Os varejistas brasileiros estão animados com a Black Friday deste ano, que acontece em 25 de novembro. Contudo, o consumidor deve ficar atento ao garimpar produtos com descontos para evitar golpes e cair na chamada “black fraude“.
Estimativa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) projeta que a Black Friday 2022 deve movimentar R$ 6,05 bilhões no comércio eletrônico, com o número de pedidos atingindo 8,3 milhões –um aumento de 3,5% em relação a 2021.
“Acredito que a Black Friday deste ano será melhor que a do ano passado, que foi bastante fraca”, afirma Claudio Felisoni de Angelo, economista e presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar).
Angelo reforça que a Black Friday não cria uma demanda extra ou uma oportunidade adicional, mas uma disposição de compra para condições que já estão dadas. “Cria os estímulos para a compra em condições supostamente vantajosas de alguns produtos, motivada por ampla campanha pelos veículos de comunicação.”
Essas condições vantajosas, diz o presidente do Ibevar, fizeram com que surgissem alguns casos de fraude, principalmente na taxação de preços, dando a Black Friday a alcunha de black fraude. Na edição de 2021, a ClearSale, empresa especializada em soluções antifraude, detectou aumento de 131,5% de fraudes no e-commerce entre 25 e 29 de novembro.
“Hoje, as grandes empresas estão mais atentas a isso para não comprometer seu nome e seu posicionamento. Como há um monitoramento dos preços, elas têm tomado mais cuidado”, pondera Angelo ao reforçar que a política de promoções se expandiu para outras áreas, como a de serviços. “Nessas condições, o oportunismo acaba sendo corriqueiro. E tem muitas empresas e golpistas que se aproveitam da ideia de uma promoção para ludibriar o consumidor final.”
Miriam von Zuben, analista sênior de segurança do Cert.br (Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil), um grupo de resposta a incidentes de segurança nacional na internet e mantido pelo Comitê Gestor da Internet, lembra que os golpistas costumam explorar momentos como Black Friday e Natal, em que os consumidores estão mais suscetíveis a compras e a descontos, para tentar enganá-los, “oferecendo descontos falsos, criando lojas fraudulentas e enviando mensagens maliciosas na tentativa de obter senhas e informações pessoais”.
“Para despertar o senso de urgência e aumentar as chances dos consumidores caírem em golpes, os golpistas costumam usar artifícios como fim de estoque e oferta por tempo limitado. Ao terem que se decidir rapidamente acabam sendo induzidos a erros e não prestam atenção nos detalhes”, complementa.
Veja abaixo uma lista de quais os golpes mais comuns, quais as principais dicas para realizar boas compras com segurança e como se prevenir ao investir no mercado financeiro durante a Black Friday. para elaborar o conteúdo, o InvestNews reuniu orientações da Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senacon/MJSP), do Procon-SP, do Cert.br, da Serasa, do Ibevar e da ONG SaferNet.
O que é ‘black fraude’?
A Black Friday começou a se espalhar nos EUA no final dos anos 1980 e início dos 1990, mas só ganhou o título de maior dia de compras do ano nos anos 2000. A data foi adotada em vários países, e no Brasil, começou em 2010.
Contudo, os consumidores brasileiros se frustraram com a data cheia de ofertas ao caírem em muitas armadilhas, como falsos descontos, anúncio de produtos ou serviços indisponíveis, fretes elevados, pedidos cancelados após a compra, a não entrega dos produtos e até golpes financeiros. Em pouco tempo, a Black Friday brasileira ganhou a alcunha de “black fraude”.
Pesquisas do Ibevar mostram que nos primeiros anos do evento no Brasil havia um sentimento de desconfiança dos consumidores, o que foi melhorando ao longo do tempo. Porém, ainda há casos de abusos. Em 2020, por exemplo, o instituto identificou ofertas de lojistas que aumentaram em até 70% o valor do produto.
“Grande parte dos golpes tem a ver com o que a gente chama de engenharia social. São situações que levam a pessoa a cair num golpe a partir de algum tipo de promoção, de desconto, que parece muito bom e verdadeiro. A pessoa é induzida a, por exemplo, fornecer dados de cartão de crédito a uma empresa falsa, ou a adquirir um produto”, afirma Guilherme Alves, gerente de projetos da ONG SaferNet, especializada em segurança na internet.
