O governo aproveitou o almoço anual da federação dos bancos, a Febraban, para tentar apagar o incêndio causado pelo pacote fiscal lançado na quarta-feira (27). As reações ao pacote levaram o dólar a encostar nos R$ 6,10 e a expectativa de juro futuro a indicar uma Selic próxima de 15% ao final do atual ciclo de alta do juro.
O almoço desta sexta-feira (29), marcado há meses, colocou na mesma mesa o governo e a nata do setor financeiro – que disparou críticas ácidas e contundentes ao pacote. Na visão da elite econômica, as medidas, que deveriam demonstrar austeridade, acabaram abafadas por novas benesses tributárias de custos incertos.
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Pouco antes de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, subir ao palco do One Rooftop, na zona oeste de São Paulo, os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, deram declarações públicas de apoio ao pacote, com uma ressalva importante: a reforma do Imposto de Renda vai ficar para o ano que vem. Foi a proposta de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil mensais que azedou o paladar da Faria Lima.
Na abertura do almoço, Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho da Febraban e do Bradesco, ajudou a diminuir a temperatura. Ele destacou os esforços do governo no avanço da pauta fiscal e disse que os banqueiros estão engajados e comprometidos com a questão.
Na sua fala, o ministro da Fazenda cordialmente discordou das reações da Faria Lima. Para Haddad, falta ao mercado “um pouco de cautela na análise”.
“Se tem desconforto, vamos voltar para a mesa de discussão. Mas as pessoas precisam analisar linha por linha (…). Não tem bala de prata. E podemos avançar com outras medidas nos próximos meses.”
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Por várias vezes, Haddad chamou a atenção para o fato de que o Executivo tem um conjunto de ferramentas para usar, mas é preciso que Judiciário e Legislativo também estejam comprometidos com a questão fiscal.
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No almoço, Haddad e Gabriel Galípolo, diretor e futuro presidente do Banco Central, mostraram grande sintonia. Ambos admitiram que há desancoragem das expectativas, especialmente em relação ao juro e à inflação.
Está aí, talvez, o maior desafio do governo neste momento.
Não adianta olhar para uma taxa baixa de desemprego, para um crescimento econômico na casa de 3,5% para 2024 ou para um aumento de 10,5% na concessão do crédito no ano. Se as pessoas acham que as coisas estão piorando e vão piorar ainda mais, elas aumentam seus preços, titubeiam ao decidir um investimento, enviam seus recursos para o exterior.
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Com desconfiança e desancoragem, as medidas propostas pela equipe econômica surtem pouco efeito. A “operação bombeiro” do governo, por enquanto, é só isso: um ataque aos focos de fogo. Mas o incêndio está longe de ser controlado.
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