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Ricardo Schweitzer

A vantagem mais acessível para o investidor bater o mercado

Num contexto altamente competitivo, suas melhores chances estão em um comportamento acima da média.

O mercado de capitais é um ambiente extremamente competitivo. E que, pela própria natureza de seus incentivos econômicos, reúne gente muitíssimo capacitada.

Sob certa perspectiva, quando paramos para pensar que investidores institucionais não raro contam com enormes equipes especializadas, exclusivamente dedicadas a identificar e explorar oportunidades de mercado, a ideia de que um investidor individual possa obter retornos acima da média pode soar romântica – para não dizer que aparenta uma tolice completa.

Com efeito, a turma que defende a famigerada hipótese dos mercados eficientes aponta, com propriedade, que mesmo entre os grandes investidores profissionais, aqueles que obtêm desempenho superior à média de mercado são minoria – e, não raro, acabam convergindo à média com maus períodos sucedendo bons.

Talvez seja tolice da minha parte – e venho insistindo nessa tolice há quase uma década e meia -, mas eu continuo acreditando que a história não é bem essa.

Deixe-me tentar argumentar de uma forma estruturada: a mim parece que existem três estratégias possíveis para bater o mercado. A analítica; a segunda é informacional; a terceira é comportamental.

Começo pela mais difícil: quando falo em vantagem analítica, refiro-me a uma capacidade acima da média de interpretar dados para identificar boas oportunidades de investimento.

Veja bem: se é verdade que o mercado atrai excelentes cabeças para o jogo, com certeza esta é a mais complicada das três: por melhor que seja sua autoestima, muito provavelmente você seja capaz de reconhecer que há, neste momento, pessoas ainda mais brilhantes do que você dedicadas à caça de oportunidades no mercado.

O embate cabeça com cabeça é esporte de alta performance. Se você é faixa branca de Jiu Jitsu, entrar numa briga com a família Gracie não me parece uma boa ideia.

Continuo com a vantagem informacional, e adianto-me em esclarecer que refiro-me a vantagens lícitas: enquanto a teoria financeira pressupõe que toda informação disponível está a todo momento incorporada aos preços, no mundo real isso envolve que seres humanos consumam a informação e tomem decisões de investimento que resultem no seu reflexo na tela.

Esse não é um processo automático, mas sim resultado da interação iterada de investidores. E quanto menor o número de investidores cuja atenção jaz sobre determinado ativo, maior a possibilidade de existência de ganhos a capturar.

Se isso for verdade (e eu sinceramente acho que é), há maiores chances de retornos acima da média em oportunidades de investimento menos visadas por grandes investidores (ações de menor liquidez e capitalização de mercado, por exemplo).

Ainda assim, isso requer esforço relevante: tempo, energia, dinheiro (não necessariamente o acesso à informação é gratuito). Talvez ainda seja, para a maioria dos pequenos investidores, uma batalha entre Davi e Golias.

Mas eis que chegamos à vantagem comportamental. O acesso à informação e o processamento dessa informação – isto é, a análise – não são nada sem um bom processo decisório: de muito pouco adianta saber as coisas e interpretar as coisas corretamente se, na hora de decidir, isso não se converter nas ações (literal e figuradamente) corretas.

E aqui, talvez, resida a mais acessível vantagem para o investidor comum.

O investidor institucional está sujeito a estruturas de controle, pressões e incentivos muito diferentes dos que recaem sobre o investidor individual: o sujeito está gerindo, na maioria das vezes, dinheiro que não é dele. Isso impõe obrigações, como a observância de determinados controles (mandatos de fundos, parâmetros de risco a serem observados, etc.) e regras (critérios e processos de investimento).

Há compromissos tácitos ou explícitos com os clientes, como a famosa defesa da cota: se a maioria dos clientes é avessa a perdas, talvez seja melhor não arriscar tanto assim, sob pena de sofrer resgates. Há o risco de, diante de um investimento que poderia ter dado certo mas não deu o sujeito perder seu emprego.

O investidor individual não presta contas a ninguém senão à própria consciência. Ele só precisa arcar com decisões com as quais seja capaz de dormir bem. É mais simples.

E veja bem: “simples” não significa “fácil”. Ver uma posição derreter, mesmo que eventualmente suas convicções sobre os fundamentos sigam inabaladas, continua doendo. Mas se você investe só para você, isso se traduz em um nó no estômago; em um fundo isso pode significar o olho da rua.

Mas o bonito disso tudo é que isso tem mais a ver com temperamento, autoconhecimento e prática. Não exige grandes equipes; não exige sistemas caros; não exige anos de estudo a peso de ouro em uma universidade Ivy League – pelo contrário, há quem defenda até mesmo que isso atrapalha.

Tenho total convicção: qualquer um pode aprender a se comportar acima da média, e isso se traduz em uma vantagem competitiva no mercado. Esse é o jogo mais fácil de jogar dentre os disponíveis.

A grande ironia é que a maioria se concentra em jogar os outros dois. E sei disso por experiência própria: foi o que fiz durante a maior parte da minha carreira.

Pois convido você: que tal tentar virar o jogo?

A literatura de filosofias de investimentos – não os livros técnicos de finanças – é repleta de insights sobre o modo de decidir dos investidores mais bem sucedidos de todos os tempos.

Os principais gestores publicam cartas repletas de ensinamentos preciosos. Não é teoria: são relatos diretamente do front. Se a leitura dá preguiça, não tem problema: nunca foi tão fácil tomar contato com a experiência em primeira pessoa dessa turma por meio de vídeos, entrevistas etc.

No final do dia, é sobre como você decide.

Que tal, então, decidir hoje começar a focar no que mais importa?

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 
Twitter:@_rschweitzerInstagram:@ricardoschweitzer

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