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Economia

Corte menor da Selic traria custo bilionário para as empresas

Diferença de 0,75 ponto na taxa básica equivale a R$ 4,6 bi em custos extras para companhias com dívida indexada ao CDI

Uma queda mais lenta da Selic, como o mercado passou a considerar nos últimos dias, pode ter um impacto bilionário no bolso das companhias. O que muitos economistas passaram a acreditar nos últimos dias – e a curva de juros futuros, a mostrar – é que o ciclo de cortes pode terminar com a Selic em 9,75%, e não mais em 9%.

Parece pouco, mas essa diferença de 0,75 ponto representa cerca de R$ 4,6 bilhões em termos de custo financeiro ao ano para as empresas brasileiras, segundo cálculos da Paramis Capital. 

Segundo Ricardo Nunes, CIO da Paramis, o estoque da dívida corporativa atrelada ao CDI é de R$ 613 bilhões. Com a Selic nos atuais 10,75%, o custo financeiro desse bolo é de R$ 65,9 bilhões por ano – sem levar em conta o spread definido no momento da emissão de cada uma das dívidas.

Se o juro básico caísse para 9%, conforme previa o mercado, esse custo-base seria reduzido para R$ 55,2 bilhões. Já se a taxa estacionar em 9,75% o alívio seria bem menor: R$ 59,8 bilhões. Temos aí a diferença de R$ 4,6 bilhões – dinheiro que, em vez de bancar o custo das dívidas, poderia se transformar em dividendos ou em investimentos no próprio negócio.

A preocupação do mercado com o rumo da Selic cresceu nos últimos dias, já que a inflação americana mais salgada colocou em xeque a existência de espaço para algum alívio monetário nos EUA. E qualquer mudança de expectativa sobre os juros americanos mexe com quase tudo: do preço de ações às decisões de política de todos os bancos centrais, inclusive o nosso.

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Não é só o exterior que está pesando sobre as expectativas por aqui, claro. A sinalização do governo de que o ajuste fiscal será mais lento do que se previa contribuiu para a piora de humor. Diante dessa combinação de fatores, alguns economistas respeitados passaram a prever uma Selic de 9,50% a 9,75% ao fim do ciclo de alívio monetário em curso. Já a curva de juros futuros – que capta diretamente a percepção de risco dos investidores – passou a contemplar um cenário ainda mais negativo, de uma alta da Selic para cima de 10,5%.

Um corte menor nos juros puniria diretamente companhias que emitiram dívidas atreladas ao CDI. Isso pode adiar ou limitar o alívio esperado para 2024. Afinal, a redução na Selic é citada por dez entre dez empresários como uma das razões para a melhora dos negócios neste ano, após trimestres desafiadores.

Ricardo Nunes, CIO de crédito e Wealth Management da Paramis Capital, afirma o seguinte: existe um nível de juro, entre 8,5% e 10%, considerado favorável para o mercado de crédito privado – porque garante um fluxo de investidores para as debêntures sem onerar demais as companhias. Ainda assim, ele reconhece que uma Selic mais perto de 10% do que de 9% prejudica o resultado das empresas. “Uma diferença de 0,75 ponto no custo de financiamento pode inviabilizar a execução de alguns projetos”, define.

Uma queda menor do juro tem o potencial de desacelerar a recuperação das companhias, sem dúvida, mas isso não se trata necessariamente de um cenário catastrófico. Para Ricardo Carvalho, diretor-executivo de corporates da Fitch Ratings, qualquer alívio será positivo.

“Qualquer taxa entre 9% e 10% é melhor do que o nível atual”, afirma. “É uma taxa ainda alta, machuca o balanço das companhias, mas já permite uma melhora da demanda.” Isso fica claro quando se olha para as vendas no varejo, que surpreenderam positivamente ao crescer  2,5% em janeiro.

“O efeito do juro demora a ser captado pelos balanços das empresas. Por isso achamos que, em qualquer cenário, o ambiente será melhor para os negócios”, diz. “A gente vê as empresas se desalavancando, ao mesmo tempo em que o mercado permanece muito líquido.”

A variável-chave para que esse cenário positivo se concretize, diz Carvalho, é o fiscal. “Qualquer coisa que seja pior [na definição da meta fiscal] do que o que já foi colocado vai mexer com a liquidez, trazer a aversão ao risco de volta, elevar o custo de captação e tirar o acesso de parte das companhias ao mercado de crédito”, conclui.

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