O IPCA disparou 1,31% em fevereiro. Esse é o maior patamar do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo para um mês de fevereiro desde 2003, há 22 anos.
Foi também o maior aumento mensal desde março de 2022, correspondendo à estimativa mediana de economistas pesquisados pela Bloomberg. A inflação anual acelerou para 5,06%.
Para visualizar o que significa a inflação de fevereiro, vale um exercício mental. Se todos os meses do ano marcassem 1,31%, a inflação anual fecharia em 17%. A meta do BC é de 3%, com margem de tolerância para até 4,5%.
É a primeira vez que a taxa em 12 meses fica acima de 5% desde setembro de 2023 (5,19%), indo mais além do teto da meta oficial. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 5,05%%.
A maior influência no resultado de fevereiro foi exercida pelo aumento de 16,80% na energia elétrica residencial devido ao fim da incorporação do bônus de Itaipu – composto pelo saldo positivo registrado na conta de comercialização da energia da usina hidrelétrica binacional e que concedeu descontos em faturas no mês de janeiro.
Com isso, os custos do grupo Habitação passaram de uma queda de 3,08% em janeiro para alta de 4,44% em fevereiro. Sem o resultado de energia, o IPCA teria subido 0,78%.
Impacto no governo
Os preços ao consumidor no Brasil, que tiveram o maior aumento em três anos no mês passado, aumenta a pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aliviar o sofrimento dos consumidores.
A inflação latente, particularmente os custos galopantes dos alimentos, está enfurecendo os compradores e estimulando o governo a buscar uma solução. O banco central planeja entregar seu terceiro aumento consecutivo de juros de um ponto percentual inteiro na próxima semana, amortecendo o crescimento em um momento em que os brasileiros estão preocupados com a economia.
A economia brasileira Adriana Dupita disse que a inflação brasileira aumentou em fevereiro devido a pressões temporárias e sazonais.
“Salvo uma forte valorização da moeda ou uma desaceleração econômica muito mais rápida, esperamos que os ganhos de preços fiquem acima da meta ao longo de 2025. E com as expectativas de inflação resilientes, isso manterá o banco central ocupado. Prevemos um aumento de 100 pontos-base na taxa de juros na reunião da próxima semana e um aperto adicional ao longo do segundo trimestre antes que os formuladores de políticas fiquem em espera pelo resto do ano.”
Espremidos entre inflação e taxas elevadas — com a Selic de referência definida para atingir 14,25% — os consumidores estão descontando sua frustração no presidente esquerdista conhecido como Lula. Uma série de pesquisas de opinião recentes mostra que seus índices de aprovação estão caindo para os níveis mais baixos de seus três mandatos.
O governo respondeu com medidas que incluíram cortes de impostos sobre alimentos importados. Economistas alertam que seu impacto provavelmente será mínimo, e que a inflação anual permanecerá acima da meta de 3% no futuro previsível.
Educação, alimentação e combustível
A maior variação foi registrada por Educação, com alta de 4,70%, devido aos reajustes sazonais nas mensalidades escolares no início do ano letivo — ensino fundamental teve alta de 7,51%, ensino médio subiu 7,27% e pré-escola avançou 7,02%.
Os preços de Alimentação e Bebidas, fonte de preocupação para o governo, subiram 0,70% em fevereiro, com destaque para ovo de galinha (15,39%) e café moído (10,77%). Somente o café acumula alta de 20,25% nos dois primeiros meses do ano.
“O café, com problemas na safra, está em trajetória de alta desde janeiro de 2024. Já o aumento do ovo se justifica pela alta na exportação, após problemas relacionados à gripe aviária nos Estados Unidos, e, também, pela maior demanda devido à volta às aulas. Além disso, o calor prejudica a produção, reduzindo a oferta”, explicou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE.
O grupo Transportes, por sua vez, avançou 0,61%, com o reajuste no ICMS influenciando o aumento de 2,89% nos combustíveis: óleo diesel (4,35%), etanol (3,62%) e gasolina (2,78%).
A inflação de serviços acelerou ligeiramente a alta a 0,82% em fevereiro, de 0,78% em janeiro, chegando a 5,32% em 12 meses.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, teve em fevereiro queda a 61%, de 65% no mês anterior.
O BC volta a se reunir para deliberar sobre a taxa básica de juros em 18 e 19 de março. No final de janeiro, a autarquia elevou a Selic, como indicado, em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e manteve a orientação de mais uma alta equivalente em março, deixando os passos seguintes em aberto.
“Mesmo com uma alta probabilidade de mais um aumento em maio, vemos o cenário ainda muito incerto, o que tornaria prudente o Copom não se comprometer, neste momento, com nenhuma trajetória futura de política monetária”, disse André Valério, economista sênior do Inter.
Movimentos futuros podem depender ainda de uma série de fatores que vêm mantendo o alerta elevado em relação à inflação, como mercado de trabalho ainda robusto, fortalecimento do dólar e as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A última pesquisa Focus mostra que a expectativa de especialistas é de que a inflação termine este ano a 5,68%, com a Selic a 15,0%.