Se for preciso fazer mais intervenções no câmbio, “assim faremos”, disse nesta sexta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltando que o câmbio é flutuante e que as atuações ocorrem em momentos de disfuncionalidade no mercado.
Em evento promovido pela XP Investimentos, Campos Neto disse que a intervenção anunciada pelo BC na quinta-feira foi feita porque a autarquia entendeu que era necessário rebalancear o fluxo de dólares por conta de um rebalanceamento de índice do mercado.
O presidente do BC fez menção ao rebalanceamento do índice MSCI Brazil, que passou a incluir ações de companhias brasileiras listadas no exterior, como Nubank, XP, Banco Inter, Stone e PagBank. Diante disso, a venda de dólares atendeu a um ajuste dessa carteira, que, ao servir como referência para ETFs e outros fundos de investimentos, gerou uma demanda atípica por dólares.
A moeda americana subia frente ao real nesta sexta-feira, ampliando os ganhos de sessões recentes, conforme investidores digeriam dados moderados de inflação nos Estados Unidos e observavam a disputa pela Ptax, mesmo após o Banco Central vender US$ 1,5 bilhão em leilão no mercado à vista.
Na quinta-feira, o dólar à vista fechou em alta de 1,19%, cotado a R$ 5,6227.
Uma série de fatores afeta as decisões dos investidores nos mercados de câmbio, com a força do dólar no exterior e a disputa pela Ptax se sobrepondo à influência de um leilão à vista realizado pelo BC.
A disputa pela definição da Ptax de fim de mês, que baliza contratos de comércio exterior e outras operações, que ocorre nesta sexta, influenciava os negócios, com os investidores comprados impulsionando as cotações.
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Campos Neto sinalizou ainda a possibilidade de o BC retomar um ciclo de alta de juros, ainda que de maneira comedida. O dirigente disse que um eventual ciclo de ajuste nos juros básicos, se ocorrer, será gradual, ressaltando que a autarquia optou por não dar uma orientação futura para a política monetária.
Em evento da XP Investimentos, Campos Neto ainda avaliou que o prêmio de risco marcado pelos agentes de mercado na parte curta da curva de juros futuros não é compatível com as comunicações recentes do BC, que são fruto da convergência de opiniões da diretoria colegiada.
Em sua apresentação ele enfatizou que ajustes futuros nos juros serão ditados pelo firme compromisso com a meta de inflação e que o BC fará o que for preciso para alcançá-la.
“Nós entendemos que se e quando houver um ciclo de ajuste nos juros, esse ciclo será gradual”, disse. “A gente entende que o tempo é importante, então a gente optou por passar uma mensagem que, se e quando houver esse ciclo, ele será gradual.”
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Em sua reunião de julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano e incluiu em seu cenário a possibilidade de alta dos juros básicos se necessário para atingir a meta de inflação de 3%, embora não tenha dado um “guidance” para o que será feito na reunião de setembro.
Na apresentação, Campos Neto afirmou que o fato de não haver “guidance” também tem um significado porque mostra que o BC está mais dependente de dados para tomar suas decisões.
Para Campos Neto, que argumentou que o BC precisa de flexibilidade neste momento, o custo de dar uma orientação futura para a política monetária seria uma possível perda de credibilidade.
Em relação aos dados de inflação, ele disse que apesar de número recente “um pouco melhor”, o tema ainda exige atenção, também citando uma leve alta de itens menos voláteis e a desancoragem das expectativas de mercado.
(Por Bernardo Caram)
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