O presidente da China, Xi Jinping, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciaram nesta quarta-feira (20) a elevação do status da parceria estratégica global dos dois países durante uma visita de Estado do líder chinês a Brasília em meio a uma turnê regional, reforçando a crescente influência diplomática de Pequim.
Xi e Lula disseram em declaração à imprensa no Palácio da Alvorada que a relação China-Brasil tornou-se uma “comunidade com um futuro compartilhado para um mundo mais justo e um planeta sustentável”, um slogan-chave do presidente chinês.
Eles também concordaram em encontrar “sinergias” entre a iniciativa chinesa Cinturão e Rota e os programas de desenvolvimento brasileiros, após Lula declinar de inscrever formalmente o Brasil na iniciativa de infraestrutura global da China.
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Os líderes assinaram cerca de 40 acordos de cooperação para fortalecer os laços entre as duas economias com mais de US$ 150 bilhões de em comércio bilateral, disse Lula.
O presidente da China, Xi Jinping, comprometeu-se a expandir o fundo de cooperação para financiar projetos estratégicos de infraestrutura no Brasil, fortalecendo a aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na parceria com Pequim.
Embora não tenham sido divulgados valores de investimento ao final da visita de Estado de Xi a Brasília, o acordo firmado pelos dois líderes estipula que projetos prioritários devem ser apresentados dentro de 60 dias.
“Este é outro momento histórico no desenvolvimento das relações China-Brasil”, disse Xi, acrescentando que a China está pronta para os dois países tornarem-se “parceiros de ouro”.
Xi adotou o termo “comunidade com um futuro compartilhado” para formalizar o que Pequim vê como uma relação bilateral positiva e abrangente com um país que compartilha interesses geopolíticos e econômicos.
O slogan foi usado no ano passado para descrever os laços da China com países como o Vietnã e a Sérvia.
A visita de Estado de Xi em Brasília ocorreu após duas cúpulas em uma semana: o fórum da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) em Lima e, em seguida, o G20, com as principais economias do mundo, no Rio de Janeiro.
Enquanto Xi desempenhou um papel central em ambas as cúpulas, o presidente dos EUA, Joe Biden, chegou como um “pato manco” – da expressão em inglês lame duck, quando um político cumpre um mandato, mas tem pouco poder efetivo – , com apenas dois meses restantes na Casa Branca e pouco espaço para promessas duradouras, já que seu sucessor, Donald Trump, promete uma revisão total da política externa norte-americana.
Uma foto de família no primeiro dia da cúpula do G20 no Rio teve Xi na frente e no centro, ao lado dos presidentes do Brasil, Índia e África do Sul – parceiros da China no grupo Brics das principais nações em desenvolvimento e os três anfitriões consecutivos do G20 de 2023 a 2025.
Biden não compareceu a essa sessão de fotos por “razões logísticas”, informou a Casa Branca.
Com Biden sem força e Trump avesso a fóruns multilaterais, diplomatas e especialistas em política externa disseram que a ofensiva de Xi estava preenchendo um vácuo em uma ordem global instável.
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As reuniões paralelas da China com as potências ocidentais em meio a tensões comerciais e geopolíticas, desde os EUA e o Reino Unido até a França e a Alemanha, mostraram uma virada conciliatória de Pequim antes de mais quatro anos difíceis enfrentando Trump, disse Li Xing, professor do Instituto de Estratégias Internacionais de Guangdong.
“A estratégia da China é clara, a postura que ela está demonstrando é a de deixar de lado o ressentimento do passado”, disse Li. “Definitivamente, trata-se de um ajuste, e tudo isso se deve ao fato de a cúpula do G20 deste ano estar em um período de transição após a eleição dos EUA.”
Nos bastidores, vários diplomatas que participaram de cúpulas anteriores do G20 notaram uma postura em evolução por parte dos chineses, menos focada em seus próprios interesses restritos e mais proativa na formação de um consenso mais amplo.
“A China está muito mais participativa e muito mais construtiva”, disse um diplomata brasileiro, que pediu anonimato para discutir as negociações.
Um diplomata europeu observou que os pares chineses ajudaram a criar um consenso este ano em várias frentes, inclusive em tópicos como os direitos das mulheres, nos quais eles não eram tradicionalmente ativos. Parecia um movimento consciente para ocupar um fórum multilateral que Trump provavelmente negligenciará, acrescentou o diplomata.
“Um lugar deixado desocupado será ocupado por outro”, disse o diplomata europeu. “Aparentemente, a China está interessada em ocupar mais do que tem ocupado até o momento.”
Guerras e convergência de visões
Lula, que recebeu críticas de autoridades americanas e europeias por encurtar sua participação nas discussões do G20 sobre os conflitos globais, destacou uma “convergência de visões sobre segurança internacional” com Xi Jinping.
Xi reiterou que não há solução simples para a guerra da Rússia na Ucrânia e defendeu a ampliação do diálogo internacional em prol da paz. Sobre Gaza, o líder chinês alertou para os crescentes riscos de contágio do conflito.
“Estamos profundamente preocupados”, declarou Xi, por meio de um intérprete oficial fornecido pelo governo chinês.
Lula afirmou que os dois países estabelecerão sinergias entre as estratégias de desenvolvimento brasileiras — como o Novo PAC, o Programa de Rotas de Integração Sul-Americana e o Plano de Transformação Ecológica — e a Belt and Road Initiative. O comentário foi feito durante a recepção de Xi no Palácio da Alvorada, logo após a cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
Com Reuters e Bloomberg
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