Cabo eleitoral atuante do presidente Jair Bolsonaro (PL) antes do primeiro turno das eleições, o ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a adotar postura defensiva nos últimos dias após se tornar alvo central de críticas de opositores à campanha bolsonarista na reta final do processo eleitoral.
A disseminação de notícias sobre medidas potencialmente impopulares que surgiram do Ministério da Economia, com o vazamento de estudos feitos internamente na pasta, também acendeu alerta de aliados do presidente.
Nome forte da campanha de Bolsonaro em 2018, quando recebeu a chancela de “posto Ipiranga” e uma suposta carta branca para comandar a política econômica do país, Guedes já recebeu do presidente a sinalização de que poderá continuar no cargo em um eventual segundo mandato.
Nos últimos meses, mesmo não atuando ativamente do núcleo da campanha, o ministro vinha participando de uma série de eventos para exaltar a melhora de indicadores econômicos, como a redução do desemprego, o crescimento da atividade e o recuo da inflação.
A postura mudou nos últimos dias, com Guedes usando os eventos para se defender, negar repetidamente a adoção de medidas impopulares e disparar acusações contra a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus apoiadores.
Para mitigar os efeitos negativos das notícias recentes, a campanha de Bolsonaro divulgou nesta quinta-feira sete vídeos com Guedes, nos quais ele destaca dados da economia, promete manter o Auxílio Brasil turbinado e responde a perguntas sobre as supostas medidas em estudo, afirmando se tratar de mentiras.
Segundo uma fonte da campanha de Bolsonaro, a ofensiva com a gravação dos vídeos foi planejada porque as informações que circularam no entorno de Guedes nos últimos dias desgastaram o presidente. Para ela, o ministro “entrou do lado certo da campanha agora”.
A avaliação da equipe, segundo esse integrante, que pediu anonimato, é que a economia será um dos principais temas do debate decisivo na TV Globo na noite desta sexta-feira (28) entre Bolsonaro e Lula, podendo ajudar na tentativa de virada do candidato à reeleição.
Na semana passada, reportagem da Folha de S.Paulo afirmou que Guedes estudava desindexar o Orçamento, o que desobrigaria o governo a corrigir o salário mínimo e benefícios previdenciários pela inflação.
Já nesta semana, reportagem do jornal O Estado de S. Paulo apontou que a equipe de Guedes defendeu por escrito o fim das deduções de gastos com saúde e educação do Imposto de Renda, o que impactaria a classe média com maior força.
O terceiro episódio a virar munição de opositores foi a disseminação em redes sociais de declaração feita por Guedes em 2020 na qual ele sugeriu que o governo poderia tributar transações feitas por meio do Pix.
O ministro vem negando as três informações e chegou a dizer que petistas dentro da pasta estariam produzindo estudos e vazando para a imprensa como se fossem propostas de autoria do governo.
“Estou tendo que reagir publicamente às mentiras. Mentem o tempo inteiro”, disse nesta quinta-feira em São Paulo. “Fake news, gente que roubou o Brasil, agora querendo roubar o futuro e a esperança de pessoas idosas que estão tranquilas em casa, isso é um roubo de voto.”
Guedes, que já defendeu abertamente mudanças constitucionais para desindexar o Orçamento, tem argumentado que a medida permitiria reajustes acima da inflação. No entanto, não é necessário alterar a Constituição para que o governo dê esses aumentos reais.
O ministro e sua equipe também defenderam internamente, ao longo do governo, a recriação de um imposto sobre transações financeiras para substituir encargos trabalhistas –medida que foi travada por resistência do Palácio do Planalto. O fim das deduções do IR também já foi estudado pela equipe de Guedes, mas acabou descartado.
Nesta quinta-feira, o ministro desmentiu pessoalmente à Reuters Fact Check Brasil, divisão de checagem de fatos da Reuters, o boato de que o governo pretende taxar transações feitas via Pix.
Procurado para comentar especificamente a mudança de postura de Guedes, o Ministério da Economia não respondeu de imediato.
Ataques eleitorais
Nos discursos recentes, Guedes também intensificou os ataques diretos a Lula e a seus aliados. Na quarta-feira, por exemplo, fez críticas à regra do teto de gastos e ao responsável por sua implementação, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, afirmando que ele “nem economista é” e “vai entrar furando” a regra fiscal em uma eventual eleição de Lula.
Outro alvo do ministro são economistas conhecidos que declararam apoio ao petista, afirmando que eles erram projeções grosseiramente e que estariam a favor de Lula porque não teriam oportunidades no setor privado e estariam buscando vaga em um governo do PT.
Nesta quinta, Guedes ainda buscou vincular ao PT supostos planos impopulares elaborados por quem ele definiu como “economistas do Lula”. No entanto, o ministro fazia referência a sugestões de economistas independentes no documento “Contribuições para um Governo Democrático e Progressista”, que não tem ligação com Lula ou o PT.
Guedes afirmou que os mesmos “economistas do Lula” estariam planejando cobrar impostos sobre trabalhadores informais, “sequestrar” o FGTS para pagar seguro desemprego e acabar com o Auxílio Brasil, substituindo o programa por uma ideia que não estaria clara.
Essas medidas não são discutidas no programa do PT, mas no documento dos economistas Bernard Appy, Carlos Ari Sundfeld, Francisco Gaetani, Marcelo Medeiros, Pérsio Arida e Sérgio Fausto.
“O documento que fizemos não tem nada a ver com a campanha do Lula. É uma iniciativa pessoal de um grupo de técnicos, sem qualquer vinculação partidária. Nem a campanha do Lula nem o PT -ou qualquer outro partido- teve qualquer influência na elaboração”, disse à Reuters Bernard Appy.
Na quarta, ao defender que programas sociais repassem recursos diretamente à população o ministro ainda fez uma crítica indireta a Lula, dizendo que “se você der dinheiro para 1.000 brasileirinhos, 999 vão fazer a coisa certa, um vai tomar uma pinga, às vezes até vira presidente.”
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