O dólar chegou ao menor valor em cerca de um ano, se aproximando da casa dos R$ 5. Na sexta-feira (4), a moeda norte-americana terminou o dia valendo R$ 5,03. Com diversos analistas apontando que a tendência é de queda, subiram as expectativas de que o dólar realmente possa chegar a valer menos de R$ 5 num curto prazo. A dúvida que paira no mercado, porém, é se o câmbio tem fôlego para permanecer nesse nível por mais tempo.
Para especialistas ouvidos pelo InvestNews, a queda do dólar a um valor abaixo de R$ 5 deve acontecer num curto prazo. “A expectativa é essa. Pode ser que nesta semana ele fique um pouco enrolado nessa região dos R$ 5, mas, sim, é possível ele perder essa região”, prevê Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.
“Como o (ministro da Economia, Paulo) Guedes disse, o dólar num preço justo seria R$ 4,80. Esses R$ 4,80 já é um sonho quase se tornando uma realidade. Está muito perto de chegar”, complementa Leonardo de Santana, especialista da Top Gain.
A dúvida, no entanto, é se o real tem fundamentos para permanecer nesse patamar frente ao dólar. E os principais fatores dos quais essa tendência depende são internos, segundo os especialistas. Um deles é a continuidade do avanço das pautas econômicas no Congresso – o que poderia continuar atraindo o investidor estrangeiro de maneira mais sustentável.
“Teríamos que ter alguns avanços em pautas importantes, como privatizações e reformas tanto fiscal quanto administrativa. Isso tornaria possível a manutenção da moeda norte-americana em torno de R$ 5 ou abaixo”, comenta Aldo Filho, analista da Aware Investments.
“Num curto prazo, ok, um dólar a R$ 5, R$ 4,80, é muito visível. Agora, a médio e longo prazo, vai depender muito das reformas”, concorda Santana.
Já Madruga fala que, “quem sabe”, o dólar possa atingir até o patamar de R$ 4,50. “A gente vai ficar esperando maiores desdobramentos, principalmente da reforma tributária e também da situação do dólar mundo afora”, condiciona.
O que pode fazer o dólar cair mais
Os especialistas comentam que, para analisar as perspectivas para o dólar, é preciso entender quais são os fatores que estão motivando a queda da moeda nos últimos meses.
Um dos principais tem sido o cenário externo, com investidores em todo o mundo de olho no rumo dos juros nos Estados Unidos – já que, com juros mais baixos, o país se torna menos atraente para investidores, reduzindo assim a demanda por dólares e, consequentemente, seu valor.
O Federal Reserve (Fed) tem mantido as taxas perto de zero e outros estímulos, indicando a manutenção desse cenário enquanto aguarda sinais claros de recuperação da economia dos Estados Unidos. Por esse motivo, a divulgação de dados sobre o mercado de trabalho mais fracos do que o esperado na sexta, por exemplo, ajudou a puxar o dólar para baixo.
Ainda do cenário norte-americano, os pacotes de estímulo à economia também pesam sobre a desvalorização do dólar. “Se a gente for analisar, tem um movimento bem sincronizado desde que começaram as injeções de liquidez, pacote fiscal americano, isso inflacionou muito o dólar. De lá para cá, o dólar vem perdendo muito força. Quanto mais dólar tem na mesa, mais fraco ele vai estar”, explica Santana.
Do lado do Brasil, em meio às expectativas de juros baixos nos EUA por mais algum tempo, o ciclo de alta da taxa Selic ajuda a depreciar o dólar ainda mais em relação ao real. Isso porque, aumentando a diferença entre as taxas dos dois países, o Brasil ganha potencial para atrair mais investidores por oferecer um rendimento maior.
“A gente tem uma taxa de juros com tendência crescente, até porque a inflação também está batendo na nossa porta”, diz Santana. No entanto, a dúvida é até quando isso será suficiente para valorizar a moeda, aponta ele.
“A taxa de juros, enquanto ela está crescente, isso é atrativo. Mas o mercado tem uma fome incessante”, diz o especialista. Nesse sentido, segundo ele, o Brasil precisaria dar indicações mais consistentes ao investidor estrangeiro de que é um mercado vantajoso.
Considerando esse aspecto, fatos e dados recentes no cenário interno têm ajudado o dólar a se manter em queda contra o real. “Recentemente, vimos a divulgação do PIB acima do esperado, o que sugeriu uma recuperação econômica”, exemplifica Aldo Filho.
“Além disso, a reforma tributária voltou à pauta, o que deixa o investidor estrangeiro animado com esses movimentos”, acrescenta Madruga. Por sua vez, Santana lembra ainda que a S&P e a Fitch “mantiveram a classificação da nota do Brasil, o que significa que a gente tem um país, pelo menos por enquanto, estável”.
Os dados parecem estar, de fato, atraindo o investidor de fora. Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, diz que o dólar está caindo “principalmente por entrada de recurso estrangeiro”. “O patamar justo para muitos é entre R$ 4,50 e R$ 4,80. Agora, saber se vai chegar nesse nível é difícil. O que a gente tem de certeza é que o fluxo de entrada de capitais é importante”, afirma ele.
Madruga também comenta que “a gente segue com fluxo de entrada de capital estrangeiro no Brasil muito relevante”. “No ano de 2021 até o dia 1 de junho, a gente está com uma entrada de US$ 46 bilhões no mercado financeiro de bolsa de valores. E, quanto entra mais moeda estrangeira no Brasil, isso faz com que a cotação caia e o real se valorize.”
Já do lado das incertezas sobre a durabilidade da tendência de valorização do real, o cenário político também está no radar, especialmente com a aproximação da disputa eleitoral em 2022, que promete forte polarização. “A gente tem muitos motivos para manter o dólar abaixo de R$ 5, mas a gente pode ter caos vindo à frente com eleições e outras coisas mais que podem vir”, avalia Santana.