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Economia

Por que o dólar paralelo atingiu nível recorde na Argentina?

Em julho, cotação da moeda alcançou 340 pesos por dólar, bem acima do câmbio oficial, de cerca de 130.

Moeda local fraca, inflação elevada, limite de compra de dólares, crise econômica e incertezas advindas dos cenários político e econômico fizeram a busca pelo dólar paralelo crescer e bater nível recorde na Argentina no mês passado. Eram necessários mais de 340 pesos para comprar um dólar, bem acima do câmbio oficial, que é de cerca de 130 pesos por dólar.

Caio de Souza, sócio-fundador da Elev Investimentos, explica que, em momentos de economia fraca, o investidor e consumidor tendem a aportar seu capital em uma moeda mais forte.

“Então, houve uma corrida muito grande para a compra de dólar além da limitação imposta pelo governo, fazendo aumentar a procura pelo dólar paralelo. Por isso, essa oscilação e diferença tão grande entre a cotação oficial e a do paralelo”, explica Souza.

O dólar americano é uma referência monetária internacional, reconhecido por sua estabilidade, segurança e liquidez, sendo a principal moeda do mercado cambial. Apesar disso, não deixa de correr o risco de ser negociado de forma não oficial, por meio do chamado dólar paralelo.

Este câmbio informal pode se tornar uma grande “dor de cabeça” para quem compra e para o controle de moedas estrangeiras em uma nação, já que trata-se de uma transação irregular, ou seja, operações de compra e venda são feitas fora do mercado formal.

O que é dólar paralelo ou ‘dólar azul’ na Argentina

O dólar paralelo nada mais é do que a negociação de câmbio de forma extraoficial, ou seja,  sem reconhecimento e autorização do Banco Central de um país. 

João Victor Patrocinio, especialista Internacional da Blue3 Investimentos, diz que trata-se de um dólar que anda em paralelo à economia oficial, ou seja, que não é contabilizado pelo Banco Central, e, por esse motivo, costuma ser usado sem fiscalização.

Souza, da Elev Investimentos, explica que o dólar, legalmente, tem duas cotações principais: a comercial, usada em transações pelo comércio exterior, e turismo, usada em viagem ou compra de algum item importado, e quem comercializa a moeda é oficializado pelo Banco Central. Do contrário, são casas de câmbios e doleiros não autorizados.

No caso da Argentina, o dólar paralelo recebeu o nome de “dólar azul” (ou “dólar blue”), ou seja, trata-se de uma taxa de câmbio informal. 

O sócio-fundador da Elev Investimentos alerta para riscos ao uma pessoa física fazer a compra deste tipo de dólar: possibilidade de acabar adquirindo moeda falsa, além da chance de estar envolvido em crime de lavagem de dinheiro e sonegação, já que trata-se de um mercado ilegal e as pessoas estão sujeitas às punições previstas em lei.

Altas e baixas do dólar paralelo

Notas de dólar
Crédito: Stopabox

Como o dólar paralelo não tem fiscalização do Banco Central, sua cotação varia de acordo com a negociação de doleiros e casas de câmbio não regulamentadas. Dessa forma, por não ter regras e leis, a cotação pode sofrer quaisquer oscilações e chegar a variados valores.

Segundo Souza, a escalada do dólar na Argentina está relacionada, principalmente, pelo cenário econômico desfavorável na Argentina, incertezas após a renúncia de Martín Guzmán do cargo de ministro da Economia, além das restrições temporárias ao mercado de câmbio impostas pelo país, limitando a compra de dólares tanto pelos cidadãos quanto empresas.

Os argentinos podem comprar até US$ 200 por mês em dinheiro. Já as empresas só têm acesso a volume de divisas equivalente ao importado no ano passado mais 5%. Caso seja necessário mais dólares, precisarão fazer o levantamento de recursos via crédito. A intenção das medidas pelo governo é frear a elevada fuga de dólares e a perda de reservas da Argentina.

Para Souza, o cenário econômico da Argentina não é favorável, pois a moeda local está fraca, o país sofre com elevada inflação, além das incertezas advindas do cenário político.

O banco central argentino elevou no último dia 28 sua taxa básica de juros em 8 pontos percentuais, para 60%, marcando a sétima alta neste ano, em meio a um cenário de inflação que chegou a 64% no acumulado de 12 meses, com perspectivas de analistas que alcance os 80% ainda em 2022.

Em janeiro, a Argentina fechou um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a dívida de mais de US$ 40 bilhões que o país possui com a entidade. Este acordo permite a rolagem da dívida contraída pela Argentina no ano de 2018, durante a gestão de Mauricio Macri, começando a ser paga em 2026, se estendendo até 2034.

Por lá, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta de 6% no 1º trimestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano anterior, sendo o 5º trimestre consecutivo de crescimento. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projeta que o país terá crescimento de 3,6% neste ano.

Além disso, estima-se que 40% da população da Argentina vive em situação de pobreza, e o desemprego atingiu 7% no primeiro trimestre desse ano.

No último dia 6, o nível do risco-país da Argentina subiu para um pico recorde intradiário de 2.654 pontos-base, segundo o banco JPMorgan, por causa do aumento da desconfiança em relação à economia doméstica e às consequências de tensões no cenário político.

“Trata-se de um cenário bem catastrófico e a subida do dólar paralelo só informa e faz preocupar do que está acontecendo com a economia argentina, que corre um grande risco”, destaca Souza.

Impactos da circulação do dólar paralelo

Souza, sócio-fundador da Elev Investimentos, pontua que, quanto mais dólar paralelo em circulação em um país, mais o sistema fica fragilizado, ou seja, mais suscetível a crimes, operações de lavagem de dinheiro, bem como  sonegação fiscal, fragilizando a economia.

Patrocínio acrescenta que os impactos do dólar paralelo são graves, pois, ao não ser negociado de forma correta, trazendo complexidade para a economia, ainda não se tem um controle oficial do quanto entra e sai da moeda estrangeira no país.

Câmbio informal

João Victor Patrocinio, da Blue3 Investimentos, explica que não é só a Argentina que possui câmbio informal e utiliza várias cotações cambiais, mas que isso é, usualmente, visto em outros países, principalmente os emergentes, pois o dólar paralelo acaba se tornando uma realidade para a população em meio a cenários de crises econômicas, por exemplo.

Além disso, Patrocínio aponta que as principais formas deste câmbio irregular ser utilizado é no caso de quando, por exemplo, um investidor tem algum empecilho de continuar utilizando o dólar comercial em alguma transação; impedimentos da lei fiscal; além de quando pessoas são politicamente expostas e que não conseguem operar de forma legal no mercado  através do dólar comercial.

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