O Bônus de Itaipu é um valor distribuído aos consumidores todo ano após apuração do saldo registrado na conta de comercialização da energia da usina hidrelétrica binacional no ano anterior.
Passado esse efeito, os preços da energia seguem no foco da cena inflacionária.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) teve queda de 0,14%. Em julho, a inflação foi de 0,33%, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IPCA-15 é uma prévia do índice cheio do mês. Para seu cálculo foram coletados preços no período de 16 de julho a 14 de agosto.
Primeiro resultado negativo da inflação
Esse foi o primeiro resultado negativo desde julho de 2023, quando houve queda de 0,07%, e a deflação mais intensa desde setembro de 2022 (-0,37%).
No acumulado em 12 meses, o preços subiram 4,95%.
A meta oficial é de 3,0% medido pelo IPCA, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de queda de 0,19% no mês e de uma alta de 4,91% em 12 meses.
Em agosto, a queda do IPCA-15 foi puxada pela energia elétrica residencial, cujos preços recuaram 4,93%, levando o grupo Habitação a uma queda de 1,13%, após alta de 0,98% em julhoMaiores quedas
De acordo com análise da Bloomberg, a queda da inflação foi resultado de uma combinação de fatores sazonais e medidas de alívio ao consumidor que dificilmente se manterão no longo prazo, segundo economistas.
Assim, entre as maiores quedas de preço em agosto estão Alimentação e bebidas (com queda de 0,53%); Transportes (0,47%) e Comunicação (0,17%).
Os alimentos tiveram deflação pelo terceiro mês seguido em agosto, com recuo de 1,02% da alimentação no domicílio. Destaque para as quedas da manga (-20,99%), da batata-inglesa (-18,77%), da cebola (-13,83%), do tomate (-7,71%), do arroz (-3,12%) e carnes (-0,94%).
Em Transportes, o resultado foi impulsionado pelos recuos nas passagens aéreas (-2,59%), no automóvel novo (-1,32%) e na gasolina (-1,14%).
Aliás, os combustíveis como um todo registraram deflação de 1,18%, com quedas também em óleo diesel (-0,20%), gás veicular (-0,25%) e etanol (-1,98%).
Influência nos juros
No final de julho, o Banco Central decidiu interromper o ciclo de alta nos juros básicos e manteve a Selic em 15% ao ano, mas ressaltou que antecipa a manutenção da taxa nesse patamar por período “bastante prolongado”.
“Apesar do bom resultado no índice cheio, o qualitativo não foi tão positivo. O núcleo da inflação parece estagnado em 0,3%, registrando tal variação pelo terceiro mês consecutivo, em um patamar que é inconsistente com a meta de 3%. Além disso, tivemos uma retomada na inflação de serviços, que avançou 0,5%”, destacou André Valério, economista sênior do Inter.
“Em termos de política monetária, o resultado de hoje não impacta de maneira significativa“, completou.
O cenário ainda é marcado por incertezas relacionadas à tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
O BC apontou que a política tarifária dos EUA torna o cenário mais adverso para o Brasil, ressaltando que sua atuação focará nos mecanismos de transmissão do ambiente externo sobre a inflação local.
A mais recente pesquisa Focus realizada pelo BC mostra que a expectativa de especialistas é de que a inflação termine este ano a 4,86%, com a Selic a 15%.