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Economia

O que esperar da política externa com Lula? Veja o que dizem especialistas

Um dos pontos principais é a sinalização sobre a questão ambiental.

Enquanto o mercado reage negativamente aos sinais da situação fiscal do Brasil nos próximos anos, para a política externa a troca de governo de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve trazer forte expansão, principalmente relacionada à produção, à comercialização e ao meio ambiente, segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews. Para eles, isso pode trazer melhorias para a economia nacional no quesito de valorização da moeda, queda da inflação e baixa da taxa de juros. 

Mesmo antes da vitória na eleição, Lula já havia sinalizado que, se eleito, tinha a intenção de fazer viagens ao exterior para “tentar restabelecer nossa relação com América Latina, os Estados Unidos, a União Europeia, a China”, conforme disse em entrevista coletiva no dia 29 de outubro. Nesta semana, Lula participou da COP27, no Egito, em sua primeira viagem internacional após o resultado do 2º turno. Vale lembrar que, em 2002, logo depois de ser eleito, Lula foi a Argentina, Estados Unidos, México em Chile, ainda antes de tomar posse.

Para Paulo Dutra, coordenador do curso de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), a volta de Lula à presidência pode trazer muitos benefícios para a área de relações com o exterior. Para ele, Lula deve “atrair os parceiros antigos e forçar a possibilidade de acordos com novos países.”

Mas, apesar das perspectivas de especialistas serem positivas de maneira geral, elas esbarram em um cenário mais desafiador. É o que aponta Leonardo Paz, analista de inteligência qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O especialista comenta que, com a guerra na Ucrânia, a Europa, por exemplo, está passando por um momento “não muito acolhedor”, tanto com questões de relacionamento com os países do próprio continente quanto com questões econômicas e, portanto, isso deve diminuir a atenção com o Brasil. 

De qualquer maneira, Dutra, da FAAP, afirma que a troca de governo é uma oportunidade para o país voltar a cadeia internacional de produção, ampliar o comércio e promover transferências de tecnologia. Ele acrescenta que a pauta do meio ambiente também é uma preocupação do governo eleito e que, com o apoio de potências estrangeiras, isso deve tornar o país mais relevante ainda. 

Para o especialista, o governo de Bolsonaro isolou o país de praticamente todo o mundo. “Éramos considerados um pária, não queríamos fazer parte dos organismos multilaterais e agredíamos alguns países sem qualquer necessidade”, diz. 

Paz, da FGV, acredita que “há uma suposta preferência do capital internacional pelo Lula em detrimento ao Bolsonaro”, principalmente porque o candidato eleito tem uma maior preocupação com o meio ambiente. 

Para ele, o governo que assume no próximo ano deve se dedicar mais às questões climáticas, mas também deve fazer novos e melhores acordos comerciais de taxação e diminuir barreiras através da harmonização de regras para facilitação de mercado. “Esses acordos tendem a integrar a economia brasileira no mundo. A economia brasileira é muito pouco integrada”, pontua.

Paz concluiu que o governo do Lula, “não tanto pelo mérito dele, mas pelo demérito do Bolsonaro, tem mais chances de trazer mais recursos para o Brasil num futuro próximo”, mas que “o Brasil vai ter que trabalhar muito para se tornar um dos emergentes mais confiáveis e mais sólidos”. 

Reflexos das políticas externas na economia 

16/11/2022 REUTERS/Emilie Madi

Dutra, da FAAP, afirma que acordos de relação e a volta de investimentos de grandes potências ao Fundo Amazônia, por exemplo, podem elevar o valor do real. Isso porque as medidas podem atrair capital estrangeiro ao país. Com mais dólares entrando na economia brasileira e mais busca por real, o câmbio tende a ser impactado.

O especialista acrescenta que, com a moeda estrangeira em baixa, o país pode comprar os produtos do exterior mais baratos, o que tende a provocar queda na inflação. “Valorizando a nossa moeda, temos a possibilidade de importar insumos que [hoje] estão caros de forma mais barata e isso impacta positivamente na redução de preços”, comenta. 

Além disso, ele lembra que a diminuição da pressão inflacionária dá uma folga para o Banco Central reduzir a taxa de juros.

Políticas externas para os próximos anos

No plano de governo de Lula, as propostas descritas são: defender a integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, para manter a segurança regional e a promoção de um desenvolvimento integrado da região; fortalecer novamente o Mercosul, a Unasul, a Celac e os Brics; defender os direitos de brasileiros no exterior; reconstruir o relacionamento com a Cooperação Sul-Sul; e ampliar a participação nos assentos dos organismos multilaterais.

