A previsão para a Selic em 2024, que passou boa parte do ano na casa dos dois dígitos, encerra 2023 em 9%. Apesar da queda, especialistas chamam a atenção para as preocupações fiscais no ano que vem, o que pode alterar os rumos da política monetária, ainda que o cenário externo seja mais benigno.
Na última edição do ano, o Boletim Focus divulgado no dia 26 trouxe uma redução na previsão de especialistas para a taxa de juros, de 9,25% para 9% ao término do próximo ano. Ao mesmo tempo, a expectativa para a inflação também melhorou, caindo de 3,93% para 3,91%.
Esta, no entanto, não é a primeira vez em 2023 que o Focus traz essa mesma projeção para a Selic no ano seguinte. Entre agosto e outubro, a expectativa se manteve em 9%, em um ano marcado por volatilidade no humor do mercado (a projeção havia em 10% de fevereiro a junho).
As mudanças nas expectativas caminharam paralelamente às discussões sobre o cenário fiscal em Brasília. O avanço do arcabouço fiscal é apontado como um dos principais fatores de melhora na percepção dos investidores (ajudando, então, a puxar as previsões para os juros para baixo).
Mas, apesar da aprovação da medida, o assunto segue no radar e deve continuar trazendo volatilidade para as previsões sobre os juros em 2024. Especialistas do Goldman Sachs apontam que a as expectativas para a inflação ao final de 2024 seguem acima da meta, assim como nos anos seguintes, “o que provavelmente reflete a expectativa de que o governo não cumprirá as metas fiscais anunciadas (alterando a meta e/ ou apresentando fraca execução)”, conforme escreveram em relatório.
Sobre esse ponto, a Guide destacou também em relatório que “o desvio das projeções com relação à meta é o principal motivo pela opção por não aumentar a magnitude do corte da Selic para 0,75 p.p. ou mesmo 1 p.p. nas próximas reuniões”.
A referência é ao ritmo de cortes da Selic adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que tem feito cortes de 0,5 ponto percentual nas últimas reuniões e sinaliza que deve repetir o movimento nas próximas.
Dados da B3 sobre contratos de opção de Copom mostram que o mercado, de fato, espera um corte de 0,5 p.p da Selic em janeiro, com 90% das projeções apontando para uma taxa de 11,25%. Mas, para março, já há uma divisão um pouco maior, com quase 20% do mercado esperando uma redução de 0,75 p.p.
De qualquer forma, enquanto lá fora o cenário é de alívio por estimativas de juros mais baixos nos Estados Unidos, por aqui o foco segue sobre os sinais sobre as contas públicas. Carlos André Marinho Vieira, analista-chefe do TC, afirma que no ano que vem “a política fiscal será uma fonte de incerteza, com esforços voltados principalmente para o aumento da arrecadação, enfrentando resistências e limitações”.
A dúvida vem do fato de que, para cumprir a regra do arcabouço fiscal, o governo depende de aumento de receitas – o que esbarra em dificuldades políticas como fim de isenções e até aumento de impostos.
Outro sinal de alerta é que os efeitos que levaram ao alívio inflacionário em 2023 devem se dissipar em 2024, conforme escreveu o economista André Perfeito em comentário.
“Mantenho por ora a projeção de Selic em 9,75% na perspectiva que ‘as boas notícias de inflação’ tendem a rarear ao longo de 2024 e, apesar de não projetar nada grave, acredito que pode alterar o humor de investidores uma inflação de serviços mais forte por conta da queda do desemprego”
Economista andré Perfeito
Mas a Guide, que projeta Selic em 8,75% em 2024, aponta que a redução da projeção da inflação no último Focus pode ser um sinal contrário.
“A redução é marginal, mas importante quando colocamos no contexto. A previsão de IPCA do mercado estava subindo ou estagnada já faz semanas, e esse movimento de hoje pode virar uma tendência importante para o Banco Central”, escreveram especialistas da casa. Resta, então, acompanhar como se comporta a expectativa do mercado nos próximos boletins.
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