Em meio à resiliência da economia dos Estados Unidos e à perda de tração da atividade na China, os sinais emitidos pelas duas maiores potências globais reforçam dúvida dos investidores sobre o impacto nos países emergentes, já que muitos dependem do comércio internacional. Mas, segundo a Janus Henderson, os mercados emergentes oferecem oportunidades de investimentos, à medida que a tempestade passar.
Os analistas do time de dívida de mercados emergentes em moeda forte emerging markets debt hard currency (EMDHC, na sigla em inglês) analisaram a dívida soberana dos mercados em desenvolvimento e o comportamento deste ativo até o fim do ano. Para eles, a desaceleração da economia mundial pesa sobre esses países.
“A precificação do mercado em relação ao cenário de crescimento dos EUA está otimista demais e o ajuste para uma recessão diminuirá o apetite pelo risco. Além disso, os efeitos positivos da recuperação da China em outros países emergentes devem ser mais moderados do que no passado”, avalia a equipe.
Perspectivas melhores
Com isso, as valuations atuais do spread de crédito sugerem que a diferença entre o preço de compra e de venda dos títulos da dívida não está muito longe do valor justo. Ainda assim, o cenário abre espaço para perspectivas de investimentos nos mercados emergentes.
“Em meio à contínua incerteza global, as perspectivas para os mercados emergentes parecem relativamente mais animadoras”
Analistas da Janus Henderson
Para o time de analistas da gestora britânica, no curto prazo, o ambiente macroeconômico global incerto é o principal fator que impulsiona a perspectiva e a trajetória dos ativos de dívida até o fim deste ano.
No entanto, a perspectiva é de uma dinâmica de fluxo mais positiva no médio prazo, devido ao aumento do diferencial de crescimento econômico entre os mercados emergentes e os desenvolvidos. Historicamente, essa disparidade cada vez maior sinaliza um desempenho relativo mais forte dos ativos mais arriscados.
Além disso, há uma considerável dispersão nos spreads entre as dívidas de emergentes, o que também representa uma oportunidade. A Janus Henderson dá preferência para países como Benin, Gabão, Moçambique e Uzbequistão. Ao mesmo tempo, promove menos exposição a alguns dos maiores emissores da Ásia e da América Latina.
Brasil enfrenta desafios
Ainda assim, há diferenças importantes entre os países emergentes. O Brasil larga na frente dos pares rivais, diante do recuo nos índices de preços ao consumidor após a normalização da cadeia de suprimentos global, o que permitiu um início do ciclo de cortes na taxa Selic.
“A inflação agora está caindo e o Banco Central já começou a cortar os juros, proporcionando um amortecedor”, afirma a gestora.
Na avaliação da Janus Henderson, os países emergentes têm amplo espaço para a flexibilização da política monetária, devido ao ponto de partida mais alto das taxas reais e à melhora na dinâmica da inflação. Além disso, muitos permanecem relativamente sólidos, com progresso na consolidação fiscal e melhoria dos indicadores de dívida.
E é aí que o Brasil entra em cena. Ainda mais após a recente melhora da nota de risco de crédito (rating) pelas agências de classificação Fitch e Standard & Poor’s. No entanto, na visão da Janus Henderson, o país ainda enfrenta uma perspectiva fiscal desafiante.
“Embora o governo Lula tenha surpreendido positivamente em termos de governabilidade e progresso das reformas, o Brasil ainda tem uma dívida mais elevada do que os seus pares e custos de juros muito mais altos”, observa o analista Thomas Haugaard, do time de EMDHC.
Para ele, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também surpreendeu positivamente até agora, com o quadro fiscal relativamente responsável recém-aprovado. Porém, Haugaard observa que as ambições da equipe econômica de aumentar receitas para atingir a meta de déficit zero em 2024 são desafiadoras.
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Ainda mais se a economia doméstica de fato desacelerar nos próximos trimestres, experimentando um crescimento menor no ano que vem. Com isso, a relação dívida/PIB brasileira apresenta uma tendência ascendente nos próximos anos. “Além disso, existe um risco claro de o [presidente] Lula tornar-se menos market friendly, à medida que a economia abranda devido ao crescimento global mais lento”, conclui o analista.
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