Os preços de Educação pesaram no bolso do consumidor em fevereiro com a maior alta em quase duas décadas, em um movimento sazonal que levou a inflação no Brasil a acelerar o avanço no mês.
Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,84%, depois de ter avançado 0,53% em janeiro, mostraram os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (10).
Apesar da aceleração mensal para a taxa mais elevada desde abril de 2022 (+1,06%), o índice passou a acumular nos 12 meses até fevereiro alta de 5,60%, de 5,77% no mês anterior.
A meta para a inflação este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
As expectativas de analistas em pesquisa da Reuters eram de alta de 0,8% no mês, acumulando em 12 meses 5,54%.
Disparada dos custos de Educação
O maior peso sobre o resultado do IPCA de fevereiro partiu do grupo Educação, devido a reajustes normalmente praticados no início do ano letivo. O grupo também registrou a maior variação em fevereiro, de 6,28%, a taxa mais elevada desde fevereiro de 2004 (6,70%).
“Fevereiro é sempre muito marcado pela educação, pois os reajustes efetuados pelos estabelecimentos de ensino na virada do ano são contabilizados nesse mês”
Gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov
Segundo o IBGE, os cursos regulares subiram no mês 7,58%, puxados pelas altas de ensino médio (10,28%), ensino fundamental (10,06%), pré-escola (9,58%) e creche (7,20%).
Outros grupos
Entre os nove grupos que compõem o IPCA, oito tiveram alta em fevereiro, com destaque ainda para Saúde e cuidados pessoais (1,26%) e Habitação (0,82%).
A exceção foi Vestuário, cujos preços caíram 0,24%, no segundo mês consecutivo de queda.
“Esse grupo vinha apresentando sucessivas altas há muito tempo. É natural, portanto, que os preços comecem a baixar”, disse Pedro Kislanov, gerente da pesquisa.
A inflação de serviços também seguiu pressionando ao mostrar forte aceleração da alta a 1,41% em fevereiro, de 0,60% em janeiro, acumulando em 12 meses avanço de 7,84%.
A alta mensal teve forte influência do resultado de cursos regulares, e é a maior da série histórica, que para serviços começou em 2012.
“Temos uma queda no desemprego e aumento da renda, e isso puxa a demanda no país, especialmente do setor de serviços que foi muito reprimido pela pandemia de covid”, explicou Kislanov.
“Mas não dá para dizer que há uma aceleração só olhando para fevereiro, porque teve impacto dos cursos regulares”, completou.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, aumentou a 65% no período, de 63% em janeiro, puxado segundo o IBGE por itens não alimentícios, cujo índice de difusão subiu de 61% para 68%.
Expectativa por efeito dos juros
A inflação deve permanecer elevada à frente, ainda que desacelerando de forma gradual. A pesquisa Focus mais recente realizada pelo Banco Central junto ao mercado mostra que a expectativa é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 5,9%, indo a 4,02% em 2024.
No mês passado, o Banco Central manteve a taxa básica de juros Selic em 13,75%, e o Comitê de Política Monetária (Copom) volta a se reunir em 21 e 22 de março, com expectativa de manutenção dos juros.
“Na nossa opinião (o IPCA) não traz muito alívio para o Banco Central, as expectativas de inflação continuam altas, então a gente continua acreditando que o Banco Central vai ficar em 13,75% ao ano durante todo o ano de 2023”, disse Laíz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, que projeta a inflação em 6,5% ao final deste ano.
O BC vem sendo alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reclamou do nível da Selic e tratou a independência formal da autarquia como “bobagem”. Lula também questionou se a meta de inflação não está baixa demais, forçando uma deterioração da atividade econômica.
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