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Ricardo Schweitzer

Diga ‘não’ aos gurus dos investimentos

Suas aplicações são suas e a responsabilidade sobre elas também é sua.

Homem faz análise de investimentos

Tenho quase 15 anos de análise de investimentos nas costas, e digo com absoluta tranquilidade: não siga cegamente nem a mim nem a ninguém.

Durante a maior parte de minha trajetória profissional, trabalhei assessorando investidores institucionais. Meus clientes eram, basicamente, gestores e analistas de fundos de investimento – grupos que congregam, sem sombra de dúvidas, a maioria das pessoas mais inteligentes e capazes que conheci em toda a minha vida.

Meu dia a dia consistia de caçar ideias de investimento e, ao apresentá-las para meus clientes, ser quase literalmente metralhado. Cada reunião era uma sabatina na qual meus argumentos eram minuciosamente dissecados; onde cada tese era testada pelos mais diversos ângulos.

E não tenho a menor vergonha de dizer que, não raro, saía dessas reuniões convencido de que, no final das contas, minha ideia era frágil.

E veja bem: isto não era sinal de que meu trabalho era mal feito. Nunca foi. A questão-chave é que em investimentos estamos sempre lidando com informações incompletas e com diferentes perspectivas, sendo investir, em alguma medida, um exercício de futurologia, sempre pode haver alguma nuance que ignoramos ou subestimamos.

Essas interações eram riquíssimas. Não por acaso, até hoje procuro dialogar com essa turma.

E é exatamente por ter perfeita consciência de que minha experiência não me fez infalível que olho com preocupação para a postura da maioria dos investidores pessoa física diante de analistas e, mais recentemente, influenciadores.

Desde o começo de setembro eu tenho realizado algumas consultorias individuais. E, nessas interações, um padrão muito comum se estabeleceu: quando vejo no portfólio alguma ação incomum e pergunto qual o racional por trás da posição, a resposta é “foi dica de fulano”.

A pergunta seguinte é óbvia: ok, mas qual é o racional?

“Não sei”.

Gente… por favor, não.

Acho extremamente proveitoso ouvir a todos. Ouvir os argumentos, pesá-los, compará-los… mas seguir cegamente a quem quer que seja é de uma irresponsabilidade sem fim. E pior: irresponsabilidade para com seu próprio dinheiro; seu suado dinheiro.

“Mas Ricardo, eu não tenho tempo”. 

Acho um argumento justo e legítimo. E vou além: a depender do tamanho da sua carteira de investimentos, o que mais faz sentido é que você aloque a maior parcela possível do seu tempo não na gestão dela, mas sim no seu trabalho – até certo patamar de acumulação de patrimônio, seu capital humano é seu maior ativo. E, portanto, é o capital do qual você mais deve se ocupar mesmo.

Mas nesse caso, terceirize a gestão de seu capital financeiro da maneira correta: invista via fundos. Contrate a expertise de um gestor e de sua equipe de análise. Eles se encarregarão de metralhar analistas por você – e confie em mim: eles são muito bons nisso. Tenho cicatrizes para provar.

O que não faz sentido – em bom português, é a verdadeira economia burra – é simplesmente fazer o que alguém lhe diz para fazer sem saber ao certo o porquê. Em alguns casos, tanto pior: os motivos sequer são apresentados, pois a premissa já é de que o séquito não pensa por conta própria – apenas obedece.

E as razões para isso são simples: os incentivos são completamente desalinhados. À medida que o resultado da recomendação impacta o seu patrimônio muito mais do que o de seu guru, o mínimo que você deveria exigir são evidências de que a lição de casa foi bem feita.

Caso contrário, você pode estar confiando seu dinheiro, cegamente, a palpites de um idiota com sorte – e nunca sabemos quando a sorte alheia pode virar.

Isso para nem entrar no mérito da eterna possibilidade de motivações escusas de “recomendações”. Aí estamos falando de vigarice de outro nível.

E não: o propósito deste artigo não é alimentar a narrativa de que todo mundo tem más intenções. Longe disso. O que defendo é que você cobre o mínimo de quem segue ao invés de obedecer passivamente.

É o seu dinheiro. E quando se trata disso, a passividade pode sair muito caro. 

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 
Twitter: @_rschweitzer; Instagram: @ricardoschweitzer

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