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Economia

Passagens aéreas mais caras: preços não devem cair tão cedo, dizem especialistas

Alta dos combustíveis e retomada da demanda por viagens estão entre motivos da disparada de 123% em 12 meses.

Desde a retomada econômica, o preço das passagens aéreas tem subido cada vez mais. Somente em junho, o aumento foi de 11,36%, enquanto que, em 12 meses até junho, acumulou alta de 123,26%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial. Diante do cenário global no pós-pandemia, especialistas consultados pelo InvestNews não acreditam em alívio no curto prazo.

Entre 11 capitais, Salvador foi a que teve a maior alta nos preços em 12 meses até junho (159,5%), enquanto Belém teve a menor (49,93%), segundo o IPCA-15.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), apenas no 1º trimestre deste ano, o preço médio das tarifas aéreas domésticas foi de R$ 548,16, aumento de 21% em relação ao valor acumulado nos três primeiros meses de 2019, período pré-pandemia, quando os bilhetes foram vendidos, em média, por R$ 453,51. Ainda segundo a agência, de janeiro a abril, os valores sofreram um acréscimo de 41,5% na comparação com igual período de 2021.

Entre os motivos do aumento, o mercado destaca a alta no preço dos combustíveis. O querosene de aviação (QAV), que de 1º de janeiro a 1º de junho deste ano acumula alta de 64,3%, segundo dados da Petrobras, afeta diretamente o custo das viagens. 

Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o QAV responde historicamente por mais de um terço dos custos do setor, que por sua vez, têm uma parcela de mais de 50% dolarizada.

Marcelo Linhares, CEO da Onfly, destaca que, além das respostas mais óbvias, como o aumento do preço do combustível, influenciado pela guerra da Ucrânia, que elevou o preço do petróleo, e pelo aumento do dólar, há outras questões envolvidas no aumento das passagens, como a atual demanda por estes serviços.

“As respostas menos óbvias são que, por exemplo, na pandemia, as companhias aéreas, por uma baixíssima demanda, mantiveram preços artificializados para reduzir as perdas. Era nítido que estes preços não se sustentariam com uma retomada da demanda. Portanto, a base de comparação do IPCA é uma base muito frágil, pois culminou com o ápice da pandemia”, pondera.

Outro ponto que influenciou os preços das passagens foi a alta demanda, segundo Linhares. “O volume de reservas das principais companhias aéreas no primeiro trimestre deste ano já superou o mesmo período pré-pandemia”, completa.

A demanda global por viagens aéreas domésticas e internacionais em abril de 2022, por exemplo, aumentou 78,7% em relação ao mesmo mês de 2021, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês). Em paralelo, a oferta cresceu 45,5% na mesma comparação.

Fenômeno internacional

O problema não tem ocorrido somente no Brasil, segundo Willie Walsh, diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), em entrevista ao “Estadão”. “As pessoas terão de se acostumar (com passagens mais caras). Não sou mais um CEO de uma companhia aérea, mas olho os fundamentos”, afirmou ao jornal.

“O preço do petróleo está muito alto, e ele é o maior custo de uma aérea. As empresas podem fazer pouco quanto a isso. Podem fazer um hedge (proteção), um ajuste de curto prazo. Mas, no longo prazo, todo mundo tem de pagar o preço do petróleo, que mudou de forma estrutural para um patamar mais alto. E não há um modo de as companhias aéreas absorverem isso.”

Willie Walsh comentou que, com a flexibilização de restrições nas fronteiras, é possível observar um aumento de reservas, pois as pessoas estão compensando os dois anos de viagens perdidas. 

“Os dados de abril são motivo de otimismo em quase todos os mercados, exceto na China, que continua a restringir severamente os voos. Os dados dos demais países demonstram que o aumento das viagens é possível com a imunização da população”, afirma.

O que compõe os preços das passagens

Os preços das passagens aéreas são compostos por uma série de fatores. Um voo em território nacional pode ter passagens de R$ 100, R$ 200 ou R$ 1 mil, por exemplo. Isso porque esses preços são constituídos por itens como combustível, salários, manutenção, aluguel, lanche, entre outros, que mudam de acordo com a taxa de ocupação do voo, com a demanda do local de destino/partida, com a data da viagem e com o custo da operação da companhia aérea, por exemplo.