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta, que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária no mundo”, disse Lula em seu primeiro discurso após conquistar a presidência. 

Ele citou que o país vai “reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade“, para que os investidores nacionais e estrangeiros voltem a ter confiança no território. Além disso, ele mencionou uma retomada das parcerias com os Estados Unidos e com a União Europeia em novas bases.

Líderes mundiais reconhecem eleição 

Após Lula ter conquistado o posto de presidente do Brasil na última eleição, líderes mundiais reconheceram rapidamente a vitória do candidato e o parabenizaram por meio de notas oficiais e publicações em redes sociais. 

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, foi um dos primeiros a se pronunciar no Twitter (TWTR34). 

“Envio meus parabéns a Luiz Inácio Lula da Silva por sua eleição para ser o próximo presidente do Brasil após votações livres, justas e críveis. Estou ansioso para trabalharmos juntos para continuar a cooperação entre nossos dois países nos próximos meses e anos”, escreveu.

No dia seguinte, Lula divulgou que entrou em contato com Biden para discutir o fortalecimento da democracia, meio ambiente e da cooperação entre Brasil e EUA.

Emmanuel Macron, presidente francês, também deu os parabéns a Lula e disse que o Brasil e a França podem unir suas forças e enfrentar desafios comuns. 

Posteriormente, eles ainda conversaram por telefonema. Macron compartilhou um trecho da conversa no Twitter. 

Alberto Fernández, presidente da Argentina, foi mais um líder que brevemente se pronunciou pelo Twitter após a vitória de Lula. 

“Parabéns @LulaOficial! Sua vitória abre um novo tempo para a história da América Latina. Um tempo de esperança e futuro que começa hoje. Aqui você tem um parceiro para trabalhar e sonhar alto com a boa vida de nossos povos”, escreveu.

O presidente da Argentina ainda chegou a vir ao Brasil para cumprimentar o candidato eleito. 

Para Dutra, da FAAP, a rapidez com que os chefes de Estado entraram em contato com o presidente Lula significa que eles desejam que o Brasil volte a integrar a agenda econômica mundial

“​​Esses países não querem mais que o Brasil fique fora porque eles têm muito a perder. A nossa relevância tanto para o comércio quanto para a produção mundial é grande”, pontua. 

Entre outros presidentes, Vladimir Putin, da Rússia; Volodymyr Zelenskyy, da Ucrânia; Pedro Sánchez, da Espanha; António Costa, de Portugal; Nito Cortizo, do Panamá; Luis Lacalle Pou, do Uruguai; Luis Alberto Arce Catacora, da Bolívia; Miguel Díaz-Canel Bermúdez, de Cuba; Nicolás Maduro, da Venezuela; Guillermo Lasso, do Equador; Pedro Castillo Terrones, do Peru; Umaro Sissoco Embaló, da Guiné Bissau; e Alejandro Giammattei, da Guatemala; também parabenizaram Lula. 

O presidente eleito ainda recebeu o cumprimento de outras categorias de líderes, como Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido; Heiko Thoms, embaixador da Alemanha no Brasil; Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália; Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá; Philip Brave Davis, primeiro-ministro de Bahamas; Mia Amor Mottley, primeira-ministra de Barbados; Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia; Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS); e mais. 

Relações com o exterior no governo Bolsonaro

07/03/2020 REUTERS/Tom Brenner

Do ponto de vista de Paz, da FGV, o governo Bolsonaro não realizou políticas externas, apenas se alinhou por um tempo com os Estados Unidos, mas teve sua proposta naufragada com a saída de Donald Trump da presidência da maior potência mundial.

Além disso, ele cita que os poucos encontros de Bolsonaro com outros líderes, como Putin e Mahommad bin Salman, serviram apenas para mostrar que eles não estavam isolados do mundo

Para Dutra, da FAAP, o governo Bolsonaro teve esse comportamento de “pária” por acreditar na ideia de que há um grupo “globalista” que vai dominar todo o mundo, acabar com as fronteiras nacionais e subverter a ordem.

EUA criticam solidariedade de Bolsonaro à Rússia e acusa país de enfraquecer esforços diplomáticos
16/02/2022 Sputnik/Mikhail Klimentyev/Kremlin via REUTERS.

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