Quais são os golpes mais comuns da Black Friday?
- Maquiagem de preços (descontos artificiais).
- Ofertas milagrosas: sites, principalmente desconhecidos, oferecem produtos a preços muito baixos em relação à concorrência (descontos exorbitantes).
- Sites, páginas e emails falsos.
- Valor de frete abusivo e rápido tempo de entrega.
- Finalizar compra online, e o valor do produto ser distinto do anunciado.
- Anúncio de produtos falsos ou serviços indisponíveis.
- Mudança de preço no carrinho virtual ao finalizar a compra.
- Pedido cancelado pela empresa após a finalização da compra.
Guilherme Alves, da ONG SaferNet, explica como funciona alguns desses golpes.
Sites falsos
É comum haver páginas que imitam sites de marcas grandes e verdadeiras. Esses sites falsos levam o consumidor a comprar achando que está na loja verdadeira. Por isso, é importante que as pessoas verifiquem o endereço dos sites que estão visitando.
Anúncios falsos em redes sociais
Esses anúncios são proibidos nas redes sociais, porque, teoricamente, são anúncios de phishing (fraude que rouba dados diversos do usuário). Mas não é incomum ter perfis que se passam por lojas de redes de varejo, por exemplo, oferecendo ótimos descontos.
Ao receber alguma promoção por uma rede social, é importante verificar se aquele perfil é realmente o oficial da loja. As grandes redes sempre terão o perfil verificado (selo azul, que confirma a autenticidade da conta).
Promoções falsas via WhatsApp
Circulam muitas mensagens com supostos cupons de descontos, promoções e liquidações ou até mensagens que direcionam para um site fraudulento. Também há casos em que podem solicitar que a pessoa, por exemplo, faça uma compra pelo próprio aplicativo, pagando via Pix ou fornecendo dados do cartão de crédito. Sempre é aconselhado desconfiar de promoções em aplicativos de mensagem e não clicar no link.
Lojas fraudulentas
Uma das técnicas é anunciar produtos com valores muito abaixo do mercado. As lojas até enviam alguns dos produtos que são comprados, mas a imensa maioria dos consumidores nunca recebe. Essa entrega é uma estratégia para que os consumidores receberam o produto, por exemplo, e deixem comentário positivo da loja.
Nesses casos de lojas fraudulentas, é sempre importante verificar a reputação dessas lojas em sites como Reclame Aqui ou nas próprias redes sociais.
Produtos falsificados
O consumidor pode encontrar produtos falsificados, principalmente os eletrônicos, anunciados em sites de vendas e até de lojas de varejo. É importante verificar a descrição do produto, as características (como modelo e marca), para não ser enganado por um anúncio que parece ser de um produto, mas na verdade é uma réplica ou um modelo diferente daquele que aparece na ilustração.
Descontos artificiais
É uma prática abusiva em que algumas lojas sobem o preço do produto um pouco antes da Black Friday, e voltam ao preço normal no data, como se fosse uma oferta, mas, na realidade, é um desconto artificial. No fim das contas, o preço é o mesmo ou até maior do que era antes da Black Friday. Para evitar isso, as pessoas podem buscar por sites que comparam preços, como o Buscapé, que mantêm um histórico.
Dicas para evitar golpes
Veja abaixo alguns cuidados que o consumidor pode ter para se proteger:
Cuidado com sites e emails fraudulentos
- Consultar a lista de sites não recomendados, divulgada por alguns Procons, como o de São Paulo – confira aqui a lista.
- Site deve apresentar em local de destaque seus dados, como endereço físico, telefone, email, CNPJ e nome da empresa.
- Consulta a página oficial da empresa pelo endereço online e não por links duvidosos recebidos por email ou celular, como SMS, WhatsApp entre outros. Tais anúncios podem servir para instalar software malicioso.
- Evitar sites desconhecidos, com nomes estrangeiros, divulgados pelas redes.
- Ter cuidado ao clicar em links e ofertas recebidas por email ou redes sociais.
