O petróleo volta a subir nesta sexta-feira (15), um dia após fechar no maior nível do ano. A escalada recente na cotação do barril reflete preocupações com restrição na oferta, depois da China afastar o temor de desaceleração acentuada da atividade. Ao mesmo tempo, os preços internacionais pressionam a Petrobras pelo reajuste dos combustíveis.
Às 13h30, o petróleo Brent, a referência global, subia 0,14%, a US$ 93,83 o barril, enquanto o petróleo tipo WTI avançava 0,59%, a US$ 90,69. No dia anterior, a commodity referencial norte-americana fechou acima de US$ 90 pela primeira vez desde novembro. Já o Brent alcançou o maior valor desde então.
De um modo geral, a alta do petróleo neste mês reflete as expectativas de oferta menor, após Arábia Saudita e Rússia estenderem os cortes na produção até dezembro. A inesperada decisão fez o barril do Brent fechar acima de US$ 90 pela primeira vez em 2023. Somente na primeira metade de setembro, a referência já subiu mais de 7%.
Ao mesmo tempo, novos indicadores econômicos reforçam o sentimento de que um “pouso suave” irá driblar a recessão nos Estados Unidos, apesar da perspectiva de juros mais altos por mais tempo por parte do Federal Reserve. Já os dados sobre a atividade chinesa em agosto mostraram certa resiliência.
“A economia dos EUA ainda se recusa a capotar e os mercados não esperam outro aumento pelo Fed. Já a China apresenta alguns pontos de melhoria na atividade, apesar da fraqueza relacionada ao setor imobiliário”, afirma o ING, em relatório, ao comentar dados da indústria e do varejo das duas maiores economias do mundo.
Rumo aos US$ 100?
Daí, então, surgem algumas dúvidas externas e internas. Afinal, quanto mais o preço do petróleo tem força para subir? Tem fôlego para voltar aos US$ 100 o barril? Quando essa alta irá impactar a inflação? E mais: qual será o gatilho para a Petrobras (PETR3 e PETR4) decidir por um novo aumento nos preços da gasolina?
As respostas a essas questões são por camadas. Inicialmente, é importante debruçar sobre a perspectiva para os preços do petróleo em si. Nesse caso, o alerta vem da Capital Economics: “O que sobe não cairá em 2024”, prevê o economista de commodities da consultoria, Bill Weatherburn. No entanto, não é nada assustador.
Segundo Weatherburn, embora tenham sido os cortes na oferta saudita e russa da commodity que fizeram os preços do petróleo subirem nas últimas semanas, o cartel de países exportadores e aliados (Opep+) está ansioso por explorar as reservas. Com isso, deve haver um aumento da produção a partir de meados do próximo ano.
“Assim, os receios de preços de três dígitos (US$ 100) para o barril em 2024 são exagerados”, pondera o economista da CE. Ele lembra que foi a oferta limitada e a procura resiliente que empurraram o preço do petróleo para além de US$ 90 em setembro.
Na mesma linha, os analistas de petróleo da Wood Mackenzie Research, Ann-Louise Hittle e Alan Gelder, avaliam que as condições de oferta seguirão apertadas. “Mas a Opep+ tem todos os motivos para apoiar o mercado”, dizem.
Para os especialistas, será necessária uma gestão – e tempo – hábil para os maiores produtores devolverem os 2,6 milhões de barris de petróleo por dia que foram cortados da produção e fazer com que o fornecimento volte aos níveis de novembro de 2022, sem perturbar o atual equilíbrio nas condições do mercado.
“Nossa previsão era de que o Brent iria alcançar o valor de US$ 90 o barril em meados do ano, mas o aumento da demanda demorou mais tempo para se concretizar devido ao enfraquecimento da economia global e às preocupações com o ritmo da recuperação da China”, ressaltam Ann-Louise e Gelder, da Wood Mackenzie.
E a Petrobras?
Diante disso, ainda restam dúvidas em relação ao mercado doméstico. Isso porque a Petrobras demorou para promover o mais recente reajuste dos combustíveis, em agosto. O anúncio ocorreu há exatamente um mês. À época, a defasagem nos preços da gasolina e do diesel girava em torno de 30%, cada.
Com aquele aumento, a estatal petrolífera reduziu a diferença em relação ao praticado no exterior, mas a política de preços permanece como dúvida. Daí porque não se sabe quando a empresa deve anunciar novo reajuste. Cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) indicam que a defasagem atual está ao redor de 15%, cada.
Na ocasião do último aumento, o economista André Perfeito sugeria que a “linha vermelha” para a política de preços da empresa parecia ser uma diferença de 25% entre os preços domésticos e os externos. Portanto, ainda pode haver certo espaço para uma valorização adicional do petróleo para, então, a Petrobras fazer novo anúncio.
Ainda mais agora que a companhia mostra disposição na corrida pela transição energética, buscando ser cada vez mais uma empresa de energia e não só de óleo e gás – apesar das críticas do próprio CBIE. No entanto, é “vocal” por parte do presidente Lula e do CEO da empresa, Jean Paul Prates,que a estatal quer ser mais proeminente no processo de energia renovável.
“A companhia definiu adentrar no processo de transição energética com maior ímpeto e a busca por parceiros comerciais de renome é uma estratégia acertada”, avalia o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman. Basta ver o acordo com a TotalEnergies e a Casa dos Ventos para estudos na área anunciado dias após a parceria com a Weg.
Para o analista, a forma como se viu a companhia, sobretudo entre 2016 e 2022, com foco muito grande em exploração e produção de petróleo, não é mais o ponto de vista estratégico da nova gestão. “Mas também há interrogações quanto à entrada no segmento de energias renováveis”, destaca Arbetman.
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