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Economia

Processo de sucessão de CEO na Vale teve influência política, diz ex-conselheiro

Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O ex-conselheiro da Vale José Luciano Duarte Penido afirmou em carta de renúncia ao presidente do conselho da empresa que o processo de sucessão do CEO na mineradora foi conduzido de maneira manipulada e teve influência política, segundo o documento visto pela Reuters nesta terça-feira.

Penido, que apresentou na véspera sua renúncia ao cargo no conselho, defendia a renovação do mandato do presidente executivo, Eduardo Bartolomeo, segundo uma fonte a par das discussões. Mas o conselho decidiu na última sexta-feira, por ampla maioria, manter o executivo no cargo apenas até o fim deste ano.

“Apesar de respeitar as decisões colegiadas, a meu ver o atual processo de sucessão do CEO da Vale tem sido conduzido de forma manipulada, não atende aos melhores interesses da empresa e sofre evidente e nefasta influência política”, afirmou Penido, que estava na Vale desde 2019.

Ficou decidido ainda que Bartolomeo também vai apoiar a transição para a nova liderança no início do ano que vem e atuará como advisor até 31 de dezembro de 2025, segundo a Vale. Além de Penido, apenas o conselheiro Paulo Hartung foi contra a solução encontrada, no colegiado que é formado ao todo por 13 membros, conforme a Reuters publicou anteriormente.

“A maioria foi formada no conselho de administração, cimentada por interesses específicos de alguns dos acionistas ali representados, por alguns com agendas muito pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesses.”

Procurado, o Ministério de Minas e Energia não comentou o assunto imediatamente. Não foi possível falar imediatamente com Penido.

Ao final da carta, Penido concluiu dizendo que o processo tem sido operado por frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos para a imprensa, “em um claro desrespeito pela confidencialidade”.

Procurada, a Vale afirmou que não iria comentar.

O processo de sucessão na Vale tem influenciado o movimento das ações da empresa, que caíram cerca de 17% no acumulado do ano até segunda-feira, enquanto o Ibovespa recuou 6%. A ação da mineradora é a de maior peso no índice.

As ações da Vale operavam perto de uma estabilidade, nesta terça-feira, por volta das 13h.

Privatizada na década de 1990, a Vale tornou-se nos últimos anos uma empresa com capital pulverizado, sem controle definido, e tem como acionistas mais relevantes a Previ, com 8,7% de participação, a Mitsui, com 6,3%, e a Blackrock, com 6%.

Procurados, Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e Mitsui não responderam imediatamente a pedidos de comentários. Já a Blackrock não pode ser imediatamente encontrada.

O desfecho pela sucessão do CEO ocorreu como uma solução para um impasse, após o conselho ficar dividido em uma reunião extraordinária anterior, quando seis conselheiros votaram a favor da recondução de Bartolomeo, seis votaram a favor da abertura de um processo de sucessão e um se absteve.

A decisão pela ampliação do mandato de Bartolomeo e por uma transição com a participação dele ocorreu após o governo ter feito críticas sobre os rumos da mineradora e ter dado sinais de que buscaria influenciar na escolha de um novo executivo. O conselho da Vale, porém, tem competência exclusiva para decidir sobre a escolha do presidente da companhia.

(Por Marta Nogueira)

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