O superávit comercial da China disparou no ano passado para um recorde, enquanto os exportadores correram para compensar a fraca demanda interna e se antecipar ao retorno do presidente eleito Donald Trump à Casa Branca.
O superávit foi um inédito US$ 992 bilhões em 2024, de acordo com um comunicado da administração alfandegária divulgado na segunda-feira (13). Esse número foi 21% maior em relação ao ano anterior e foi impulsionado por exportações recordes e importações fracas.
O valor dos embarques cresceu em quase todos os meses do ano passado, ultrapassando as máximas de 2022, durante a pandemia. A forte demanda do exterior ajudou a fornecer crescimento a uma economia doméstica que enfrenta uma crise habitacional contínua e consumo fraco, embora esse suporte agora enfrente desafios externos.
As exportações aumentaram quase 11% para US$ 336 bilhões em dezembro, o segundo maior mês já registrado, e atrás apenas de dezembro de 2021, quando as empresas chinesas experimentaram um aumento de demanda gerada pela pandemia. As remessas de saída para todo o ano alcançaram US$ 3,6 trilhões. As importações cresceram 1% no último mês e 1,1% no ano todo.
“Olhando para os próximos meses, esperamos que a antecipação das exportações para antecipar tarifas continue a estimular as vendas ao exterior, semelhante à tendência observada durante a primeira guerra comercial EUA-China”, disse David Qu, economista da Bloomberg Economics.
Este pode ser um dos últimos pontos altos para o comércio chinês, pelo menos diretamente com os EUA, com Trump prometendo impor tarifas ainda mais altas sobre produtos chineses quando assumir o cargo na próxima semana. Tarifas punitivas podem levar empresas chinesas a redirecionar suas exportações, inundando outros mercados com produtos baratos e ampliando as tensões comerciais.
“Os exportadores provavelmente anteciparam uma potencial guerra comercial para ocorrer em 2025 e aceleraram as entregas para evitar tarifas mais altas no futuro,” disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management. “A questão-chave a ser observada são as políticas de Washington DC nas próximas semanas e as reações políticas de Pequim.”
As exportações para os EUA subiram para o nível mais alto em mais de dois anos em dezembro, atingindo quase US$ 49 bilhões e elevando o total anual para US$ 525 bilhões.
Apesar de embarcar quantidades recordes de produtos, os exportadores chineses têm recebido menos dinheiro por suas mercadorias, pois os preços de exportação caem há mais de um ano, à medida que a deflação na China piora e reduz os custos dos produtos. O resultado é que o crescimento no volume do comércio chinês tem superado o valor, com o volume total de exportações aumentando 7,3% até novembro, de acordo com o Ministério dos Transportes, mais rápido que o aumento de 5,4% nos valores.
Isso pode ser visto no porto de Xangai, que no ano passado se tornou o primeiro no mundo a movimentar o equivalente a mais de 50 milhões de contêineres de 20 pés. O porto processou 51,5 milhões de contêineres no ano passado, quase 5% a mais do que em 2023 e 19% acima de 2019, o ano anterior à pandemia.