- Evitar clicar em anúncios em redes sociais de fornecedores desconhecidos, pois não há qualquer garantia de proteção.
- Manter programas de antivírus atualizados e proteger seus dados.
Informar-se sobre a reputação da loja e sobre as condições da oferta
- Verificar se a empresa e o site são confiáveis. O consumidor pode conferir a reputação de grandes varejistas na plataforma consumidor.gov.br.
- Ler folhetos e anúncios com as promoções e comparar as ofertas.
- Se a oferta for pela internet, ter cópia dos anúncios e das condições para comprovar ao fornecedor ou ao Procon, em caso de descumprimento da loja.
- Verificar se a loja física ou site permitem a troca do modelo, ou tamanho do produto após a compra. Se permitir, no caso da loja física, solicitar na nota fiscal ou na etiqueta, por exemplo, de que a troca é permitida.
- Baixar aplicativos somente da loja oficial ou do fabricante do dispositivo. Mesmo assim, cuidado com aplicativos falsos. Antes de instalar, confirme o nome do aplicativo e se o desenvolvedor é mesmo quem deveria ser.
Prestar atenção às promoções e comparar os preços anunciados
- Monitorar os preços algumas semanas antes da data para não cair em falsas promoções. Alguns descontos já podem estar disponíveis dias antes.
- Comparar os preços em sites de pesquisa, assim como os descontos e as condições de pagamento.
- Certificar se descontos ofertados valem a pena e se são reais.
- Se identificar prática enganosa de manipulação de preços, como aumento de preço pouco antes do produto entrar em “promoção”, denunciar ao Procon.
Atenção para segurança nos pagamentos, incluindo via Pix
- Exigir sempre a nota fiscal.
- Verificar certificados de segurança de pagamentos nas transações bancárias realizadas com o fornecedor.
- Não fornecer dados bancários a sites que não têm certificados de segurança.
- Sites para pagamento da internet devem ter endereço inicial com “https://” ou imagem de pequeno cadeado fechado no canto inferior direito da tela.
- Acessar somente sites do fornecedor digitando o endereço diretamente em seu navegador, evitar links existentes em uma página ou em uma mensagem.
- Evitar compras ou pagamentos por meio de computadores de terceiros, ou por meio de redes wifi públicas.
- No caso de Pix, conferir dados do recebedor. Lembrar de cadastrar chaves apenas nos canais oficiais da instituição financeira, como aplicativo ou agências, e desconfiar de contatos ou ofertas de ajuda não solicitadas.
- Alguns sites, marketplaces e administradoras de cartões de crédito podem oferecer garantias específicas de proteção ao consumidor em fraudes.
- Desconfiar de empresas que só aceitam boletos bancários ou transferências como formas de pagamento.
- Antes de finalizar a compra, observar o valor do frete, o valor do produto e o prazo de entrega.
- Confirmar sempre o preço informado no carrinho virtual. Se houver diferença no valor do produto, o que vale é sempre o menor preço.
- Prefira usar um cartão de crédito virtual para pagar suas compras. Assim fica mais fácil bloqueá-lo em caso de fraudes e vazamentos de dados.
- Ativar a verificação em duas etapas em todas as suas contas que ofereçam este recurso. Caso um golpista obtenha senhas, ele não conseguirá acessar as contas, pois precisará de informações extras. Atenção especial às contas de email usadas para recuperar senhas em sites de comércio eletrônico.
Prazo de arrependimento para compras fora do estabelecimento comercial
- O Código de Defesa do Consumidor afirma que, no caso de compras feitas pela internet ou fora do estabelecimento comercial (telefone, porta em porta, por exemplo), é possível desistir no prazo de sete dias, contados a partir data da compra ou da entrega do produto, para devolução ao fornecedor e o recebimento de todas as quantias pagas.
- Compras em lojas físicas não têm essa garantia legal, portanto é importante refletir se há realmente a necessidade de aquisição do produto ou serviço.
- Antes de efetuar o pagamento, verificar as políticas de devolução e de trocas.
Registre reclamação caso não consiga resolver o problema
- Entrar em contato diretamente com a empresa para resolver seu problema.
