O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, desacelerou para alta de 0,47% em maio, após variação positiva de 1,06% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (9).
Pesquisa da Reuters apontou que a expectativa de analistas era de alta de 0,60% em maio. O resultado de maio foi a variação mais baixa desde abril de 2021, segundo o IBGE.
Em nota ao mercado, Camila Abdelmalack economista chefe da Veedha Investimentos, comentou que o dado de maio, abaixo da expectativa do mercado, corrobora com o ritmo de elevação da taxa de juros no Brasil, mas pondera que o resultado ainda preocupa o cenário inflacionário.
“Embora esteja sendo discutida a desoneração dos combustíveis, há uma pressão de correção dos preços da Petrobras (…) e também eventualmente como movimento da taxa de câmbio, o Brasil vem sofrendo esse desgaste em relação à costura política em torno de uma solução aceitável sobre a desoneração”, diz.
Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, apontou que “o IPCA de hoje é um foco de alívio na pressão recente para uma postura mais austera da autoridade, mas tais perspectivas para a Selic também seguem muito suscetíveis aos projetos em tramitação no congresso”, ao se referir ao projeto que visa limitar a alíquota do ICMS para os combustíveis em 17%.
No acumulado de 12 meses até maio, o IPCA teve alta de 11,73%, contra 12,13% do mês anterior. Pesquisa da Reuters apontava expectativas do mercado de avanço de 11,84% em 12 meses. A meta de inflação para este ano perseguida pelo Banco Central é de 3,5%, que tem teto de tolerância de 5%.
Em maio, a maior variação veio do grupo vestuário, com alta de 2,11% e 0,09 ponto percentual de contribuição. Já o maior impacto (0,30 p.p.) veio dos transportes (1,34%), que desaceleraram em relação ao mês anterior (1,91%).
No caso dos transportes, a alta foi puxada pelas passagens aéreas (18,33%), que já haviam subido em abril (9,48%), sendo o maior impacto individual positivo no índice do mês (0,08 p.p.), juntamente com os produtos farmacêuticos, que subiram 2,51% (impacto de 0,08 p.p.) e fazem parte do grupo saúde e cuidados pessoais (1,01%).
Combustíveis e conta de luz
Os combustíveis também tiveram desaceleração, após altas expressivas nos preços das refinarias em março, que foram repassadas para o consumidor final em março e em abril. A desaceleração nos preços dos combustíveis (1,00%) em relação ao mês anterior (3,20%), ocorreu devido especialmente à gasolina, que passou de 2,48% em abril para 0,92% em maio.
O único grupo a apresentar queda foi habitação (-1,70%), contribuindo com um impacto de -0,26 ponto percentual no índice do mês. A queda deve-se à redução nas contas de energia, pelo segundo mês seguido, em função de mudança de bandeira tarifária. Em 16 de abril, cessou a cobrança extra de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos, relativa à bandeira Escassez Hídrica, passando a vigorar a bandeira verde, em que não há cobrança adicional na conta de luz.
Em nota, Marcelo Oliveira, CFA e sócio-fundador da Quantzed, comentou que o resultado é bom e tira a pressão da inflação em casa. “Mas educação e transporte ainda estão muito altos. E com petróleo nesses níveis, sabemos que alimentos e transportes continuarão pressionados. Então, agora precisamos aguardar cenas dos próximos capítulos”.
*Com Reuters
Veja também
- Dólar a R$ 6,00 e pressão sobre os juros: o contágio do ‘Trump trade’ para o Brasil
- Inflação acelera no Brasil e México com alta no preço de alimentos e energia
- Eventual vitória de Trump nos EUA amplia pressão de alta do dólar no Brasil
- Efeitos da estiagem sobre energia e alimentos pressionam IPCA em setembro
- Inflação nos EUA tem alta moderada em agosto e reforça previsão de corte de juros na próxima semana