A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou março em 0,07%, ante 0,25% em fevereiro, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado veio abaixo da mediana das estimativas dos analistas ouvidos pelo “Projeções Broadcast”, do sistema de notícias em tempo real do “Grupo Estado”, positiva em 0,12%, e ficou dentro do intervalo das previsões, de queda de 0,06% a elevação de 0,29%.
A taxa acumulada pela inflação no ano ficou em 0,53%. Em 12 meses, o resultado foi de 3,30%, praticamente em linha com a mediana 3,34% calculada a partir do intervalo das projeções dos analistas, que iam de 3,17% a 3,53%.
INPC
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,18% em março, após ter registrado alta de 0,17% em fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com o resultado, o índice acumula altas de 0,54% no ano e avanço de 3,31% nos 12 meses encerrados em março. O INPC mede a variação dos preços para as famílias com renda de um a cinco salários mínimos e chefiadas por assalariados.
Alimentos
O grupo Alimentação e bebidas saiu de uma taxa de 0,11% em fevereiro para 1,13% em março, a maior variação e também maior impacto na inflação do mês, de 0,22 ponto porcentual.
Os preços dos alimentos foram pressionados em parte pela corrida da população aos supermercados em função da orientação de isolamento para evitar a disseminação do novo coronavírus. Também houve forte influência da alimentação no domicílio, que passou de 0,06% em fevereiro para 1,40% em março.
“Houve alta grande da alimentação em domicílio e a gente acredita que as pessoas estejam comprando muito mais para ficar em casa. Essa alta nos alimentos se justifica tanto pela maior demanda quanto por uma restrição de oferta”, diz Pedro Kislanov, gerente do IPCA do IBGE.
Kislanov não descarta uma queda de produtividade relacionada às medidas de isolamento social por conta do vírus, mas destaca que produtos como cenoura e tomate já vinham tendo sua oferta afetada por questões climáticas.
Nos supermercados, as famílias pagaram mais caro especialmente pelo ovo de galinha (4,67%), a batata-inglesa (8,16%), o tomate (15,74%), a cebola (20,31%) e a cenoura (20,39%). Os preços das carnes, por sua vez, caíram pelo terceiro mês seguido (-0,30%), acumulando queda de 7,70% no ano.
A alimentação fora do domicílio também acelerou na passagem de fevereiro (0,22%) para março (0,51%), puxada pela alta do lanche (1,90%). A refeição, por outro lado, registrou deflação (-0,10%), após a alta de 0,35% no IPCA de fevereiro.
Serviços
A inflação de serviços recuou 0,14% em março, já sob influência do fechamento de estabelecimentos em função da política de isolamento social para combate ao coronavírus. No mês passado os preços de serviços haviam tido alta de 0,68%.
Os dados do IBGE destacam quedas mais expressivas em itens relacionados ao turismo, como passagens aéreas (-16,75%), hospedagem (-1,98%) e pacotes turísticos (-2,56%).
No entanto, já é possível notar também quedas importantes em outros serviços, como os prestados por salões de beleza, fechados desde a metade de março. É o caso dos serviços de manicure (-0,06), cabeleireiro e barbearia (-0,49%) e sobrancelha (-0,70).
“As pessoas já estavam com receio de sair de casa mesmo antes da quarentena. Há muitas promoções de prestadoras de serviços, provavelmente estimuladas pela queda na demanda”, disse Kislanov.
Transporte
As famílias brasileiras gastaram 0,90% a menos com Transportes em março, um impacto negativo de 0,18 ponto porcentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março.
Houve queda nos preços de todos os combustíveis pesquisados: etanol (-2,82%), óleo diesel (-2,55%), gasolina (-1,75%) e gás veicular (-0,78%). O álcool e a gasolina estiveram entre os itens com maior impacto negativo no IPCA do mês, com contribuição negativa de -0,09 ponto porcentual e -0,02 ponto porcentual para a inflação do mês, respectivamente.
Kislanov destacou que o recuo do preço da gasolina reflete a política da Petrobras, que ao longo do mês de março anunciou uma série de reduções nos preços do combustível nas refinarias, sendo a última de 5,00% no dia 28 de março.
A queda no preço internacional do barril de petróleo em meio a disputa entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) foi o gatilho para esse movimento.
As passagens aéreas tiveram queda acentuada de preços de 16,75%, um impacto de -0,10 ponto porcentual no indicador.
Segundo Kislanov, esses preços refletem compras feitas anteriormente para viagens em março e, portanto, ainda não refletem necessariamente os efeitos da pandemia no setor, que já pôde ser sentido em outros itens relacionados à limitação de viagens, como hospedagem e pacotes turísticos.
Do lado das altas do grupo Transportes, se destacou o aumento das passagens na modalidade ônibus urbanos (0,32%),que foi influenciado pelos reajustes de 5,00% em Salvador (3,50%), vigente desde 12 de março, e de 8,82% em São Luís (4,52%), aplicado a partir de 16 de fevereiro. Já a variação positiva do item trem (0,08%) é consequência do reajuste de 2,17% nas passagens do Rio de Janeiro (0,21%), vigentes desde 2 de fevereiro.