O CDS (Credit Default Swap), que funciona como uma espécie de seguro para operações de crédito no país e mensura o risco-Brasil, tem subido nos últimos dias, com o título de dez anos chegando a acumular alta de 6% nos primeiros dez dias de agosto – embora siga em queda de mais de 20% em 2023 até agora.
Especialistas ouvidos pelo InvestNews comentam que o cenário fiscal ajuda a explicar o movimento do CDS, embora os avanços do arcabouço fiscal e da reforma tributária tenham ajudado a melhorar a percepção de risco nos últimos meses.
Eduardo Rahal, analista da Levante Corp, lembra que “de março a junho, devido às reformas locais e condições externas favoráveis, os ativos de risco foram reprecificados”. Mas, agora, “a alta no risco país reflete esses fatores e incertezas fiscais, com questionamentos sobre a viabilidade das estratégias do governo para equilibrar as contas”, segundo ele.
De maneira semelhante, Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, afirma que a recente alta do CDS “pode ser uma preocupação com o fiscal”.
“Começam a sair notícias de que o governo está buscando formas de aumentar a arrecadação, mas também sabe que boa parte da base de gestão do próprio executivo é contra medidas impopulares, como aumentar impostos”.
Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed
No final de julho, os ministérios do Planejamento e da Fazenda pioraram a previsão de déficit fiscal em 2023, passando a prever um rombo de R$ 145,4 bilhões, equivalente a 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB), resultado pior do que o previsto em maio, de R$ 136,2 bilhões negativos, ou 1,3% do PIB.
Apesar do resultado, o secretário de Orçamento Federal, Paulo Bijos, pontuou durante entrevista coletiva sobre os números que a meta fiscal autorizada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2023 é de um déficit de R$ 238 bilhões e que o governo se mantém abaixo dela.
De toda forma, apesar das preocupações apontadas pelos especialistas, agências de classificação de risco têm subido as avaliações sobre o Brasil, apontando como justificativa a melhoria nas perspectivas fiscais. Ainda assim, o país não recuperou o grau de investimento.
Fatores externos
Além da questão fiscal, há ainda os fatores externos que impactam a percepção de risco sobre o Brasil, especialmente os relacionados à economia chinesa. “Macro também parece que piorou, com sérias dúvidas da capacidade da China crescer, o que afeta em cheio o setor de commodities (agrícolas e metálicas, principalmente) no Brasil”, aponta Petrokas.
Nesta semana, números sobre o comércio exterior e os preços ao consumidor na China preocuparam o mercado, elevando a percepção de dificuldade para que a atividade recupere seu vigor.
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