O efeito que as paralisações em diversas estradas pelo Brasil pode ter sobre o mercado financeiro e sobre a economia é fonte de dúvida. Segundo especialistas, o impacto vai depender da duração das manifestações, iniciadas na noite de domingo (30) por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) contra o resultado das eleições presidenciais.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), por volta das 19h desta segunda-feira (31), as estradas brasileiras tinham 236 ocorrências, entre as quais estavam, por exemplo, 42 bloqueios em Santa Catarina e 32 interdições no Mato Grosso do Sul. Os dois estados concentram o maior número de protestos.
Já por volta de 21h, ainda segundo a PRF, algumas manifestações começaram a ser desfeitas. Até 23h, aproximadamente, já eram 84 liberações.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou nesta segunda que forças policiais tomem todas as medidas necessárias para desobstruir rodovias bloqueadas. Os protestos não tinham uma liderança clara e não contavam com a adesão de toda a categoria dos caminhoneiros.
Sem previsibilidade exata de quando as vias devem ser totalmente liberadas, o possível efeito sobre a economia e o mercado financeiro não é consenso.
Para Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, “as paralisações nas estradas podem fazer preço sim no mercado”. “Até o momento, o mercado ainda não deu muita importância, digerindo ainda a eleição, e talvez por ainda não estar fazendo o barulho necessário”, diz ele.
“O efeito ainda é pequeno, mas o mercado também está com esperança de essas paralisações acabarem assim que Bolsonaro fizer um discurso aceitando a vitória, o que parece que deve acontecer em breve. Mas se estender e for bem organizada, vai fazer preço negativamente”, continua Oliveira.
Já Rica Mello, especialista em gestão de negócios, acredita que não deve haver impacto significativo, por exemplo, sobre as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) – ao contrário do que aconteceu durante a greve dos caminhoneiros em 2018.
“Não tem nenhuma possibilidade de isso afetar a Petrobras. O movimento da Petrobras agora tem muito mais a ver com quem ganhou o governo, se o Lula ou o Bolsonaro, e não com greve de caminhoneiros. Essa greve é super pontual”, opina.
“Na minha empresa, eu contrato 30 ou 40 caminhões todos os dias. Estou tendo um pouquinho de dificuldade, mas é uma pequena dificuldade. Quase todos os fretes que tenho que fazer, estou fazendo”, relata ele.
Já Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza – Negócios Internacionais, chama a atenção para os possíveis efeitos sobre a economia. Dependendo da duração do movimento, é possível que haja impactos para a inflação e o agronegócio.
“Com os bloqueios, o fluxo normal de caminhões é interrompido. As cargas que deveriam chegar aos seus destinos deixam de ser entregues. É um problema em cadeia, que impacta diretamente o consumidor final. Com o desabastecimento dos produtos no mercado, a tendência é de que os preços comecem a subir”, comenta.
“Se as estradas permanecerem paradas, isso significa perdas para o agronegócio brasileiro e para o fornecimento nos mercados”, resume ele, e pondera: “esse impacto dependerá do tempo que essas paralisações permaneçam e, também, em quais estradas estão sendo realizadas.”
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