O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central brasileiro, e o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed), iniciam nesta terça-feira (19) suas reuniões de política monetária, com o mercado esperando amplamente uma redução da taxa Selic e uma pausa no aperto nos Estados Unidos. As atenções estarão mais voltadas a possíveis pistas sobre os próximos passos nos comunicados das duas autoridades monetárias.
No Brasil, os juros básicos devem sair dos atuais 13,25% ao ano para 12,75%, com uma nova redução de 0,5 ponto percentual dando sequência ao ciclo de cortes iniciado em agosto. Segundo dados da B3 sobre contratos de opção de Copom, essa é a expectativa de 96,8% do mercado.
Já nos Estados Unidos, segundo dados da ferramenta CME FedWatch, o mercado enxerga 97% de probabilidade manutenção da taxa de juros no intervalo entre 5,25% a 5,5%.
Perspectivas para inflação no Brasil
A continuidade do ciclo de queda da Selic acontece em meio à redução das expectativas do mercado para a inflação, com as projeções de 2024 já convergindo para a meta do BC.
Segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (18), especialistas reduziram suas projeções para a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano de 4,93% para 4,86%.
Apesar da redução, a projeção para este ano ainda está acima do teto da meta do BC de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja, 4,75%). Já para 2024, a expectativa foi reduzida de 3,86% para 3,89%, abaixo do teto da meta do BC. O centro é de 3%, com margem de tolerância de 4,5%.
Nesse cenário, as expectativas para que a Selic siga recuando ganham forças.
“Há um consenso que será unânime a decisão pela queda em 0,50 (ponto percentual). Não vejo um motivo para acontecer uma decisão diferente disso. Os fatores que colaboram para que tal decisão seja tomada são os dados de inflação apresentados nas últimas medições”
Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital
Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT CAPITAL, concorda que “ainda há indícios técnicos para haver esta redução”, já que “os dados da inflação subiram menos que o esperado”.
Essa perspectiva de queda dos juros se mantém entre os especialistas mesmo em meio ao ritmo de crescimento da economia acima do esperado – o que poderia, em tese, indicar aquecimento do consumo e, portanto, alta de preços. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 0,9% no segundo trimestre de 2023 na comparação com os três meses anteriores.
“O resultado do PIB do 2T23 mostrou uma economia brasileira muito mais resiliente do que se esperava, principalmente devido ao setor de serviços e o consumo das famílias, dois componentes importantes para a dinâmica inflacionária. No entanto, não acreditamos que isso leve a mudanças significativas para as expectativas de inflação neste ano”, diz Rafael Perez, economista da Suno.
“Primeiramente, o movimento de deflação em índices importantes como o IGP-M, a desinflação dos núcleos do IPCA, a queda nos preços de commodities agrícolas e de alimentos vêm ajudando na dinâmica inflacionária e tendem a compensar possíveis pressões por conta do aumento no consumo das famílias”.
Rafael Perez, economista da Suno
Ele acrescenta que “a perspectiva para o PIB até o final é de uma desaceleração moderada”. O que “também deve favorecer um quadro mais comportado para os preços”.
Riscos à frente
Apesar do cenário de inflação mais controlado, especialistas destacam os pontos que poderiam colocar em risco a continuidade do ciclo de queda da Selic.
“O BC está olhando de perto questões como as novas incertezas fiscais em torno da capacidade do governo entregar a meta fiscal do próximo ano”, cita Carvalho, da AVG, mencionando ainda os riscos para a inflação dos próximos anos em meio à alta das commodities, por exemplo.
Já Richetti, da GT, cita preocupações com os preços de energia e combustíveis. Mas ele também aponta perspectivas favoráveis como uma “boa comunicação entre Planejamento e Fazenda, o que dá um sinal de certa forma positivo para o Legislativo e o Senado continuarem a fazer as devidas aprovações que são necessárias com o Banco Central fazendo a sua parte”.
De olho também no Fed
Apesar da expectativa de uma nova pausa no ciclo de aumentos de juros nos Estados Unidos, investidores estão de olho nas próximas reuniões, com dúvidas sobre o patamar final que as taxas atingirão.
“Dada a recuperação econômica em andamento nos EUA e os desafios contínuos relacionados à inflação em setores específicos, é provável que, nessa decisão, o Fed também forneça insights sobre sua visão da economia americana e os riscos percebidos para o curto e médio prazo”, diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
“A percepção é de que o Fed está sendo cauteloso, esperando a reação da economia e do contexto inflacionário a cada decisão. Justamente por isso, ainda existe uma parcela do mercado que acredita em uma alta de 0,25 ponto percentual para as próximas reuniões.”
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos
Richetti, da GT CAPITAL, também aponta que não há consenso sobre os próximos passos do Fed e compara: “o principal case do aumento ou não aumento da taxa de juros americana é o controle da inflação, que, na minha visão, diferentemente do Brasil, ainda não está controlada. Os próprios indicadores ainda não dão certeza deste controle maior da inflação americana.”
Veja também
- Sem surpresas, Fed corta juros em 0,25 p.p. e destaca e crescimento econômico sólido
- Banco Central confirma expectativa e sobe Selic para 11,25% ao ano
- Dólar a R$ 6,00 e pressão sobre os juros: o contágio do ‘Trump trade’ para o Brasil
- Endividamento do governo cria oportunidades na renda fixa; títulos privados já pagam IPCA+9%
- Empresas dos EUA voltam ao mercado de dívida após Fed cortar juros