Os processos de fusões e aquisições (M&A) são bastante comuns em empresas na bolsa de valores. E pela capacidade que possuem de gerar, ou então de destruir valor aos acionistas, devem ser analisados individualmente na hora de comprar as ações de uma empresa.
Muitos podem ser os motivos que levam a realização de um M&A, como expandir a capacidade produtiva, adquirir a carteira de clientes, verticalizar a produção, criar sinergias e até mesmo a adição de novos produtos ao portfólio de atuação da empresa.
A verdade é que nem sempre crescer de forma orgânica é a melhor opção, e algumas empresas, sobretudo aquelas de crescimento acelerado, têm como parte da estratégia de negócios crescer através de aquisições.
Essa estratégia de crescimento é bastante comum com algumas empresas do setor de saúde, em especial os laboratórios. Como existem concorrentes que são fortes em determinadas regiões do país, adquiri-los acaba sendo uma estratégia mais inteligente do que penetrar organicamente. Em geral, setores fragmentados acabam sendo aqueles com maior número de fusões e aquisições.
O problema é que realizar um M&A costuma exigir um alto investimento, a depender do tamanho da aquisição. Considerando que, em geral, as transações envolvem grandes somas de dinheiro, que muitas vezes são captados de terceiros, através dos empréstimos, as fusões e aquisições devem ser analisadas com cuidado.
Caso o retorno necessário seja obtido, o processo pode gerar valor para a companhia e para os acionistas, porém caso não seja, pode haver uma destruição de valor.
Ainda que uma empresa seja boa, nem sempre suas aquisições serão, razão pela qual boa parte das fusões e aquisições falham. Por isso vamos entender alguns dos principais fatores que levam um processo de M&A a dar errado:
Pagar caro demais
Da mesma forma que o investidor deve buscar por empresas “baratas” e que apresentem uma boa margem de segurança, as empresas também devem.
Como normalmente os bons candidatos para compra são negociados por preços maiores, a administração pode acabar pagando a mais pela aquisição, sendo, portanto, um risco, principalmente porque as fusões e aquisições acontecem em mercados competitivos, cujos preços são altos.
Nesse sentido, caso a companhia pague caro demais, pode demorar para obter o retorno planejado, ou pior: acabar destruindo valor aos seus próprios acionistas.
Comprar negócios ruins
Negócios disponíveis no mercado nem sempre são boas opções, e ao comprar outra empresa, se compra tanto as partes boas, como também os problemas que o negócio enfrenta.
Assim, avaliar incorretamente esses problemas pode exigir das empresas muito mais recursos do que o inicialmente planejado, podendo inclusive prejudicar as operações da própria empresa que fez a aquisição.
Não considerar problemas culturais
Quando se fala em um M&A, se fala no envolvimento de empresas de regiões, países e até mesmo culturas organizacionais bastante diferentes, e integrar adequadamente essas diferenças é essencial.
Claro que a empresa precisa conseguir integrar os negócios, o problema é que o ambiente organizacional muda drasticamente de um lugar para outro. Assim, se a empresa falhar em conseguir realizar essa integração, existe a possibilidade de perder funcionários de valor dentro da companhia.
Em primeira mão, muitos podem considerar a cultura como algo irrelevante, mas não é. O caso da Daimler-Benz e da Chrysler é um exemplo disso.
Em 1998, a Daimler realizou a aquisição da Chrysler por US$ 36 bilhões. Porém enquanto a Daimler-Benz tinha uma estrutura mais conservadora e rígida, a Chrysler era muito mais criativa e descentralizada.
Como resultado, em 2007 a empresa vendeu cerca de 80% da Chrysler por apenas US$ 7,4 bilhões.
Dessa forma, para uma empresa realizar uma aquisição, é tão difícil quanto é para o investidor conseguir encontrar uma boa ação para comprar. Análises precisam ser feitas, cenários precisam ser previstos, e planos precisam ser traçados não somente para que o M&A dê certo, mas também para que medidas sejam tomadas caso de errado.
Uma aquisição ruim pode facilmente prejudicar uma empresa, e saber quando desistir dela em tempo hábil é essencial. Para o investidor, resta procurar por empresas cuja gestão tem um bom histórico de aquisições ao longo do tempo, sem nunca deixar de acompanhar as movimentações futuras.
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