“Aproximadamente 30% dos custos de uma companhia aérea são combustível. Todos os outros principais custos, como leasing e manutenção, são atrelados ao dólar. Somados a isso, há a oferta e a demanda, e nunca tivemos uma demanda tão aquecida no setor”, lembra Linhares.

Os impactos do aumento de alguns desses itens, e consequentemente, do preço das passagens, gera uma série de consequências para a economia e para os negócios, assim como para o consumidor.

“Existe um efeito em cascata enorme. Por exemplo, boa parte da logística de entregas do comércio eletrônico é gerada pelo modal aéreo. Com aumento dos custos da aviação, em algum momento, ele será repassado para os varejistas, que irão repassar para os consumidores”, diz o CEO da Onfly. “Também veremos um efeito inflacionário para os consumidores que desejam viajar a lazer e uma redução de margens para as empresas que possuem as despesas de viagens como uma atividade relevante para seus negócios”, finaliza.

De olho nas férias

Apesar do aumento dos preços, os brasileiros voltaram a pesquisar por viagens aéreas. Segundo estudo da Kayak, que considera a média de buscas realizadas por seus usuários, a procura por voos internacionais para as férias de julho subiu em até 99%, comparando com o período pré-pandemia, em 2019. Já para os voos domésticos, o aumento foi de 108%.

Destinos como Porto Alegre e Natal, e, no caso dos internacionais, Londres e Lisboa foram alguns dos mais buscados pelos consumidores.

Entre as viagens com maiores altas e baixas, estão as com destino a Salvador, na Bahia, com queda de 12% no valor das passagens, a um preço médio de R$ 1.155, e aumento de 68% no volume de buscas. Já as viagens com destino a Brasília e São Paulo tiveram alta de 21% no valor da passagem, com preço médio de R$ 882 e R$ 967, respectivamente. 

Com relação aos voos internacionais, para Buenos Aires, na Argentina, o preço médio do bilhete, comparado com os três anos atrás, é o mais barato na lista de mais buscados, a R$ 2.023, apesar do aumento de 25% no preço médio.

Preços das passagens nacionais

Confira abaixo as tabelas com o levantamento de preços de voos nacionais: 

DestinosVolume de buscas 2022 x 2019Variação do preço médio 2022 x 2019Preço médio
São Paulo19%21%R$ 967.00
Fortaleza40%13%R$ 1,393.00
Salvador68%-12%R$ 1,155.00
Rio de Janeiro40%11%R$ 908.00
Porto Alegre108%19%R$ 1,019.00
Recife63%-4%R$ 1,358.00
Maceió 70%4%R$ 1,716.00
Natal89%-11%R$ 1,331.00
Brasília34%21%R$ 882.00
Porto Seguro75%3%R$ 1,316.00

Fonte: Kayak

Preços das passagens internacionais

Confira abaixo as tabelas com o levantamento de preços de voos para o exterior: 

DestinosVariação no volume de buscas 2022 x 2019Variação do preço médio 2022 x 2019Preço médio
Lisboa91%68%R$ 7,292.00
Buenos Aires69%25%R$ 2,023.00
Santiago6%103%R$ 3,876.00
Paris88%79%R$ 7,855.00
Orlando34%4%R$ 5,011.00
Miami13%24%R$ 5,456.00
Londres99%55%R$ 7,980.00
Porto37%75%R$ 7,010.00
Nova York15%34%R$ 6,957.00
Roma73%32%R$ 6,493.00

Fonte: Kayak

Para onde vão os preços?

O contexto atual ainda é de incerteza, tanto com relação aos preços do barril do petróleo, que têm sido influenciados pela guerra na Ucrânia, quanto pela alta do dólar. Mesmo com medidas para reduzir o preço dos combustíveis, especialistas não estão otimistas quanto a uma possível melhora de cenário em pouco tempo.

Marcelo Linhares lembra que até o próprio presidente da Latam, Jerome Cadier, admitiu não estar otimista com relação ao cenário para os próximos meses. “Se o CEO de uma das maiores companhias aéreas do Brasil não está otimista, eu também não consigo ser. Os preços só irão reduzir com o fim da guerra e com uma melhora do real em relação ao dólar”, diz.

Segundo uma estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), feita a pedido da CNN, o preço das passagens aéreas no Brasil deve continuar aumentando, entre 5% e 10%, nos próximos meses.

*Com informações do Estadão Conteúdo.

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