O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar nesta quinta-feira (25) medidas para baratear os preços do carro zero, que têm subido acima da inflação e marcado um período do mercado sem os chamados “carros populares”. Hoje, os modelos novos mais baratos no Brasil custam perto de R$ 70 mil.
Lula e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, participam nesta manhã de uma reunião com representantes de entidades do setor automotivo, no Palácio do Planalto. Segundo comunicado do Planalto, Lula e Alckmin “anunciarão medidas de curto prazo para ampliar o acesso da população a carros novos e alavancar a cadeia produtiva ligada ao setor automotivo brasileiro”.
Entre as medidas que o governo pode anunciar está a possibilidade de financiar carros com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o que hoje só é permitido fazer para a compra de imóveis.
A mudança viria em um cenário de juros altos, com a Selic mantida em 13,75%. Segundo dados da B3, até abril de 2023 foram financiados 580 mil carros novos, uma alta em relação aos 490 mil do mesmo período em 2022, mas sem recuperar o patamar pré-pandemia (em 2019, foram 691 mil no mesmo período).
Outra possibilidade é a redução dos impostos, que hoje representam de 24% a 32% do preço total dos carros novos, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Mas nem toda essa fatia vai para os cofres do governo federal. Veja abaixo:
- Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI, um imposto federal): de 5,2% a 18,8% do preço do carro.
- Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS, um imposto estadual): 12% do preço do carro.
- PIS/Cofins (tributo federal): 11,6% do preço do carro.
O IPI varia de acordo com o motor dos carros. De acordo com os dados mais recentes, de abril de 2023, mais da metade dos carros zero vendidos no país (54,6%) são modelos com motor 1.0, com IPI de 5,2%. Outros 43,4% das vendas são de carros que têm entre 1.0 e 2.0 litros de cilindrada, com IPI de 9,78% do total do preço para carros como motor a gasolina e 8,28% para os flex.
Uma redução de impostos, no entanto, viria em um contexto de uma série de tentativas do governo de elevar a arrecadação para cumprir as regras do novo arcabouço fiscal que tramita no Congresso.
De qualquer forma, se for confirmada, esta não seria a primeira redução do IPI sobre os automóveis sob um governo do presidente Lula. Em 2008, o imposto foi reduzido como uma das medidas de um pacote para estimular a economia.
Preços sobem mais que a inflação
Nos últimos 4 anos, os preços do carro zero no Brasil subiram, em média, 34,7% no Brasil, segundo levantamento feito por Matheus Peçanha, economista do FGV IBRE, a pedido do InvestNews. No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor – 10 (IPC-10), indicador de inflação calculado pela FGV, teve alta de 24,4%.
Considerando os dados dos últimos 12 meses até maio de 2023, o preço do carro zero acumula alta de 6,3%, contra 3,5% do IPC-10.
O avanço nos últimos anos veio na esteira de uma mudança de estratégia das empresas do setor, que passaram a concentrar investimentos em modelos de carros considerados mais rentáveis que os chamados “populares”.
Além disso, um dos principais fatores para a alta dos preços foi a sequência de desajustes na cadeia de produção de diversos itens durante a pandemia, que afetaram especialmente o mercado automotivo em meio a falta de semicondutores. Em abril de 2020, a indústria automotiva do Brasil chegou a registrar queda de 99% na produção.
A produção voltou a ganhar força nos anos seguintes, mas ainda não recuperou o patamar pré-pandemia, em um movimento semelhante aos números das vendas.
Considerando o acumulado dos quatro primeiros meses de 2023, a produção de veículos no Brasil teve alta de 4,8% sobre o mesmo período de 2022, para 714,9 mil veículos. As vendas avançaram 14,4%, para 632,5 mil.
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