- Se não resolver o problema diretamente com a empresa, o consumidor tem à disposição a plataforma consumidor.gov.br. Basta registrar a reclamação, caso a empresa esteja cadastrada, ou procurar o Procon mais próximo.
O Código de Defesa do Consumidor, no artigo 35, determina que, caso o fornecedor se recuse a cumprir a oferta, o consumidor pode:
- Exigir cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade.
- Aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente.
- Rescindir contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
O que fazer se cair em um golpe virtual?
Se cair em um golpe, como dar acesso ao cartão de crédito para uma loja fraudulenta ou golpista, ou fazer transação via Pix ou boleto, o consumidor deve:
- Registrar um Boletim de Ocorrência em uma delegacia da Polícia Civil (presencialmente ou digital) ou na Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI), se tiver em sua cidade.
- Denunciar sites falsos ao Procon, Senacon/MJSP, Serasa ou na plataforma de denúncia da SaferNet, por exemplo.
- Trocar senhas de contas bancárias, redes sociais, emails e aplicativos.
- Guardar comprovante das promoções e da compra para comprovar a fraude.
- Informar a instituição financeira sobre a irregularidade.
Como evitar cair em golpes na Black Friday no mercado financeiro?
As fraudes durante a Black Friday não são restritas ao setor de comércio e serviços. O investidor também deve ficar atento com falsas promoções na hora de aplicar seu dinheiro.
“Normalmente, temos falsas empresas de investimentos forjadas por criminosos, com promessas de retornos totalmente fora do padrão do mercado, expondo isso como uma grande vantagem. Utilizam sempre o senso de urgência com frases: ‘É o último dia para aproveitar, é só hoje’”, alerta Luca Panelli, assessor de investimentos na iHUB Investimentos.
Na Black Friday, o investidor pode encontrar boas oportunidades, mas é fundamental que as condições para o investimento estejam alinhadas às suas necessidades. “Normalmente, as corretoras exigem um valor mínimo para ser elegível a determinada campanha. A taxa contratada pode parecer interessante, mas, dependendo do vencimento, o investidor pode pagar a alíquota máxima do Imposto de Renda.”
Nesse período, o investidor deve ficar atento às “promoções de investimentos”. Panelli afirma que corretoras chegam a “oferecer Certificado de Depósito Bancário (CDB) com taxas diferenciadas, uma bonificação para abrir conta na corretora, que pode chegar a R$ 200, por exemplo”.
Para evitar cair na “black fraude”, o assessor de investimentos da iHUB Investimentos explica que o investidor não deve aplicar em empresas que não têm um histórico no mercado financeiro e sempre desconfiar de oportunidades que os retornos destoam do padrão do mercado. Também deve verificar no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se a empresa é devidamente cadastrada e possíveis queixas no site do Reclame Aqui.
“Como vivemos na era dos influenciadores, não confiar 100% em influenciadores. Muitos são usados para divulgar empresas malintencionadas. É fundamental o investidor investigar qualquer oportunidade para não cair em golpe”, acrescenta Panelli.
Black Friday 2022 x Copa
Um dos motivos para o otimismo dos varejistas para a Black Friday 2022 é que o evento comercial de descontos será durante a Copa do Mundo, que começa no próximo dia 20. A estreia do Brasil no Mundial será em 24 de novembro, véspera da Black Friday.
Analistas de mercado já apontam o Brasil como favorito a conquistar o Mundial pela sexta vez. E essa perspectiva de vitória, aliada às compras de Natal, eleva a tendência de aumento das vendas no comércio.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen Brasil, 50% dos consumidores têm intenção de comprar itens relacionados aos preparativos para a Copa na Black Friday. Já o Instituto Reclame Aqui aponta que parte dos 12 mil usuários da plataforma estão dispostos a gastar nesse período.
Veja também
- Ferrari, Chanel, Goyard: por que grandes marcas de luxo não participam da Black Friday?
- Black Friday: Camisas de futebol entram na onda dos descontos; veja lista
- Black Friday 2024: SUVs e picapes zero km têm descontos no Brasil; veja lista
- Viagens, bolsas, joias e até barcos: como garimpar itens de luxo na Black Friday?
- Black Friday tem bolsas Chanel, Gucci, Dior e D&G ‘seminovas’ com até 60% de desconto