Economia

Estrangeiro aposta mais na B3 após eleições – mas Faria Lima faz caminho inverso

Participação do capital externo cresceu na bolsa brasileira após o segundo turno, enquanto investidor institucional vendeu mais do que comprou.

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Nove dias após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, a bolsa brasileira passou a atrair mais capital estrangeiro, segundo dados da B3. Ao mesmo tempo, fundos geridos por brasileiros fizeram o caminho inverso – descompasso causado por fatores que vão além do cenário político, segundo especialistas.

Nos sete primeiros dias de novembro, o investidor de fora do Brasil aportou R$ 82,7 bilhões aqui – o que representa 29,15% de participação na bolsa. Já as saídas de recursos totalizam R$ 79 bilhões no período, o que deixa o saldo entre compras e vendas positivo em R$ 3,6 bilhões. 

Os investidores internacionais foram responsáveis por 57% das negociações na B3 no período pós eleições, o maior volume entre os demais tipos de investidores. Em outubro, essa proporção era de 56,3%.

Estrangeiros compram, gestores vendem

Os investidores individuais (pessoas físicas) também compraram mais do que venderam na bolsa após o segundo turno. O saldo entre compra e venda ficou em R$ 26,9 milhões. O investidor pessoa física tem a segunda menor participação na bolsa brasileira (7,6%), seguido pelas instituições financeiras (1,7%), como bancos e seguradoras.

Estas venderam mais do que compraram bolsa brasileira – movimento seguido pelos investidores institucionais (fundos geridos por terceiros, como gestores da Faria Lima), responsáveis por 23,5% de todas as movimentações no período, perdendo apenas dos estrangeiros.

O saldo entre compras e vendas destes fundos ficou negativo em R$ 3,6 bilhões – já que as saídas foram mais expressivas. A cifra foi igual ao que os investidores estrangeiros aportaram a mais na bolsa brasileira em igual período.

O que explica o movimento?

Para Fabrício Gonçalves, CEO da Box Asset Management, desde o ano passado que o fluxo de capital doméstico institucional tem sido desafiador. Existe uma fuga de capital destes fundos para a renda fixa, mais atrativa dada a taxa Selic estar em 13,75% ao ano. 

“Os preços de commodities para cima também favorecem o fluxo contrário por parte do investidor doméstico. Esse completo desalinhamento entre fluxo institucional com investidores internacionais se deve a isso. Esse último se vê mais atraído pelas oportunidades no Brasil, dado termos sido uma das primeiras economias do mundo a subir juros para conter a inflação. E isso faz o estrangeiro olhar com maior apreço para o nosso país. “

Segundo o analista, o fluxo estrangeiro comprador versus institucional brasileiro vendedor se justifica muito mais por causa do cenário interno. “Ele é atrativo sob o ponto de vista de juros, de oportunidades, e para o investidor doméstico, ele encontra mais oportunidades na renda fixa”. 

No entanto, preço baixo também é chamariz. O economista e diretor da WIT Asset, Felipe Simões, diz que o investidor estrangeiro percebeu que o nível de valuations (valor de mercado) das empresas brasileiras estão muito atrativos. E com Estados Unidos e Europa com situação econômica complicada, guerra na Ucrânia, China com dados de desaceleração, há muito dinheiro disponível procurando por um porto seguro em lugares com preços bons.

“Por outro lado, o investidor pessoa física vem resgatando seu capital de fundos de ações e multimercados para a renda fixa a mais de um ano, e os gestores destes fundos são obrigados a vender para poder pagar os cotistas que deram a ordem dos resgates. Então o fluxo de saída vem sendo intenso”.

Segundo dados da Anbima, os fundos de ações tiveram o quarto mês consecutivo de saída líquida. O fluxo de recursos permaneceu desfavorável para a classe ações, com captação líquida negativa de R$ 4,5 bilhões.

O tipo ações livres, que tem o maior patrimônio líquido da classe (R$ 225,2 bilhões), registrou a retirada líquida mais intensa em outubro, de R$ 1,4 bilhão – tendência que se confirma também no acumulado do ano. Diante dos juros em dois dígitos, os fundos de ações somam saques líquidos de R$ 62,4 bilhões em 2022, segundo o órgão.

Fuga dos gestores?

Ainda de acordo com Simões, gestores de grandes fundos multimercados sempre lucraram muito acertando a curva de juros, inflação e câmbio. E com a oportunidade vista com o aumento brusco da Selic, muitos foram nessa linha e desmontaram posições em ações. Mas o economista acredita que aos poucos pode ser que estes gestores voltem para a bolsa brasileira. “Eles acabaram optando por um caminho mais defensivo já que estão acostumados a ganhar dinheiro com juros, inflação e câmbio”. 

João Arthur Almeida, CIO Suno Wealth, partilha do mesmo ponto de vista. Ele cita ao InvestNews que, até final de outubro, foram resgatados em fundos de ações e multimercados R$ 138,7 bilhões. “Mas essa venda compulsória leva esse fluxo institucional local para baixo mesmo quando o fluxo de investidor estrangeiro está sendo crescente”. 

“O investidor estrangeiro é muito contra a incerteza. E tiradas as incertezas das eleições, isso pode ter favorecido a entrada deste capital aqui no Brasil”.

Almeida reitera que a chave é entender que a saída de investimento local muitas vezes não é a saída porque o gestor quer reduzir posição em ações, mas sim porque está sendo obrigado, dado aos pedidos de resgates migrando para a renda fixa.

“Isso já deu uma arrefecida, já que as taxas da renda fixa pararam de subir e porque as ações caíram muito, e isso gerou oportunidade. Depois elas voltaram a subir – o que desincentiva novos resgates. Então talvez tenhamos nos próximas vezes o fluxo institucional local e estrangeiro caminhando em direções semelhantes – a depender da política econômica do atual governo”, pontua.

Ações do Ibovespa após as eleições

Segundo dados da TradeMap, das 92 ações que integram o Ibovespa, 12 apresentaram quedas entre 28 de outubro até 4 de novembro. Os papeis da Petrobras (PETR3; PETR4) puxaram as maiores baixas, seguido por Alpargatas, Rumo, Pão de Açúcar, Hypera, Suzano, JBS, Carrefour, Locaweb, Telefônica Brasil e Taesa. 

Já entre as altas no período, outra petroleira encabeça a lista: 3R Petroleum (RRRP3) com alta de 17,7%. Já o Ibovespa teve ganhos de 3,16% em igual período.

TaesaTAEE11-0,05
Telef BrasilVIVT3-0,07
LocawebLWSA3-0,59
Carrefour BRCRFB3-0,85
JBSJBSS3-0,89
Suzano S.A.SUZB3-1,14
HyperaHYPE3-1,49
P.Acucar-CbdPCAR3-2,51
Rumo S.A.RAIL3-3,67
AlpargatasALPA4-6,21
Petrobras (ON)PETR3-11,38
Petrobras (PN)PETR4-13,11

Colaborou: Fabiana Ortega

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