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Economia

Mesmo com custo de R$ 5 bi, novo salário mínimo não deve impactar mercado

Especialistas apontam que aumento já está precificado; veja comparativo da América Latina.

O novo reajuste do salário mínimo, de R$ 1.302 para R$ 1.320, que deve entrar em vigor em maio segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não deve causar impacto expressivo no mercado financeiro, visto que agentes do setor já esperavam pelo fato, segundo especialistas consultados pelo InvestNews.

O aumento do salário mínimo deve elevar os custos em R$ 5 bilhões ao ano aos cofres públicos, segundo o que disseram fontes da equipe econômica à Reuters. Com o aumento dos salários, não somente os gastos com funcionalismo público aumentam, mas também as despesas previdenciárias, por exemplo.

Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, a situação fiscal é delicada e qualquer aumento de gastos não é bem recebido pelo mercado, mas nesse caso o impacto deve acabar sendo “muito baixo”. 

“O mercado deve entender que o governo vai implementar este tipo de medida, seja por causa do viés político, seja por promessa de campanha. As outras discussões acabam sendo muito mais importantes e por isso esse anúncio não impacta tanto. Os ataques à meta de inflação, nível dos juros e Banco Central preocupam mais.”

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.

Do mesmo modo, Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, menciona que qualquer medida que aumente a despesa do governo, principalmente no contexto atual, gera impacto nos ativos financeiros e na economia. Porém, no caso do reajuste salarial, esse impacto não deve ser expressivo, “dado que ele já era conhecido pelo mercado, ou seja, esse número já estava na conta dos agentes financeiros”. 

Promessas de governo

O aumento do salário mínimo tem sido defendido pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desde o início de sua campanha eleitoral.

Nesta quinta-feira (16), em entrevista à CNN Brasil, o presidente afirmou que o salário mínimo passará a ter uma nova fórmula de reajuste anual que levará em conta também o crescimento da economia, além da inflação.

“É um compromisso meu com o povo brasileiro que nós vamos acertar com o movimento sindical, está combinado com o Ministério do Trabalho, está combinado com o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad, que a gente vai reajustar em maio para 1.320 e estabelecer uma nova regra para o salário mínimo”, disse Lula à emissora.

“Nós vamos aumentar o salário mínimo todo ano, a inflação será reposta e o crescimento do PIB será colocado no salário mínimo”, afirmou.

Neste ano, o primeiro reajuste do salário mínimo foi em janeiro, de R$ 1.212 para os atuais R$ 1.302.

Como estão os salários mínimos na América Latina? 

A partir da conversão de moedas locais para o dólar, cifra comum para estabelecer parâmetro, em fevereiro de 2023 os salários mínimos na América Latina (AL) têm apresentado diferenças em larga escala. 

Entre 17 países avaliados da AL, a Costa Rica foi o território que registrou o maior salário mínimo mensal, de US$ 603 (ou ₡ 350 mil), enquanto a Venezuela apresentou o menor de todos, US$ 8 (ou Bs.F 130). 

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, uma das principais razões para a Costa Rica ter se destacado entre os outros países da AL é porque ela tem um território e um número de habitantes pequenos – o que gera mais controle econômico. 

Além disso, por meio de isenções fiscais “o governo tem investido fortemente na expansão da indústria de alta tecnologia, o que tem elevado o nível de renda no país e permitido haver uma boa política de distribuição de renda com fortalecimento do salário mínimo”, acrescenta Agostini.

No caso do Brasil, o país ficou no 13º colocado do ranking, com um salário mínimo de US$ 250 (ou atuais R$ 1.302). O novo reajuste do salário mínimo não fará com que o país suba em posição.

Agostini comenta que as crises domésticas e internacionais são os fatores que têm afetado a baixa do real em relação ao dólar e, consequentemente, provocado um efeito no salário mínimo, que se mostra cada vez mais inferior quando cotado na moeda norte-americana. 

“Adicionalmente, a política de renda mínima tem perdido espaço para a expansão de programas de amparo social, como o Bolsa Família – que tem muito mais sensibilidade e impacto na popularidade dos governos do que um programa de renda mínima”, adiciona o economista.

Sobre a discrepância dos salários mínimos dos países da AL em relação ao salário mínimo dos Estados Unidos (US$ 1.276 mensais), Agostini menciona que “a estabilidade das instituições democráticas, os níveis de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o fortalecimento da capacitação profissional desde os primeiros anos de educação” e a estabilidade monetária, que permite maior previsibilidade aos investidores, são algumas das justificativas para a economia norte-americana se destacar nesse indicador. 

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