Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) – A fabricante de cabos italiana Prysmian promoveu uma mudança em cargos executivos no Brasil e na América Latina, em momento em que prepara suas fábricas locais para uma expansão do fornecimento para o setor elétrico e para futuros parques de geração eólica offshore na região, disse a companhia à Reuters.
Raul Gil Boronat, até então CEO da Prysmian no Brasil, passou a ocupar a partir deste ano o cargo de CEO para a América Latina, sendo substituído no país por Emerson Tonon, antes vice-presidente de Operações para América Latina.
Segundo os executivos, a troca ocorre em meio à aposta da Prysmian em um novo momento para o setor de energia no mercado latino-americano, com aceleração do fornecimento de cabos para geração, transmissão e distribuição e o surgimento dos primeiros projetos de eólicas offshore, que dependem de cabos submarinos para escoar energia para consumo em terra.
“Todos estão falando da eólica offshore no Brasil, a mensagem que nós temos para o mercado, para os players, é que a cadeia de valor dos cabos está pronta amanhã”, afirmou Boronat à Reuters.
A companhia já produz no Brasil cabos submarinos, como os chamados “umbilicais” para plataformas da Petrobras, e vem investindo em suas plantas industriais no Espírito Santo para produzir cabos para usinas eólicas offshore. O grupo trouxe ao país uma linha de produção igual à de sua fábrica na Noruega, onde a geração eólica no mar é uma fonte consolidada há anos.
“Do Capex (investimento) hoje no Brasil, 50% está sendo direcionado para esse negócio. São mais ou menos 5 milhões (de dólares) por ano de investimento para aumentar capacidade nas plantas de Vila Velha e Cariacica”, explicou Tonon.
O Brasil começou a discutir nos últimos anos a exploração de eólicas no mar como uma nova fronteira para a geração de energia elétrica. Segundo o Ibama, quase cem projetos para usinas na costa brasileira já ingressaram com pedido de licenciamento ambiental, somando 234 gigawatts (GW) de potência.
A atividade, porém, ainda carece de um marco regulatório no Brasil, o que impede o andamento dos projetos. A Câmara dos Deputados chegou a aprovar um texto no fim do ano passado, mas a inclusão de uma série de “jabutis” — temas sem relação direta — trouxe grande apreensão no setor elétrico, principalmente por seu impacto sobre a conta de luz.
“Gostaríamos de um pouco mais de velocidade e agilidade nas concessões, nos leilões”, disse o CEO para a América Latina.
O governo vinha trabalhando para realizar primeiro um leilão de cessão do uso de áreas marítimas, para que as empresas interessadas possam seguir com o desenvolvimento dos parques antes de um eventual segundo leilão para contratação de energia.
Embora as eólicas no mar brasileiro devam começar a operar apenas no médio prazo, os executivos da Prysmian ressaltaram a importância de ter fábricas preparadas desde já, uma vez que, segundo eles, os cabos representam parte importante no custo total dos projetos, de até 30%.
“Os cabos são elementos estratégicos, não se compra na prateleira… Sem uma cadeia de valor bem preparada, vai ser muito difícil fazer eólica offshore”, afirmou Boronat.
Com presença no Brasil desde 1929, inicialmente como uma subdivisão de cabos da Pirelli, a Prysmian atende principalmente os setores de energia e telecomunicações, operando sete fábricas no país, em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina e Paraná.
Nos últimos cinco anos, o grupo italiano investiu 400 milhões de reais para ampliar as unidades fabris, adquirir novos maquinários, otimizar processos produtivos e montar laboratórios.
A companhia tem visto um aumento de seus negócios no país com a forte instalação de novas usinas renováveis e os grandes leilões de transmissão para reforçar o escoamento da energia.
Outra oportunidade, dizem, é o reforço das redes de distribuição de energia, conforme as concessionárias elevam o nível de investimentos para ampliar o atendimento aos consumidores e melhorar a qualidade dos serviços prestados.
Já em telecomunicações, outra importante fonte de receita, os executivos dizem ver um cenário mais difícil para o fornecimento de fibra óptica devido a uma maior concorrência com o produto chinês.
“A nossa fábrica de fibra óptica em Sorocaba… hoje está fechada, porque com os preços que estão praticados pelos concorrentes chineses não conseguimos manter o ‘business'”, disse Boronat.
(Por Letícia Fucuchima)
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