Keeping up the Joneses (em português, algo como Seguindo os Joneses) era uma tira de quadrinhos bastante popular nos Estados Unidos um século atrás. Criada pelo cartunista Arthur Momand, mostrava as desventuras de uma família típica americana que luta para acompanhar o estilo de vida luxuoso dos Joneses, seus vizinhos ricos. Acabou criando uma gíria para quem vive de olho no patrimônio dos outros.
É parte da natureza humana se comparar com as pessoas mais próximas. Somos, afinal, seres sociais. Mas o desejo de acompanhar o estilo de vida dos outros é um sério convite para gastar. Ao comprar um carro, por exemplo, preferimos o modelo mais caro se nos causa a sensação de que estamos acima dos demais, segundo estudo publicado por Nailya Ordabayeva, uma economista da Universidade de Boston.
Também podemos gastar para não nos sentirmos inferiores, de acordo com o trabalho. Caminho aberto para comprar aquela roupa de marca ou uma TV maior, como aquela que os amigos têm em casa. Ou a ida àquele restaurante do chef da TV. As redes sociais exacerbam esta tendência, exibindo às outras pessoas a (pretensa muitas vezes) prosperidade alheia. O resultado é uma dificuldade imensa para guardar dinheiro.
Uma pesquisa – do fundo Northwestern – é implacável: metade dos americanos não economiza um centavo no fim do mês. Aqui no Brasil são 7 em cada 10 pessoas, segundo a fintech Acordo Certo. Sem poupar, é mais difícil ter economias para os dias mais difíceis. O que certamente é motivo de stress e preocupação. Não à toa, o percentual de pessoas que reclama na pesquisa de não conseguir manter uma vida saudável é o mesmo: 70%.
E a tendência de achar que a grama do vizinho é muito mais verde também pode fazer um estrago nos seus investimentos. Querer “acompanhar os Joneses” – ou a necessidade de se arriscar mais para acompanhar os ganhos dos outros investidores – seria uma das razões do mercado de ações se valorizar mais do que títulos públicos, segundo um estudo bastante curioso de Slava Mikhed, economista do Federal Reserve na Philadelphia.
Ao pesquisar por dez anos mais de 7 mil vizinhos de pessoas que ganharam na loteria no Canadá, ele notou que ter alguém rico vivendo nos arredores é um passaporte para o fracasso como investidor. Assim que recebiam o dinheiro, os sortudos, ganhadores de prêmios de US$ 7 mil a até US$ 150 mil, exibiam a elevação do padrão de vida, com um carro novo, uma reforma na casa e outros luxos, dependendo do valor recebido.
Para os vizinhos, observar a mudança deve ter sido traumático. Pelo menos é o que indicam seus dados financeiros. Passaram a gastar mais e também a especular mais como investidores. Comparados com moradores de outros bairros onde ninguém ganhou na loteria, as pessoas preferiam muito mais ações e outros ativos de risco do que as aplicações mais seguras ou até mesmo ter saldo positivo no banco.
No começo dos anos 2000, americanos moradores de bairros com muita desigualdade eram mais tentados a aproveitar a facilidade de crédito e comprar uma casa com uma prestação mais alta. Quando a bolha imobiliária estourou, em 2008, estavam mais expostos financeiramente e tinham mais chance de perder o imóvel por falta de pagamento. Muito perderam e mesmo assim continuaram endividados.
Na parte do estudo que simula os mercados, bolhas eram facilmente criadas quando os pesquisadores postavam publicamente, por exemplo, um ranking dos fundos mais rentáveis ou desempenhos individuais. A publicidade acirrava a propensão ao risco dos investidores. Resultado: sofriam perdas maiores nos períodos de baixa. E ainda por cima eram mais avessos à diversificação, o que aumentava ainda mais o risco.
A solução, segundo o trabalho, é simples: parar de seguir os Joneses. A vida não é uma competição e a recompensa é óbvia: sem ter alguém a alcançar, estamos livres para uma vida mais equilibrada. E, também, um portfólio de investimentos.
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