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Um dia antes da entrada em vigor das tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump à China, ao Canadá e ao México, o presidente chinês, Xi Jinping, se prepara para anunicar um novo pacote de estímulo ao consumo interno. O país registrou em fevereiro uma leve recuperação da desaceleração da economia, com a maior expansão em três meses da atividade industrial, com novos pedidos e os volumes de compra mais altos levando a um aumento sólido na produção, segundo uma pesquisa oficial de fábrica divulgada no sábado (1º).
Além disso, avanços em inteligência artificial e o recente apoio de Xi aos empreendedores privados, como Jack Ma, da Alibaba, impulsionaram uma alta vertiginosa de ações de empresas chinesas.
A notícia sobre a expansão da atividade industrial, divulgada dias antes do início do Congresso Nacional do Povo, a reunião parlamentar do governo chinês, deve tranquilizar as autoridades de que as novas medidas de estímulo lançadas no final do ano passado estão ajudando a sustentar uma recuperação irregular na segunda maior economia do mundo.
Meta de crescimento ambiciosa
O congresso tem início na próxima quarta-feira (5), um dia depois da entrada em vigor das novas tarifas anunciadas por Trump.
Nele, Xi Jinping chega com a confiança recuperada, apesar do desafio que a guerra comercial deve impor à economia.
Os congressistas, incluindo membros do governo central e líderes regionais, definirão uma meta de crescimento ambiciosa de cerca de 5%, de acordo com a maioria dos analistas consultados pela Bloomberg.
A economia chinesa de US$ 18 trilhões atingiu a meta de crescimento do governo de “cerca de 5%” em 2024, embora de forma desigual, com as exportações e a produção industrial superando em muito as vendas no varejo, enquanto o desemprego permaneceu persistentemente alto.
Para alcançar esse número em 2025, os especialistas esperam que Pequim aumente o déficit orçamentário oficial da China para o maior em mais de três décadas, injetando trilhões de yuans em um sistema que luta contra a deflação, a queda no mercado imobiliário e agora uma guerra comercial com os EUA.
O presidente Donald Trump prometeu dobrar a sobretaxa sobre produtos chineses para 20%, além de impor tarifas amplas ao Canadá e ao México a partir desta terça (4).
A China está prestes a mudar sua política “bastante” este ano, disse Yao Yang, professor de economia na Universidade de Pequim, que alertou que as medidas ainda podem não ser suficientemente ousadas.
“Minha primeira preocupação é que o estímulo fiscal não seja suficiente, especialmente quando consideramos a dívida dos governos locais”, disse ele. “Em segundo lugar, se China e EUA não conseguirem negociar um acordo, o governo americano provavelmente aumentará as tarifas. Então entraremos em uma guerra de represálias. Isso será muito ruim.”
Retaliação contra a soja americana
O Ministério do Comércio da China disse na sexta-feira que espera voltar às negociações com os Estados Unidos o mais rápido possível, alertando que se isso não for feito, poderá haver retaliação. Um dos alvos das medidas retaliatórias são os produtos agrícolas e alimentícios dos EUA, de acordo com o Global Times.
A resposta de Pequim provavelmente incluirá tarifas e medidas não tarifárias, relatou o veículo de notícias, apoiado pelo Partido Comunista, nesta segunda-feira (3), citando uma pessoa não identificada. O Global Times, que não forneceu detalhes específicos, é ocasionalmente usado para sinalizar as posições da China ao mundo exterior.
A ameaça de uma guerra comercial em escalada fez os preços do farelo de soja chinês — usado em alimentos e rações animais — subirem quase 3%, o maior aumento em mais de três semanas. Uma interrupção nos envios de soja dos EUA poderia apertar ainda mais o mercado.
A nação asiática é a maior importadora mundial de soja, que normalmente é processada em óleo de cozinha e ração animal, particularmente para o grande rebanho de suínos do país.
No início do mês passado, a China retaliou às tarifas iniciais de Trump com impostos sobre uma gama de produtos dos EUA, incluindo metais, gás natural liquefeito e maquinário agrícola, mas evitou impor taxas sobre as safras agrícolas.
O mercado de farelo de soja da China se contraiu este ano, pois as esmagadoras comerciais evitaram reservar soja dos EUA devido a preocupações comerciais, enquanto as autoridades aduaneiras chinesas atrasaram a liberação de algumas cargas à medida que as autoridades buscam fortalecer a indústria local.
Primeiro mandato de Trump
Durante o primeiro mandato de Donald Trump, Pequim impôs tarifas pesadas a uma lista de produtos agrícolas dos EUA, incluindo soja, em resposta às suas sobretaxas, levando a uma queda de quase 80% nas vendas de soja americana para a China ao longo de um período de dois anos. Desde então, a nação asiática passou a comprar mais do Brasil.
Ainda assim, os EUA permanecem como uma fonte importante de grãos para a China, incluindo trigo e milho. Na sexta-feira (28), um porta-voz do Ministério do Comércio chinês disse que a nação “responderá com todas as medidas necessárias para defender seus direitos legítimos e interesses” em resposta às tarifas iminentes.
Com informações das agências de notícias Bloomberg e Reuters.