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Tragédia em Capitólio mostra urgência em implantar o ESG na gestão do turismo

Acidente trouxe à tona que não são realizados estudos que possibilitem a exploração de parques naturais de forma verdadeiramente segura e confiável.

Divulgação/CBMMG

A queda da imensa rocha no canyon de Capitólio (MG), no dia 8 de janeiro, mostra que o conceito ESG (Ambiental, Social e Governança) precisa ser implantado com urgência na gestão do chamado turismo de natureza. O “acidente” trouxe à tona a informação de que não são realizados estudos geológicos, entre outros, que possibilitem a exploração dos nossos parques naturais de forma verdadeiramente segura e confiável.

Claro que há uma estrutura básica para que as pessoas possam frequentar tais localidades. Mas não há um padrão, leis, protocolos que possibilitem se antecipar aos sinistros. Um estudo geológico regularmente bem feito, por exemplo, poderia ter evitado a morte de pessoas com a queda da encosta. A identificação do problema por um profissional possibilitaria isolar a área e sinalizar aos pilotos das lanchas os locais seguros para passear com os turistas.

A encosta até poderia cair, pois se trata de um evento natural. Mas não levaria ninguém a óbito e até poderia ter sido caracterizado como um acontecimento raro e único presenciado por quem teve a sorte de estar lá naquele dia. Quem sabe até atraísse mais turistas que, além da beleza do local, torcesse para que algo parecido ocorresse em sua frente. É como ver, de uma distância segura, um iceberg se descolar de uma geleira. Quantos têm essa oportunidade?

Impacto no turismo local

Infelizmente, a história seguiu outro caminho. O impacto no turismo local foi grande. As notícias publicadas na mídia informam que 100% dos pacotes de viagem foram cancelados, até porque a região continua interditada para investigação. Quantos empreendimentos entre hotéis, locadoras de embarcações e de carros, restaurantes, as próprias fazendas que cobram entrada estão fechados nesse momento?

Dá para imaginar o tamanho do prejuízo? Quantos trabalhadores correm o risco de perder seus empregos? Quantos artesãos deixarão de vender seus produtos?  E as prefeituras, não só de Capitólio, quanto vão perder em arrecadação? E a imagem construída ao longo de décadas, quanto tempo levará para ser recuperada? Só nesses exemplos podemos observar o impacto em duas letras do ASG: o “S”, de Social, e o “G”, de Governança.

E ambos estão atrelados à preocupação ambiental. As construções no alto das encostas, sejam quais forem, foram planejadas para gerar o mínimo impacto possível? Entre as notícias, esteve a informação de que uma obra poderia ter alterado o fluxo das águas das chuvas e contribuído para a queda. Especulação ou não, pode ter lógica. Só as investigações poderão confirmar. Os barcos derramam muito óleo nas águas? Como isso é controlado? E o lixo produzido pelos turistas, como e onde é descartado? Os itens desse check-list podem preencher várias páginas.

Como implantar o ESG no turismo?

A implantação do conceito ESG exige tempo e algum dinheiro. Mas não deve ser vista como custo e sim como investimento. Se todas essas preocupações tivessem sido colocadas preventivamente à frente do desejo de lucro, hoje o turismo local estaria em seu fluxo normal. Nenhuma empresa estaria sem faturar. Uma lição nesse episódio, é que ele chamou a atenção para um problema que não é exclusivo de Capitólio, mas comum em todos os parques naturais do Brasil.

O país conta hoje com cerca de 297 parques naturais estaduais e federais em funcionamento. Em 2019, último ano antes das limitações impostas pela pandemia, eles receberam juntos cerca de 13 milhões de visitantes. Um estudo desenvolvido pelo Instituto Semeia mostra que bem geridos, esses parques poderiam atrair mais de 55 milhões de visitantes ao ano, gerando mais de 1 milhão de empregos e impacto de R$ 44 bilhões no PIB nacional. Isso, claro, considerando os efeitos diretos e seus reflexos sobre as diversas cadeias produtivas ligadas ao setor.

Esses números, porém, só se tornarão realidade se houver uma gestão responsável e preocupação com a implantação de uma governança baseada nos conceitos ASG.

*Marcos Rodrigues é sócio da BR Rating e da MRD Consulting

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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