A semana começa com o mercado financeiro em compasso de espera pelos dados de inflação ao consumidor no Brasil e nos Estados Unidos em agosto. Ambos devem consolidar as expectativas para a decisão de juros deste mês dos Federal Reserve e do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem.
Por aqui, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sai na terça-feira (12). A previsão é de aceleração na alta, passando de 0,12% em julho para cerca de 0,3% em agosto. Já a taxa acumulada em 12 meses deve voltar a ficar acima de 4%. Entre os fatores de pressão sob os preços estão: energia elétrica residencial; gasolina e automóvel novo.
“O aumento nos preços das contas de luz reflete o fim dos descontos temporários em julho devido ao bônus de Itaipu; a gasolina reflete os reajustes da Petrobras e o último item ainda reflete o ‘rebote’ altista do fim do programa de descontos para carros populares”, explica o analista do time de estratégia macro da BGC Liquidez, Rafael Costa.
Além disso, a estrategista de inflação da Warren Rena, Andréa Angelo, chama a atenção para pressões inflacionárias à frente. “Setembro é mês de reajuste do gás de cozinha, que vai sofrer novo aumento nas distribuidoras”, pondera, acrescentando que a gasolina pode subir ainda mais. Já entre as pressões baixistas, está a comida, principalmente em casa.
Copom mira núcleo
Diante de tantas variações voláteis, é na evolução dos núcleos de inflação que o mercado estará atento, afirma o Bradesco. O Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos lembra que a prévia da inflação em agosto (IPCA-15) surpreendeu ao subir acima do esperado. Porém, a inflação continuou registrando desaceleração dos núcleos em agosto.
Para a equipe econômica do banco, esse processo de desinflação deve continuar ao longo do segundo semestre. Ainda assim, embora o Copom reconheça a evolução positiva dos dados de inflação, persiste certa cautela em relação à ancoragem das expectativas. “Dessa forma, a expectativa continua sendo de cortes de 0,5 ponto porcentual (pp) (da taxa Selic) adiante”, diz.
O Bradesco lembra que tal sinalização se trata de um consenso entre os membros do Comitê, apontada tanto no comunicado quanto na ata da reunião de agosto. “O documento não fecha completamente a porta para uma aceleração dos cortes, mas aponta que para isso são necessárias surpresas significativas no cenário”, ressalta.
Fed vê juros e inflação mais alta
Já o Fed recebe a última bateria de indicadores importantes antes da reunião de setembro e após o presidente Jerome Powell reforçar no simpósio em Jackson Hole, no mês passado, a postura de “dependência de dados”. A agenda reserva os preços ao consumidor e ao produtor, além das vendas no varejo e da produção industrial.
“O tema geral deve ser inflação mais alta do que o visto ultimamente versus uma atividade mais fraca em relação às tendências recentes”, comenta o ING. “Por isso, o Fed parece mais propenso em interromper novamente o aumento dos juros agora e reavaliar a política monetária em novembro”, afirmam os economistas do banco, em relatório.
Em relação ao índice de preços ao consumidor dos EUA (CPI) em si, a previsão do Bank of America (BofA) é de aceleração na alta mensal, para 0,6%, de +0,2% nos dois meses anteriores, com a taxa anualizada subindo a 3,6%. Já o núcleo do indicador deve subir 0,2% no mês, com a taxa anual caindo a 4,3%.
Segundo o BofA, esse comportamento reflete, em grande parte, o aumento nos preços de energia. “Caracterizamos estes dados relativamente firmes da inflação mensal como uma falha temporária no que será provavelmente uma tendência desinflacionária cada vez mais intensa”, preveem os economistas do banco nos EUA.
Por isso, a previsão para o encontro do Fed na semana que vem continua sendo de “pular” setembro, mantendo a taxa no patamar atual de 5,25-5,50%. Já a decisão em novembro está em aberto. Ao mesmo tempo, os investidores vão jogando para frente a estimativa de início do ciclo de queda, consolidando a narrativa de juros mais altos por mais tempo.
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