citroën (ambas controladas pela Stellantis) têm grande interesse no carro popular, não será fácil encontrar apoio entre outras fabricantes. A Ford, por exemplo, não fabrica carros no país desde 2021, e seu modelo mais barato atualmente custa mais de R$ 150 mil. A Nissan está fora do segmento de hatches desde o fim da venda do March, em 2020. O mesmo acontece com Toyota e Honda, cujos carros mais acessíveis passam de R$ 100 mil.

Até a Volkswagen, que historicamente atua com força no segmento de carros de entrada, não demonstra vontade de alterar as configurações de seus modelos para vendê-los por menos. 

“Crédito é essencial ao carro popular no Brasil e o governo precisa ajudar a fomentar. Por causa da legislação, subimos muito o valor do automóvel no Brasil, mas até que ponto é justo para o consumidor dar passos para trás nesse sentido? Não podemos oferecer carro menos seguro ou confortável só porque ele é popular”, declarou Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil.

E mesmo que consiga apoio de todos esses agentes, falta “apenas” convencer o governo. Sem a concessão de alíquotas menores como tentativa de baixar os preços, dificilmente as montadoras vão sacrificar parte de sua margem de lucro. E aí a ideia de um “novo” carro popular pode nem sair do papel.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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