O Banco Central do Japão (BoJ) encerrou a era de juros negativos no mundo, ao elevar sua taxa nesta terça-feira (19) para uma banda entre 0% e 0,1%, de -0,1%.
O Banco Central Europeu (BCE) tinha abolido juros negativos em julho de 2022. A Dinamarca fez o mesmo em setembro daquele ano, deixando o Japão sozinho. E agora foi a vez do BoJ.
Foi o primeiro aumento nos juros japoneses desde 2007, encerrando também oito anos de uma flexibilização monetária agressiva e não convencional.
Além marcar o fim de uma era, o BoJ lança luz quanto à adoção de estímulos por parte dos bancos centrais globais, em meio a sinais robustos vindos do mercado de trabalho e de uma inflação que ainda mostra resistência.
Os sinais emitidos pelo BC japonês ganham importância nesta véspera da Super Quarta. Mas o que se viu foi que o fim da era de juros negativos no Japão foi acompanhada de uma mensagem ainda “pacífica”.
“Aparentemente, o mercado esperava movimentos mais bruscos de política monetária e a alta de juros gradual anunciada pelo o BoJ acabou ficando aquém das expectativas”
Dan Kawa, gestor da We Capital, em comentário no X
Segundo ele, a ausência de uma sinalização mais incisiva em relação ao movimento futuro dos juros – e, portanto, da política monetária – também foi um ponto para a aparente decepção dos mercados.
Como o tom do BoJ pareceu mais pacífico do que o mercado esperava, o dólar voltou a ser negociado acima de 150 ienes após a notícia. No mercado de bônus, o juro projetado pelo papel referencial de 10 anos (JGB) ficou em 0,732%, ao passo que o índice Nikkei 225, da Bolsa de Tóquio, sofreu certa oscilação antes de se estabilizar e encerrar em alta de 0,66%.
Na mesma linha, o ING avalia, em relatório, que a reação imediata dos mercados foi “bastante decepcionante”. Para os economistas Min Jao Kang e Chris Turner, do banco holandês, isso ocorreu por causa do compromisso do BoJ em manter uma posição acomodatícia em relação às condições monetárias.
Outro pano de fundo
Seja como for, especialistas destacam que o cenário no Japão é outro e, por isso, não esperam mais restrições na política monetária nos próximos meses.
“Os bancos centrais estão avançando em direção ao modo de redução das taxas de juro em 2024, à medida que as altas taxas de inflação passam”
David Kohl, economista-chefe do Julius Baer, em comentário
Ele lembra que nos últimos dois anos, os bancos centrais têm endurecido a política monetária para enfrentar a escalada da inflação. Segundo o economista do banco suíço, ainda que a trajetória de queda dos preços esteja em curso, a direção rumo à meta permanece, permitindo aos BCs reduzirem as taxas de juros.
Na visão do estrategista global do Rabobank, Michael Every, o contexto para a atuação do BC japonês parece ser mais interessante. “O crescimento dos salários nominais está aumentando e tem o apoio do BoJ e do governo japonês, que pretendem impulsionar a demanda interna em vez de depender apenas das exportações”, explica, em relatório.
Veja também
- Senado aprova Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central
- Galípolo é aprovado em comissão do Senado para presidência do BC
- Alta dos juros pode reverter a recuperação do setor bancário
- Mais pobres gastaram com bets, em média, quase tudo o que receberam do Bolsa Família
- Real ganha força em relação ao dólar reagindo ao tom mais duro do Copom